FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL UNIDADE 1 O Desafio da Escrita Objetivos Didáticos Ao final do estudo desta Unidade de Aprendizagem, você deverá ser capaz de: 1. Descrever e diferenciar os diferentes tipos de conhecimento necessários para escrever bons textos acadêmicos; 2. Definir e diferenciar coesão e coerência textuais; 3. Explicar os diferentes recursos de progressão textual; 4. Diferenciar os principais mecanismos de coesão textual; 5. Usar os conteúdos aprendidos nesta UA em suas práticas de leitura e redação acadêmicas. Preâmbulo Iniciamos uma nova Semana de Estudos! Na Semana passada nosso foco recaiu sobre a leitura como atividade fundamental de estudantes de um curso a distância. Agora voltaremos nossa atenção para a escrita. No ensino superior lemos para aprender a escrever textos acadêmicos. A leitura não é um fim em si mesma, mas o principal meio de fundamentação, reflexão, articulação e elaboração de textos acadêmicos. Sim! Escrever é a atividade mais frequente e importante no estudo do Bacharelado em Teologia. Para escrever bem, é preciso ler bem – assim, ler e escrever andam juntas. Você precisa se comprometer em desenvolver a sua competência como pessoa que lê e escreve textos acadêmicos! Nesta Semana o nosso percurso será o seguinte: neste primeiro dia UA 1) estudaremos o desafio da escrita enquanto tal; a seguir teremos duas Uas dedicadas à escrita de diferentes gêneros textuais acadêmicos. A UA 2 mostrará a você como escrever as suas Tarefas Avaliativas (você se lembra delas, não é? Pois é. Em todas as disciplinas você terá de escrever TAs…), além de resumos e resenhas (não são gêneros textuais que pediremos a você com frequência, mas os resumos são um meio importante de estudo e pesquisa bibliográfica). 1
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL Na UA 3 estudaremos como escrever alguns dos principais gêneros textuais da comunicação e difusão do conhecimento científico (acadêmico): artigos, comunicações e pôsteres. Na UA 4 sairemos um pouco do ambiente acadêmico e conversaremos sobre como escrever gêneros textuais eclesiais: sermões e devocionais (pois é, o sermão é falado, um gênero oral, mas nunca é ruim escrever com antecedência o que se irá pregar – o Espírito Santo não ilumina improvisos…). Finalmente, na UA 5 conversaremos sobre o uso da IA (Inteligência Artificial) no estudo, pesquisa e escrita. Na FATIPI ‘não temos medo dos chatgpts da vida’, reconhecemos o valor dessas ferramentas, mas também destacaremos seus limites e aspectos éticos indispensáveis de seu uso. Bom trabalho a todas e todos! Que o Espírito de Deus encha suas mentes e corações de sabedoria, disposição e amor! 1. O DESAFIO DA ESCRITA “Não consigo colocar no papel minhas ideias. Eu sei, só não sei como dizer, como escrever, as ideias ficam embaralhadas.” Você já ouviu alguém falando algo assim? Você também já se sentiu assim e fez alguma afirmação parecida? Escrever é sempre um desafio. Como escrever e o quê escrever podem transformar-se em um grande problema. Costumo dizer a meus estudantes que muito raramente nos deparamos com algum tema sobre o qual não possuímos nenhum tipo de conhecimento. Na verdade, quando escrevemos, precisamos recorrer a “conhecimentos armazenados na memória relacionados à língua, ao saber enciclopédico, a práticas interacionais” (Koch,2009, p. 37). 1.1 Tipos de conhecimento Koch e Elias (cf. 2015, p. 32-52) defendem que há diferentes tipos de conhecimentos, os quais são ativados no processo de escrita. Por isso, nada de “deu branco” na hora de escrever! Vamos verificar os conhecimentos, conforme apresentados por essas autoras. 2
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL (a) Conhecimento linguístico Esse conhecimento tem a ver com a ortografia, a gramática, o léxico da língua portuguesa, e foi adquirido de forma livre (no dia a dia) e de modo formal (na escola). As autoras dizem que “obedecer às normas ortográficas é um recurso que contribui para a construção de uma imagem positiva daquele que escreve […]” (Elias e Koch, 2015, p. 37). É o caso da pontuação, por exemplo, que pode ser responsável pelo sentido de um texto. É ela quem substitui gestos, expressões faciais, tom de voz utilizados na fala. Tomemos como exemplo a vírgula: O texto abaixo fez parte de uma campanha publicitária da comemoração de 100 anos da Associação Brasileira de Imprensa em 2008. Veja neste link um vídeo com o mesmo texto: (https://www.youtube.com/watch?v=uWKpx5Ls1zg). A VÍRGULA A vírgula pode ser uma pausa. Ou não. NÃO, ESPERE. NÃO ESPERE. A vírgula pode criar heróis. ISSO SÓ. ELE RESOLVE. ISSO, SÓ ELE RESOLVE. Ela pode forçar o que você não quer. ACEITO, OBRIGADO. ACEITO OBRIGADO. Pode acusar a pessoa errada. ESSE, JUIZ, É CORRUPTO. ESSE JUIZ É CORRUPTO. A vírgula pode mudar uma opinião. NÃO QUERO LER. NÃO, QUERO LER. (Koch e Elias, 2015a, p.40) 3
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL Agora veja um texto bíblico (apresentado aqui) com ausência de pontuação. Observe que não só a leitura, mas também a compreensão ficam comprometidas: “Apresentaram então dois homens José chamado Barsabás que tinha o apelido de Justo e Matias em seguida fizeram esta oração Senhor tu conheces os corações de todos mostra-nos qual destes dois escolheste para ocupar neste ministério e apostolado o lugar que Judas abandonou para ir ao lugar que lhe cabia tiraram então a sorte entre os dois a sorte caiu em Matias o qual foi acrescentado ao número dos onze apóstolos” (At 1,23). O conhecimento linguístico, também explicam as autoras, refere-se às palavras (léxico) disponíveis aos falantes. Quando seu professor estiver lendo o que você escreveu, o uso de algumas palavras poderá causar boa impressão. Não estou dizendo que se deva falar difícil, mas que é importante saber que termos usar conforme requer a situação ou o gênero textual exigido. Linguístico Interacional Enciclopédico Textual (b) Conhecimento enciclopédico (ou conhecimento de mundo) Este conhecimento é aquele que você adquiriu ao longo da vida, seja cotidianamente: nas aulas de geografia, história, filosofia; nas relações familiares; ao assistir TV; nas conversas com amigos, nos debates, em 4
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL congressos, eventos e palestras, enfim! Seja deliberadamente mediante o estudo, a leitura e a pesquisa. Ao escrever um sermão, por exemplo você não só deve como precisa ativar o máximo de conhecimentos “formais e informais”; ou, se tiver de escrever sobre “A situação da mulher no século XXI”, precisará ativar seu conhecimento enciclopédico. Lembre-se de que a compreensão/interpretação dos textos pode variar de acordo com o conhecimento enciclopédico que o leitor possui. (c) Conhecimento textual Na hora de escrever é preciso considerar os diferentes modelos, ou seja, os gêneros textuais, sua organização, disposição dos conteúdos, estilo e o suporte (jornal, revista, outdoor, embalagem, livro, software, blog etc.). Os impactos ou efeitos de sentido estão ligados aos gêneros e ao suporte no qual são “entregues” ao leitor. Cada um deles possui funções específicas e os efeitos de sentido não são os mesmos. Na literatura bíblica, por exemplo, há diferentes gêneros (cartas, poesias, parábolas, narrativas de milagres, sabedoria, novela) e cada um deve ser lido considerando-se o conhecimento enciclopédico, que acabamos de ver. Neste item podemos incluir outro: a intertextualidade – que nada mais é do que um texto dentro de outro texto. Como assim? Observe a imagem: Fonte https://maeperfeita.files.wordpress.com/2013/04/couve.jpg Você reparou na sentença que serve de chamada da propaganda? Ela lembra você de alguma outra sentença? Uma pista para encontrar a fonte da sentença é dada no próprio anúncio, na frase “Entre no ritmo da”. 5
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL (d) Conhecimentos interacionais Trata-se de práticas interacionais, histórica e culturalmente constituídas. Em outras palavras, são práticas que permitem que o autor/escritor: 1) imprima no texto a sua intenção de modo que o leitor seja capaz de perceber tal propósito; 2) delimite a quantidade de informação a ser veiculada (placas, por exemplo, devem ser curtas, com pouco texto); 3) selecione linguagem apropriada/adequada à situação a fim de que se obtenha o resultado desejado. Exemplo: quando montadoras de carro realizam recall, elas utilizam linguagem que assegure credibilidade; e 4) adeque o gênero à situação comunicativa – por exemplo, recorrer ao gênero carta (que costuma ser mais informal), mas de forma solene porque a situação comunicativa assim o requer. 1.2 A progressão na escrita: escrever é avançar Sabe quando você está lendo um texto e parece que está rodando em círculos? Algo do tipo: “Os indivíduos que vivem em sociedade são determinados por ela porque a sociedade determina os indivíduos”. Puxa, nem a ideia nem a frase são boas! Na escrita, pessoal, é preciso progredir, evoluir, dar sequência às ideias. Isso contribui para o avanço do texto e para a construção de sentido. Não podemos nos esquecer de que um texto escrito tem sempre intenções, e uma delas é a de convencer o leitor a respeito de algo. Para a escrita de um bom texto, certos recursos são importantes. Apresentamos alguns, conforme propostos por Koch e Elias (2015b, p.161-169). Repetição: a recorrência de palavras pode ser um recurso, desde que haja um propósito e não leve à exaustão. Veja bem, há repetições consideradas “viciosas” e outras que são “enfáticas/retóricas”. Ao valer-se deste recurso, o autor quer produzir um efeito de convencimento (argumentativo) e estilístico. A repetição, na escrita, entretanto, se não for bem utilizada, pode sugerir falta de vocabulário e, assim, prejudicar o texto. A repetição é grande aliada das propagandas. 6
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL Paralelismo: trata-se da repetição de palavras, de estruturas sintáticas ou semânticas. Perez (2018) discute alguns outros aspectos do tema: Paralelismo é o nome que damos à organização de ideias e expressões de estrutura idêntica. Temos dois tipos de paralelismo: o sintático, relacionado aos termos de mesma estrutura sintática dentro de uma frase; o semântico, relacionado às ideias semelhantes dentro de uma frase. Exemplo de paralelismo sintático: “A preservação do meio ambiente representa não só um dever de cidadania, mas também a sobrevivência do planeta”. Os termos “não só” e “mas também” vêm para ligar dois fragmentos gramaticalmente semelhantes. É possível concluir, desta forma, que os conectivos têm papel fundamental no paralelismo sintático. A frase estaria incorreta se fosse colocada desta forma: “A preservação do meio ambiente representa não só umdever de cidadania eé para que o planeta sobreviva”. ATENÇÃO: O paralelismo é o principal recurso de progressão nos textos bíblicos (Antigo e Novo Testamentos). É usado não só para produzir significado, mas também, para ajudar na memorização e para estruturar partes de livros ou mesmo livros inteiros da Escritura. Exemplo de paralelismo semântico: “Marcos gosta de chocolate e de pipoca.” “Gostar de chocolate” e “pipoca” constituem uma frase com ideias coerentes. A situação, no entanto, fugiria do paralelismo semântico se fosse a seguinte: Marcos gosta de chocolate e de jogar futebol. Apesar de termos o paralelismo sintático, não temos o semântico. Gostar de chocolate e jogar futebol representam duas coisas diferentes, que não caberiam numa sequência semântica lógica. Reescrita (paráfrase): Este é um recurso empregado na vida acadêmica e utilizá-lo bem significa que você se tornou ou é um bom redator. Sempre que você lê um texto e precisa reescrevê-lo ou explicá-lo deve fazê-lo com suas próprias palavras. Veja bem: uma paráfrase não é uma cópia, hem! Cópia – sem 7
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL o devido crédito – é plágio! E plágio é crime! Paráfrase é uma recriação textual. Esta reformulação é sempre sinalizada por marcadores tais como: em outras palavras, dizendo de outra forma, melhor dizendo, ou melhor. Vale pontuar aqui uma outra questão: a expectativa dos professores de que o aluno seja capaz de explicar um parágrafo (uma citação) com as próprias palavras (paráfrase) e também que “dialogue” com os autores. E isso tudo acontece quando em uma produção autoral você (aluno ou aluna) recorre a um autor para ampliar, fortalecer, resumir seu argumento, dar continuidade a uma ideia/tese e não somente quando você explica uma citação. Selecionei trecho de um artigo para mostrar como o autor elabora a reescrita, como ele faz para se referir a ideias, conceitos, enfim! Perceba que ele usa aspas quando cita termo do autor ao qual se refere. Veja só: Exemplo 1: Paul Tillich, ao abordar o tema da “história”, procura verificar as hermenêu�cas sobre tal conceito que mais exercem influência sobre seu tempo. Ele assim o faz buscando uma abordagem filosófica e antropológica, como já lhe é caracterís�co. Os passos concretos dados por Tillich são: primeiramente, buscar refle�r sobre o que é a história para o ser humano; depois, destacar algumas interpretações sobre história que ele tem por inadequadas; e, por fim, discorrer acerca da interpretação de história que ele tem por adequada (Santos, 2018, p.25). Exemplo 2: Ninguém escreve história a par�r de um “lugar acima de todos os lugares”. Esta reivindicação não seria menos utópica do que a reivindicação de que estamos nos aproximando de condições sociais ideais. Toda historiografia depende tanto de ocorrências reais quanto de sua recepção por parte de uma consciência histórica concreta. Não existe história sem ocorrências factuais, e não existe história sem a recepção e interpretação das ocorrências factuais pela consciência histórica (Tillich, 2014, p. 739). Com isso, Tillich quer dizer que mesmo a pesquisa histórica mais rigorosamente acadêmica possui uma interpretação da história. Esta dualidade entre o caráter obje�vo e o subje�vo da interpretação histórica faz com que o próprio olhar de um grupo ou de uma pessoa sobre a história ganhe um caminho próprio no qual se envolvem visões caracterís�cas filosóficas, sociais e polí�cas da realidade. A esse fenômeno Tillich chama de interpretações históricas (Santos, 2018, p.25-26). 8
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL [Disp.em:htps://www.metodista.br/revistas/revistasims/index.php/COR/ar�cle/view/9087/6566 ) Acesso em 11.10.2023. Ah! Não se esqueça, avançar em um texto pode ser alcançado mediante a simples ampliação das ideias, argumentos ou partes do enredo do texto… 2. COESÃO E COERÊNCIA Um bom texto tem começo, meio e fim (você certamente já ouviu esta frase, ou a frase similar, que um texto precisa ter introdução, desenvolvimento e conclusão). Todavia, não basta ter uma estrutura que garanta o avanço. Este avanço precisa respeitar duas características indispensáveis de um bom texto: coesão e coerência. 2.1 Coesão Vamos começar pela coesão, ok? E já adianto que na vida acadêmica a gente precisa “demais da conta” deste conhecimento! Você sabe o que é coesão? Sabe que negócio é esse? Será que usamos este recurso no dia a dia? Observe a imagem. Note que as peças estão bem conectadas, alinhadas, ligadas umas às outras; uma dá continuidade à outra e juntas formam um todo, certo?! Pois bem, isso é coesão, isto é, partes que se ligam, que se conectam. E nos textos? Nos textos são as palavras, as frases, as ideias, os parágrafos que são interligados e há elementos (palavras, conectivos) que ajudam a compor o todo. Esses elementos de coesão (veremos a seguir) ajudama ligar, dar continuidade e evitar repetições. Em outras palavras, e dizendo a mesma coisa: coesão tem a ver com as conexões existentes em um texto, recursos que são como pontes entre uma ideia e outra ou ainda recursos dos quais nos valemos para evitar repetições exaustivas e dar sequência ao texto, fazendo-o avançar. 9
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL Exemplo 1: Encontrei o Pastor Paulo esta semana. O Pastor Paulo parecia aflito. O Pastor Paulo é sempre tão alegre e calmo. O Pastor Paulo disse que está cansado de igreja. Esta repetição tende a desvalorizar um texto e a indicar que o autor não recorreu aos elementos de coesão. Veja como poderia ser reescrita a mesma frase: Encontrei o Pastor Paulo esta semana e parecia muito aflito. Ele, que é sempre tão alegre e calmo, afirmou estar cansado de igreja. Observe que todos os elementos grifados apontam para o “Pastor Paulo”, que só apareceu uma vez na frase. Exemplo 2: Embora tenha corrido muito, chegou a tempo. A frase não faz sentido, pois se ele correu muito o lógico seria que tivesse chegado a tempo. Por outro lado, há coesão no texto indicada pelo termo embora, que liga as duas ideias (correr muito + chegar a tempo). Veja só: é possível haver coesão sem que haja coerência. Mecanismos de Coesão Vejamos agora alguns mecanismos que nós usamos todos os dias, sem nem saber que são “elementos de coesão”. Não vá pular, hem! E não se assuste com os termos! Só estamos dando nomes ao que já conhecemos e fazemos na prática da língua falada, mas que parece complicar na hora da escrita – e não deveria, tô certa!!? 10
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL Coesão por anáfora (ou anafórica) Coesão por catáfora (ou catafórica) Coesão por elipse (ou elíptica) Coesão por zeugma (ou zeugmática) Alguns Mecanismos de Coesão Referência a algo mencionado anteriormente no texto (antes). Exemplo: “Jesus saiu dali e foi para sua terra, e os discípulos o seguiam. Chegando o sábado, começou a ensinar na sinagoga; ao ouvi-lo, muitos se maravilhavam” (Mc 6:1-2). Todos os termos grifados retomam apenas um: Jesus. Referência a algo mencionado posteriormente no texto (depois). Exemplo: “Ainda vos digo mais (isto): se dois de vós na terra concordarem em pedir acerca de qualquer questão […]”. As palavras mais/isto = não sabemos ainda o que será anunciado/dito. Elipse é a omissão de um termo subentendido em um texto. Logo, a coesão por elipse é aquela que permite conexão de ideias sem a necessidade de repetir uma palavra ou uma expressão, já subentendida. Fazemos muito isso! Exemplo: “E apareceu a Cefas, e depois aos Doze” (1Co 15:5). Entende-se Doze apóstolos. É uma forma de elipse. Ocorre quando é feita a omissão de um termo já mencionado anteriormente. Exemplos: a) “Ele gosta de geografia; eu, de português.” (perceba que há omissão do verbo gostar); b) “Os alimentos são para o estômago, e o estômago, para os alimentos.” Após a palavra “estômago”, omitiu-se o verbo “ser”. Valores semânticos dos conectivos A coesão vale-se de diferentes conectivos a fim de ligar palavras ou ideias. A escolha dos conectivos é fundamental, pois cada um deles possui valor semântico e, portanto, são responsáveis pelo sentido que se quer dar à frase. Relembre alguns desses termos e saiba usá-los emseus textos. E aqui vai um alerta e um conselho: Não despreze os conectivos, pois eles ajudarão, e muito, em suas produções, ok? Se você quer um texto competente não pode ficar repetindo a mesma palavra ou o mesmo elemento de coesão do começo ao fim! Conectivos e valores semânticos: 1. causalidade ou de explicação: porque, uma vez que, visto que, já que, dado que, como, pois etc; 11
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL 2. condicionalidade: se, caso, desde que, contanto que, a menos que, sem que, salvo se, exceto se, a não ser que, em caso de etc; 3. temporalidade: quando, enquanto, mal, logo que, antes que, depois que, assim que, sempre que, até que, desde que, todas as vezes que, cada vez que, à medida que, à proporção que etc; 4. finalidade: para, para que, a fim de, a fim de que etc; 5. alternância: ou, ou … ou, ora … ora, seja … seja, quer … quer 6. conformidade: conforme, consoante, segundo, como, de acordo etc; com etc; 7. adição: e, também, ainda, não só … mas também, além de, nem, nem … nem, além do mais, ademais etc; 8. oposição: mas, porém, contudo, entretanto, no entanto / embora, se bem que, ainda que, apesar de etc; 9. conclusão: logo, portanto, pois, por conseguinte, então, assim etc; 10. comparação: como, feito, mais … do que, menos … do que, tanto … quanto, tal como, tal qual etc; 2.2 Coerência Comecemos com o conceito de coerência: Para Ingedore Koch (2009): “Muito se ouve falar de Coesão Textual e de Coerência Textual. Mas afinal, o que é isso? Para que um texto tenha o seu sentido completo, ou seja, transmita a mensagem pretendida, é necessário que esteja coerente e coeso. Na construção de um texto, assim como na fala, usamos mecanismos para garantir ao interlocutor a compreensão do que é dito ou lido. Em resumo, podemos dizer que a coesão trata da conexão harmoniosa entre as partes do texto, do parágrafo, da frase. Ela permite a ligação entre as palavras e frases, fazendo com que um dê sequência lógica ao outro. A coerência é a relação lógica entre as ideias, fazendo com que umas 12
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL complementem as outras, não se contradigam e formem um todo significativo que é o texto. Com esta definição em mente, preste atenção à ilustração a seguir. Tem algo errado no texto dessa placa, não tem? O que falta nele? Coerência! “Aberto todos os dias” indica que não estará fechado dia algum, certo!? E “descanso semanal”, como sabemos, significa que não há atividade de trabalho naquele dia e os estabelecimentos fecham. [http://biblioamigos2010.blogspot.com.br/] Note bem: a coerência é uma propriedade lógica, argumentativa e, por isso, os mecanismos de coerência também dependem do tipo de texto que se está lendo ou escrevendo. Um texto narrativo, por exemplo, normalmente constroi a sua coerência mediante o enredo, a caracterização adequada das personagens, a permanência de traços figurativos, etc. Um texto descritivo será incoerente se apresentar traços da descrição que não combinam entre si. Por exemplo: “A rua estava vazia, afinal de contas já era madrugada. Era uma rua tranquila, nunca se via gente passando por ela. Pequena, em sua grande extensão as casas se apinhavam, sem espaços entre elas. Enfim, devemos nos lembrar também que existe outro tipo de coerência: a coerência ética, ou existencial. Não são apenas os textos que devem ser coerentes. Pessoas também precisam ser coerentes em seu modo de viver. Vejam, por exemplo, como Jesus fala sobre coerência na vida diária: 15 Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados em ovelhas, mas por dentro são lobos roubadores. 16 Pelos seus frutos os conhecereis. Colhem-se, porventura, uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? 17 Assim, toda árvore boa produz bons frutos, porém a árvore má produz frutos maus. 18 Não pode a árvore boa produzir frutos maus, nem a árvore má produzir frutos bons. 19 Toda árvore que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo. 20 Assim, pois, pelos seus frutos os conhecereis. 13
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL 21 Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus. 22 Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não fizemos muitos milagres? 23 Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a iniquidade. 24 Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e as pratica será comparado a um homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha; 25 e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu, porque fora edificada sobre a rocha. 26 E todo aquele que ouve estas minhas palavras e não as pratica será comparado a um homem insensato que edificou a sua casa sobre a areia; 27 e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruína. (Mt 7,15-27) ATENÇÃO: Escrever bons textos é indispensável na vida acadêmica, textos coesos e coerentes. Na vida cristã, a coerência ética, espiritual é indispensável. São duas formas de coerência que podem, sim, andar juntas em sua vida! Referências KOCH, Ingedore V; ELIAS, Vanda M. Ler e Compreender os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2015a. KOCH, Ingedore V; ELIAS, Vanda M. Ler e Escrever: estratégias de produção textual. São Paulo: Contexto, 2015b. KOCH, Ingedore. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 2009. 14
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL UNIDADE 2 – Escrevendo Tarefas Avaliativas, Resumos e Resenhas Objetivos Didáticos Ao final do estudo desta Unidade de Aprendizagem, você deverá ser capaz de: 1. Definir o gênero textual ensaio e seu uso no Bacharelado em Teologia da FATIPI; 2. Explicar o que é indispensável em suas Tarefas Avaliativas; 3. Definir e diferenciar resumo e resenha; 4. Descrever o passo-a-passo da elaboração de resumos e resenhas; 5. Usar os conteúdos aprendidos nesta UA em suas práticas de leitura e redação acadêmicas. Preâmbulo Mais de uma vez temos falado com vocês sobre a importância da escrita em cursos superiores. Em nosso Bacharelado em Teologia a situação não é diferente. Você, como protagonista de seu próprio aprendizado, como pessoa em construção de autonomia, terá o prazer e privilégio de escrever, escrever, escrever… Nesta UA 2 o nosso foco recairá sobre três gêneros textuais do texto de tipo dissertativo-argumentativo: o ensaio, o resumo e a resenha. Resumos e resenhas não são textos que pediremos a vocês com frequência, mas resumos (e os antigos fichamentos) são textos que você deverá escrever para si mesma, como parte de seu processo de estudo e pesquisa bibliográfica para as monografias e TCCs. Ensaios, porém, são o gênero textual que você utilizará com frequência. Em praticamente todas as disciplinas você deverá elaborar um ensaio, que, do ponto de vista pedagógico, chamamos de Tarefa Avaliativa. Este será o tópico principal desta UA, que também abrangerá os resumos e resenhas (nos Materiais Complementares você encontrará dicas sobre fichamentos). 1
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL 1. Tarefa Avaliativa Em todas as disciplinas de nosso curso você encontrará uma atividade de fixação de aprendizagem (e de avaliação) nomeada Tarefa Avaliativa (doravante TA). Em que consiste uma TA? Conforme indicamos no Manual do Discente, a TA é um ensaio. Ensaio é o nome dado a um gênero textual acadêmico (não confunda com o sentido de ‘ensaio’ nas performances musicais e teatrais, embora o uso desta palavra para indicar um gênero textual aponte para uma espécie de incompletude, de provisoriedade). Podemos começar nossa reflexão sobre o ensaio com uma definição deste gênero textual: É uma exposição metódica dos estudos realizados e das conclusões originais a que se chegou, após apurado exame de um assunto. Um ensaio pode ser formal – caracterizase pela seriedade dos objetivos e lógica do texto, uso da primeira pessoa, brevidade e serenidade, deixando de lado a polêmica e o tom enfático – e informal – marcado pela liberdade criadora e pela emoção. (BARROS, Susane; ROSA, Flávia; RIBEIRO, Elizabeth M. Princípios e técnicas para elaboração de textos acadêmicos. Salvador: UFBA, 2017. p. 49, negrito das autoras) Analise comigo a definição. Em seu início, afirma: “é uma exposição metódica dos estudos realizados e das conclusões originais a que se chegou, após apurado exame de um assunto”. Veja se você também vê o que eu vejo: esta definição não me ajuda a diferenciar o ensaio de outros gêneros acadêmicos como a monografia, ou o artigo. Estudo Ensaio Apropriação Pessoal 2
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL Mais útil é a distinção entre ensaio formal e informal. Mesmo assim, a definição ainda é ambígua. No caso do ensaio formal o que me parece mais útil é: “uso da primeira pessoa, brevidade e serenidade, deixando de lado a polêmica e o tom enfático.” Ou seja, ao escrever a sua TA, você não precisa seguir a regra acadêmica (adotada em algumas Universidades, mas não em todas) de escrever na terceira pessoa, para criar o efeito de objetividade que se deseja em textos científicos. Ademais, a sua TA não precisa incluir um debate entre distintas visões acadêmicas sobre o mesmo assunto – ou seja, o ensaio é uma forma ‘anterior’ ao artigo e à monografia (dissertação e tese), pois não precisa demonstrar que você conhece e debate com as principais referências bibliográficas do assunto em questão. Finalmente, a sua TA não precisa ter um tom enfático, de certeza certa e absoluta. É um ensaio, você pode apresentar conclusões provisórias, você pode afirmar o caráter tentativo, usando sentenças como: “é possível que …”, “uma forma viável de entender …”. Ao dizer isto, estou indicando a você que a TA, enquanto ensaio, é do tipo formal, ou seja, a sua TA não pode ser marcada exclusivamente “pela liberdade criadora e pela emoção”. É preciso, porém, sermos mais específicos. Recorro ao diálogo com outro colega pesquisador, que, ao invés de definir, apresenta as características de um ensaio: a) É um estudo, uma investigação, uma reflexão, etc. O ensaio parece conter em suas entranhas o caráter de provisoriedade, de proposta, de algo que não possui a pretensão de acabamento. A palavra ensaio parece indicar essa condição; b) É um estudo formalmente desenvolvido, dentro de padrões mais ou menos formais; mais flexível que um tratado, por exemplo. Mesmo que seu estilo se aproxime do literário, o ensaio é elaborado, isto é, não é o espontâneo nem o caótico, mas formalmente apresentado a partir de determinados padrões; c) O ensaio, COMO texto, pode ser de natureza literária, científica e filosófica. Entre todos os gêneros textuais, é aquele que melhor possui trânsito entre a filosofia, a ciência e a crítica; d) Deve a exposição do assunto ser lógica, mesmo adotando o estilo livre, isto é, sem seguir os passos de uma 3
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL análise detalhada ou uma demonstração exaustiva, o ensaio expõe a matéria com racionalidade, mesmo quando utiliza a linguagem poética; e) Tem o ensaio, apesar da diversidade de modos de apresentação, algo em comum a eles que é o rigor de argumentação, de demonstração. O rigor, que não se confunde com a exatidão, é característica indispensável do verdadeiro ensaio; f), O rigor típico do ensaio aparece aliado, quase sempre, ao estilo de interpretação e de julgamento pessoal. Sem ser subjetivo, o ensaio não abole o espaço da subjetividade como pretende fazer o tratado ou o artigo científico. g) O rigor, a interpretação e o julgamento pessoal do autor pressupõem que haja maior liberdade de expressão, liberdade que a maioria dos gêneros não possuem. A liberdade consiste em poder defender uma posição sem o apoio empírico, documentos ou outros recursos metodológicos; h) requer o ensaio, tendo em vista esse conjunto de características, que o autor tenha informação cultural e maturidade intelectual. Nesse sentido, é um gênero difícil de elaborar, pois, a liberdade de estilo, de ritmo, de expressão exige sutileza e equilíbrio. Essas características gerais não esgotam as possibilidades de descrição do ensaio como gênero textual, mas servem para esboçar seu perfil, especialmente quando o ensaio formal, com objetivos informativos, especulativos, críticos, didáticos, não se confunde com o ensaio informal subjetivo ou espontâneo. (PAVIANI, Jayme. O Ensaio como Gênero Textual. Comunicação apresentada no V SIGET. Simpósio Internacional de Estudos de Gêneros Textuais. Caxias do Sul, agosto de 2009, p. 4. as ênfases são dele) Que tal você analisar esta descrição e escrever quais são as suas características mais importantes para você elaborar os seus ensaios (TAs)? Você pode interagir com seus e suas colegas no Fórum desta Semana, contribuindo com a sua reflexão sobre a descrição de ensaio feita por Paviani. 4
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL Destacarei o que nós, na FATIPI, consideramos ser indispensável ao seu ensaio (TA): ele deve ser fruto do estudo sério, mas “algo que não possui a pretensão de acabamento”. Porque é estudo, apresenta um “rigor, que não se confunde com a exatidão”, “o rigor típico do ensaio aparece aliado, quase sempre, ao estilo de interpretação e de julgamento pessoal. Sem ser subjetivo, o ensaio não abole o espaço da subjetividade como pretende fazer o tratado ou o artigo científico”, e mais: “o rigor, a interpretação e o julgamento pessoal do autor pressupõem que haja maior liberdade de expressão, liberdade que a maioria dos gêneros não possuem. A liberdade consiste em poder defender uma posição sem o apoio empírico, documentos ou outros recursos metodológicos”. Em outras palavras, para escrever a sua TA você deve utilizar os conteúdos estudados e aprendidos durante a Semana da disciplina, incluindo materiais complementares (se houver). Não se trata de mera opinião, mas de opinião rigorosa, estudada, reflexiva, com base em conteúdos acadêmicos. Só não precisa de uma demonstração de validade que não pode faltar em monografias, artigos científicos, dissertações e teses. 2. Resumo e Resenha 2.1. Definindo Certamente você já escreveu alguns resumos em sua experiência escolar, então você já tem em mente uma noção do que seja um resumo. Por isso, peço a você um minutinho para escrever a sua definição de um bom resumo. Escreva-a (à mão ou em arquivo no seu computador), guarde-a e, ao final desta conversa, avalie o que você escreveu. Para início de conversa, precisamos lembrar de que há vários tipos de resumo, não só o acadêmico. Quando você vê o título de um filme que lhe interessa em um provedor de streaming, por exemplo, esse título é acompanhado de um resumo do filme – mais comumente chamado, porém, de sinopse. Se você não se satisfaz com a sinopse do provedor, você poderá procurar a crítica de um filme em sites especializados – essa crítica é também 5
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL um resumo do filme, mas se diferencia da sinopse na medida em que há a apreciação do filme por uma pessoa (especializada ou não), que emite seu parecer sobre a qualidade do filme. Esse mesmo tipo de informação você pode encontrar em relação a livros. Por exemplo, em vários livros você encontrará um resumo (sinopse) na contracapa ou nas orelhas das capas. Poderá, também, encontrar resumos propagandísticos na contracapa, escritos por pessoas que leram o livro e apresentam algumas de suas qualidades a fim de ajudar a convencer uma pessoa a comprá-lo. São resumos, mas de tipo diferente: são resumos propagandísticos, informativos (no caso do resumo feito pela editora, podemos também o chamar de sinopse). Em artigos acadêmicos você normalmente encontrará um resumo do conteúdo logo no início. Esse resumo é chamado também de abstract – uma palavra inglesa que pode ser traduzida por resumo. Ah! Em muitas revistas, além do abstract, o artigo também é sumariado por palavras-chave, que servem para indexar o artigo em sites especializados e para ajudar a decidir se o artigo vale a pena ser lido. Em algumas revistas, ao invés de abstract, você poderá encontrar a palavra sumário. Veja três definições de sumário no Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa: sm 1 Resumo dos pontos principais de uma matéria; recapitulação, suma: “[…] outras gravações e revelações esparsas que volta e meia aparecem na imprensa, achei necessário fazer uma espécie de sumário do caso a partir de sua participação na perícia oficial do desastre” (CA). 2 Indicação em poucas linhas, no princípio de um capítulo ou seção, do assunto nele tratado; resumo. 3 BIBL Enumeração das principais divisões (títulos, seções etc.) seguindo a mesma ordem em que aparecem numa obra ou documento, geralmente com a indicação do número de página em que estas se encontram; índice de matéria, índice sinóptico, tábua de matéria. (Sumário | Michaelis On-line (uol.com.br) Acesso em 12.12.2023) 6
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL Em textos acadêmicos a palavra sumário é usada mais frequentemente no sentido 3 BIBL acima (toda monografia, por exemplo, precisa ter um sumário, neste sentido, para ajudar na localização de seções no texto). Você se lembra da ABNT? Pois é, há uma norma para a apresentação de resumos e resenhas, é a NBR 6028 de 2003. Vejamos as definições presentes na Norma: 2 DEFINIÇÕES PARA OS EFEITOS DESTA NORMA, APLICAM-SE AS SEGUINTES DEFINIÇÕES: 2.1 PALAVRA-CHAVE: PALAVRA REPRESENTATIVA DO CONTEÚDO DO DOCUMENTO, ESCOLHIDA, PREFERENTEMENTE, EM VOCABULÁRIO CONTROLADO. 2.2 RESUMO: APRESENTAÇÃO CONCISA DOS PONTOS RELEVANTES DE UM DOCUMENTO. 2.3 RESUMO CRÍTICO: RESUMO REDIGIDO POR ESPECIALISTAS COM ANÁLISE CRÍTICA DE UM DOCUMENTO. TAMBÉM CHAMADO DE RESENHA. QUANDO ANALISA APENAS UMA DETERMINADA EDIÇÃO ENTRE VÁRIAS, DENOMINA-SE RECENSÃO. 2.5 RESUMO INDICATIVO: INDICA APENAS OS PONTOS PRINCIPAIS DO DOCUMENTO, NÃO APRESENTANDO DADOS QUALITATIVOS, QUANTITATIVOS ETC. DE MODO GERAL, NÃO DISPENSA A CONSULTA AO ORIGINAL. 2.6 RESUMO INFORMATIVO: INFORMA AO LEITOR FINALIDADES, METODOLOGIA, RESULTADOS E CONCLUSÕES DO DOCUMENTO, DE TAL FORMA QUE ESTE POSSA, INCLUSIVE, DISPENSAR A CONSULTA AO ORIGINAL. Que tipo de resumo (com exceção da resenha) é o que você deve usar preferencialmente em trabalhos acadêmicos? Sua escolha deveria recair sobre o resumo informativo, pois quando um docente pede resumo de uma obra (e.g.: artigo, capítulo de livro, verbete ou livro), ele ou ela está pedindo mais do que indicações sobre o conteúdo da obra. Em cursos de nível superior (graduação e pós-graduação), espera-se de estudantes que façam bons resumos informativos. Uma dica: preste atenção às definições 2.5 e 2.6 e escreva, para você mesmo, o que diferencia um resumo indicativo de um informativo. Finalmente, o que é uma resenha? Segundo a ABNT, “resumo redigido por especialistas com análise crítica de um documento. Também chamado de resenha” (2.3). Note bem – redigido por especialistas. Ou seja, a resenha não 7
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL é um gênero acadêmico próprio para estudantes de graduação. Para fazer uma boa resenha a pessoa precisa ser especialista no assunto da obra a ser resenhada. Todavia, há docentes que, para ajudar estudantes a se prepararem para o futuro, solicitam resenhas como atividade de avaliação e fixação de aprendizagem. Em casos assim, é claro, a avaliação que docentes farão da resenha leva em conta o grau de formação de quem a escreveu. Resumo Resenha • Síntese • Informação • Síntese • Informação • Crítica O que diferencia a resenha de resumos é a análise crítica de um documento. Que é análise crítica? Além de resumir o conteúdo da obra resenhada, quem escreve uma resenha deve: (a) indicar as fontes da obra e situá-la no campo disciplinar a que ela pertence; (b) indicar os pontos fortes e fracos da argumentação e das conclusões presentes na obra; (c) fazer uma apreciação do valor e da importância da obra no seu campo disciplinar; (d) apresentar o autor ou autora da obra enfatizando seu lugar no campo disciplinar; e(e) fazer comentários genéricos sobre a obra (pode falar sobre a materialidade [se livro, por exemplo, o tipo de encadernação, fonte do texto e outros], sobre a acessibilidade, sobre a estética da obra e outros tipos de comentários. 8
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL 2.2. Escrevendo Resumos e Resenhas Já estudamos o que são o resumo e a resenha. Agora precisamos conversar sobre os passos necessários para elaborar resumos e resenhas. Começo com o resumo. 1. Faça a identificação da obra. Se for um livro, por exemplo identifique os seus elementos fundamentais, quais sejam, título, autor, local e data de publicação, editora ou editoras. Estes dados são indispensáveis para a referenciação da obra no resumo entregue conforme as normas da ABNT, mas também ajudam você a situar o livro em seu universo discursivo, que delimita a sua interpretação. Faça o mesmo procedimento para um artigo: título, autor, local e data de publicação, título da Revista, instituição publicadora (pode ser uma Universidade, um Programa de Pós-Graduação, uma editora etc.). 2. Leia a obra cuidadosamente, fazendo anotações à medida que avança. Concentre-se nos pontos-chave, nas ideias principais, nos argumentos relevantes, nas fontes e citações presentes e no modo como se desenvolve a estrutura da obra. No caso de livros, por exemplo, você deve começar com o Sumário (para ter uma noção geral dos temas tratados) e passar para o Prefácio, ou Prólogo e a Introdução, pois são subgêneros de livros que normalmente fazem uma sinopse da obra ou a elogiam ou a recomendam. Leia capítulo a capítulo, prestando atenção aos subtítulos e seções nas quais o capítulo é composto. Note as ideias principais, as fontes utilizadas, as conclusões extraídas – note e anote para usar depois na escrita do resumo propriamente dito. No caso de artigos, comece com a sinopse ou abstract e palavras-chave e faça o mesmo que fez com os capítulos de um livro. Siga as subdivisões ou os temas apresentados, note e anote. Caso tenha dúvidas ou já veja algum aspecto crítico, não deixe de anotar. 3. Seguindo o fluxo temático da obra, faça o resumo de cada capítulo (livro) ou seção (artigo). Preste atenção aos títulos das seções e subseções pois eles indicam os temas discutidos. Note como o conteúdo vai crescendo ao longo da estrutura da obra e verifique se esse crescimento é linear, dialético, cíclico ou de outro arranjo estrutural. 9
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL Neste momento é importante compreender o texto, não é hora ainda de dialogar criticamente com o texto, mas você deve ser atento e crítico em sua leitura, para efetivamente compreender o que a obra propõe. ATENÇÃO: CUIDADO COM O HÁBITO DE REALÇAR PARTES DO TEXTO (COM CANETAS OU USANDO RECURSOS DE LEITORES DIGITAIS). ALÉM DE VOCÊ PRECISAR DE UM SISTEMA DE REALCES, NÃO DEIXE DE ANOTAR (ESCREVER) TRECHOS IMPORTANTES DO TEXTO SOB RESUMO. É FÁCIL SE PERDER NOS REALCES DE UM TEXTO… 4. Para compreender bem uma obra acadêmica você precisa situá-la no seu universo discursivo. De que instituição o autor ou autora faz parte? Há indicativos da pesquisa mais ampla em que a pessoa está envolvida? Você consegue discernir qual é a tendência ou corrente teórica da disciplina científica a que a obra pertence? Note se o uso das fontes é adequado, se as fontes são atualizadas, se as principais obras do campo são adequadamente utilizadas. 5. Indique o estilo e o uso da linguagem na obra: o texto é claro, conciso e abrangente? O uso de termos técnicos é consistente ou não? A linguagem utilizada é adequada aos objetivos e público-alvo da obra? 6. O resumo não é uma resenha, mas você pode apresentar a sua apreciação da obra, inserindo suas próprias impressões e avaliação. Analise o impacto da obra sobre seu estudo ou sua pessoa e indique como a obra se relaciona com seus conhecimentos prévios e experiências pessoais. 7. Escreva o resumo propriamente dito, ressaltando os principais assuntos, argumentos, fontes e teses ou conceitos expostos na obra. Apresente sua visão da obra, sem necessidade de descer aos detalhes críticos de uma resenha. 8. Faça uma revisão do seu resumo, notando eventuais erros gramaticais, ortográficos e de coesão ou coerência. Certifique-se de que ele 10
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL seja claro e conciso e usa a linguagem acadêmica apropriada à disciplina científica. 9. Formate o seu resumo seguindo as normas da ABNT conforme sintetizadas em nosso Manual de Normas. DICA: Um bom resumo deve ser objetivo, sucinto e transmitir as informações essenciais da obra, ajudando os seus leitores na eventual leitura da obra resumida. Se você está fazendo o resumo para seu próprio consumo, não deixe de seguir as orientações acima, inclusive as de formatação, para treinar e estar preparado para usá-las quando elaborar trabalhos mais complexos. Agora vai ser mais fácil mostrar o passo a passo de uma resenha, pois ele é idêntico ao do resumo, com exceção da seção crítica: 1. Faça a identificação da obra. Se for um livro, por exemplo identifique os seus elementos fundamentais, quais sejam, título, autor, local e data de publicação, editora ou editoras. Estes dados são indispensáveis para a referenciação da obra no resumo entregue conforme as normas da ABNT, mas também ajudam você a situar o livro em seu universo discursivo, que delimita a sua interpretação. Faça o mesmo procedimento para um artigo: título, autor, local e data de publicação, título da Revista, instituição publicadora (pode ser uma Universidade, um Programa de Pós-Graduação, uma editora etc.). 2. Leia a obra cuidadosamente, fazendo anotações à medida que avança. Concentre-se nos pontos-chave, nas ideias principais, nos argumentos relevantes, nas fontes e citações presentes e no modo como se desenvolve a estrutura da obra. No caso de livros, por exemplo, você deve começar com o Sumário ou Índice (para ter uma noção geral dos temas tratados) e passar para o Prefácio, ou Prólogo e a Introdução, pois são subgêneros de livros que normalmente fazem uma sinopse da obra ou a elogiam ou a recomendam. Leia 11
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL capítulo a capítulo, prestando atenção aos subtítulos e seções nas quais o capítulo é composto. Note as ideias principais, as fontes utilizadas, as conclusões extraídas – note e anote para usar depois na escrita do resumo propriamente dito. No caso de artigos, comece com a sinopse ou abstract e palavras-chave e faça o mesmo que fez com os capítulos de um livro. Siga as subdivisões ou os temas apresentados, note e anote. Caso tenha dúvidas ou já veja algum aspecto crítico, não deixe de anotar. 3. Seguindo o fluxo temático da obra, faça o resumo de cada capítulo (livro) ou seção (artigo). Preste atenção aos títulos das seções e subseções pois eles indicam os temas discutidos. Note como o conteúdo vai crescendo ao longo da estrutura da obra e verifique se esse crescimento é linear, dialético, cíclico ou de outro arranjo estrutural. Neste momento é importante compreender o texto, não é hora ainda de dialogar criticamente com o texto, mas você deve ser atento e crítico em sua leitura, para efetivamente compreender o que a obra propõe. Identificar Criticar Ler Situar Indicar Resumir Escrever Revisar 4. Para compreender bem uma obra acadêmica você precisa situá-la no seu universo discursivo. De que instituição o autor ou autora faz parte? Há indicativos da pesquisa mais ampla em que a pessoa está envolvida? Você consegue discernir qual é a tendência ou corrente teórica da disciplina 12
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL científica a que a obra pertence? Note se o uso das fontes é adequado, se as fontes são atualizadas, se as principais obras do campo são adequadamente utilizadas. 5. Indique o estilo e o uso da linguagem na obra: o texto é claro, conciso e abrangente? O uso de termos técnicos é consistente ou não? A linguagem utilizada é adequada aos objetivos e público-alvo da obra? 6. Aqui temos a principal diferença! Esta é a seção mais importante de uma resenha acadêmica. Avalie a obra criticamente, considerando: (a) coesão e coerência textuais; (b) validade e logicidade dos argumentos. (c) apresentação de evidência sólida para sustentar as conclusões e teses, (d) verifique se a metodologia utilizada é apropriada e reconhecida no campo disciplinar, (e) situe a obra no seu universo discursivo acadêmico, (f) aponte os pontos fortes e fracos da obra e informe se e qual é a sua contribuição significativa para o campo de estudo. 7. Escreva a resenha propriamente dita, ressaltando os principais assuntos, argumentos, fontes e teses ou conceitos expostos na obra. 8. Faça uma revisão da resenha, notando eventuais erros gramaticais, ortográficos e de coesão ou coerência. Certifique-se de que ela seja clara, concisa, abrangente e usa a linguagem acadêmica apropriada à disciplina científica. 9. Formate a resenha seguindo as normas da ABNT conforme sintetizadas em nosso Manual de Normas. ATENÇÃO: Faça amizade com as normas de redação da ABNT. Trate-as com carinho e elas não atrapalharão você em sua escrita de textos acadêmicos! 13
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL UNIDADE 3 – Escrevendo Artigos, Comunicações e Pôsteres Objetivos Didáticos Ao final do estudo desta Unidade de Aprendizagem, você deverá ser capaz de: 1. Definir evento acadêmico e explicar a sua importância para a vida estudantil; 2. Reconhecer as principais Associações e Instituições promotoras de eventos acadêmicos no campo da Teologia; 3. Descrever como se cadastrar para apresentar trabalhos em eventos acadêmicos; 4. Definir os gêneros textuais artigo, comunicação e pôster; 5. Descrever o passo-a-passo da elaboração de artigos acadêmicos; 6. Usar os conteúdos aprendidos nesta UA em suas práticas de leitura e redação acadêmicas. Preâmbulo Até agora falamos sobre trabalhos que você apresenta para a própria FATIPI. Passaremos a conversar sobre trabalhos que você pode apresentar fora dos limites do Bacharelado da FATIPI, seja em Eventos Científicos (Acadêmicos), seja em Revistas especializadas. Por que apresentar trabalhos ou publicar artigos? Porque são atividades indispensáveis para você construir a sua carreira acadêmica (e/ou profissional). O Bacharelado é apenas o ponto de partida da vida formal de estudos e você deve se preparar para continuar estudando se seguir uma carreira profissional (ou ministerial) no campo acadêmico e profissional da Teologia (e das Ciências da Religião). Você poderá desejar cursar Programas de Mestrado e Doutorado para se aperfeiçoar em sua área de atuação. Existem dois tipos de Mestrado e Doutorado no Brasil que podem ser interessantes para você. Caso queira seguir uma carreira acadêmica (docente e/ou pesquisadora), você deverá cursar 1
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL Mestrado (e Doutorado) acadêmico. Se a sua opção for pela carreira ministerial ou profissional, o ideal são os programas profissionais. Qual é a principal diferença entre esses dois tipos de Programa de Pós-Graduação stricto sensu? Segundo a CAPES: “o mestrado acadêmico visa, primordialmente, o preparo de profissionais para atuação na docência superior e na pesquisa acadêmica. O mestrado profissional é voltado para a capacitação de profissionais, nas diversas áreas do conhecimento, mediante o estudo de técnicas, processos ou temáticas que atendam a alguma demanda do mercado de trabalho” (https://www.gov.br/capes/pt-br/acesso-a-informacao/perguntasfrequentes/sobre-a-cap Acesso em 11.12.2023.ATENÇÃO: esta explicação vale também para os Doutorados Acadêmicos e Profissionais). A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) (https://www.gov.br/capes/pt-br/acesso-ainformacao/institucional/historia-e-missao), é uma Fundação do Ministério da Educação (MEC) (https://www.gov.br/mec/pt-br), que desempenha papel fundamental na expansão e consolidação da pósgraduação stricto sensu (mestrado e doutorado) em todos os estados da Federação. Em 2007, a formação de professores da educação básica foi incluída em suas atividades, ampliando o alcance de suas ações na formação de pessoal qualificado no Brasil e no exterior. As funções da CAPES podem ser agrupadas nas seguintes linhas de ação, cada qual desenvolvida por um conjunto estruturado de Programas: avaliação da pós-graduação stricto sensu acesso e divulgação da produção científica investimentos na formação de recursos de alto nível no país e exterior promoção da cooperação científica internacional indução e fomento da formação inicial e continuada de professores para a educação básica nos formatos presencial e a distância 2
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL 1. Eventos Acadêmicos A atividade estudantil acadêmica não se limita às atividades que compõem a matriz curricular do curso (disciplinas, estágios, atividades complementares, atividades extensivas e TCC). A pesquisa formalmente estabelecida também faz parte do estudo de graduação e é composta por duas atividades principais: a iniciação científica e a participação em eventos científicos ou acadêmicos. Eventos científicos ou acadêmicos são importantes para a difusão da pesquisa realiza nas Instituições de Ensino e nas de Pesquisa. São úteis também para a validação (formal ou informal) de linhas de pesquisa, de novas tendências em uma dada ciência ou ramos da ciência, de resultados e metodologias apresentados por docentes e discentes. São importantes também (e principalmente) porque reúnem pesquisadoras e pesquisadores, docentes e discentes para conhecimento mútuo, troca de ideias e informação, criação de grupos de trabalho e/ou de pesquisa, bem como solidificar relações pessoais e institucionais. Eventos são organizados por Instituições de Associações Ensino, Acadêmicas (temáticas ou institucionais) e demais instituições envolvidas com a pesquisa e produção de conhecimento. No campo da Teologia temos algumas associações importantes que gerenciam e promovem eventos acadêmicos como parte de seu trabalho de fomento à pesquisa e difusão do saber em nossa área. (Fonte: https://br.freepik.com/vetores-gratis/ilustrada-conferencia-medica- plana_12981394.htm#page=10&query=eventos%20academicos&position=2&fro m_view=keyword&track=ais&uuid=a42ea851-5d62-4696-8300-b761afa6ba06. Acesso em 11.2.2024) Vejamos algumas delas: 3
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL ANPTECRE – Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Teologia e Ciências da Religião (anptecre.org.br). Como o nome indica, é uma associação de programas de pós-graduação stricto sensu em Teologia ou em Ciências da Religião – mas somente programas reconhecidos pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Ensino Superior), órgão do Ministério da Educação responsável pela regulamentação e avaliação dos cursos pós-graduados no país. A ANPTECRE é uma associação civil (ou seja, não é governamental) e atua desde o ano de 2008, “congregando e representando Programas de Pós -graduação em Teologia e Ciências da Religião” (art. 4º. caput do Estatuto da ANPTECRE). Seu Congresso é um dos mais importantes da nossa área, realizado bianualmente. SOTER – Sociedade de Teologia e Ciências da Religião (soter.org.br), fundada em 1985, cuja membresia é composta por pessoas que atuam no campo Teologia e/ou da da Ciência da Religião. De acordo com os Estatutos da SOTER seus dois primeiros objetivos são: “Incentivar e apoiar o ensino e a pesquisa no campo da Teologia e das Ciências da Religião. Promover o serviço de teólogos, teólogas e cientistas da religião a comunidades e organismos eclesiais, na perspectiva da opção preferencial pelos pobres.” (soter.org.br/quem-somos-17/quem-somos-17 acesso em 24 de 4
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL novembro de 2023). Realiza um Congresso Anual, sempre no mês de julho, sediado, nos últimos anos, na PUC-MG em Belo Horizonte. (Fonte: https://blog.even3.com.br/simposio/. Acesso em 11.2.2024) ABIB – Associação Brasileira de Pesquisa Bíblica (abiblica.org.br). Fundada em 2006 por um grupo de biblistas brasileiros, também é uma associação de pessoas, cujo propósito primário é o apoio à pesquisa bíblica, mediante uma série de atividades, dentre as quais o seu Congresso, também realizado bianualmente. O nome ABIB “não é originalmente uma sigla, mas um símbolo derivado da palavra hebraica que significa primavera.” (abiblicaorg.br/novo/sobre-a-abib acesso em 24 de novembro de 2023) ABHR – Associação Brasileira de História das Religiões (abhr.com.br). Foi fundada em 1999 em assembleia geral realizada no seu primeiro evento (1º. Simpósio sobre História das Religiões). É uma associação de pessoas dedicadas ao estudo, ensino e pesquisa na área da História das Religiões. Realiza Simpósios Nacionais anuais (embora adote o nome Simpósio, o evento funciona, propriamente dito, como um Congresso). Deixei para o fim a mais antiga associação de nossa área, a ASTE – Associação de Seminários Teológicos Evangélicos (aste.org.br), fundada em 1961, por 12 (doze) Seminários de Teologia reunidos no Seminário Teológico da Igreja Metodista em Rudge Ramos, dentre os quais estava o Seminário Teológico da IPIB, atual FATIPI. A ASTE visa primariamente apoiar e desenvolver a educação teológica no âmbito das Igrejas Evangélicas, e realiza um Simpósio Anual – sempre no mês de dezembro – para discussão de temas ligados à educação. Desempenha papel importante, também, na publicação de obras teológicas, tendo sido pioneira na publicação de obras acadêmicas internacionalmente reconhecidas no campo da Teologia. 5
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL Além dos eventos realizados por associações, como já dito, também Faculdades realizam eventos acadêmicos nos quais estudantes podem participar. Cabe a você, estudante, procurar estar sempre bem-informado sobre os eventos da área e, eventualmente, participar dos mesmos – seja como assistente, seja como comunicador ou comunicadora. A FATIPI também promove eventos acadêmicos e manterá você sempre informado sobre eles. Em nossa página e através dos demais meios de comunicação do Bacharelado em Teologia EaD da FATIPI apresentaremos, também, informações sobre os principais eventos acadêmicos de nosso campo de atuação e formação. 2. Apresentando Trabalhos em Eventos Acadêmicos A participação em eventos acadêmicos (científicos) é importante para o desenvolvimento da capacidade crítica e criativa, bem como para estabelecer contatos e estar atualizado quanto ao rumo da pesquisa em nossa área disciplinar. É possível participar dos eventos apenas como ouvinte (você realiza horas de Atividades Complementares), mas é sempre mais interessante participar como apresentador(a) de trabalho. A participação pode se dar de dois modos: apresentando uma comunicação propriamente dita, ou apresentando um pôster ou relatório de pesquisa. Na sequência veja o passoa-passo para se inscrever e apresentar trabalhos em um Evento Científico. 1. Você deve, em primeiro lugar, escolher um evento científico relevante para sua área de estudo e que esteja aberto à submissão de trabalhos acadêmicos. (Se você não receber informação diretamente, faça uma busca em sites de busca da internet e pergunte por eventos acadêmicos na área de Teologia e Ciências da Religião no ano em que você quer participar. Acesse o site do(s) evento(s) localizado(s) e verifique as instruções para inscrição como participante e inscrição para apresentação de trabalhos. Siga essas instruções corretamente.) 2. Com as informações coletadas no site do Evento, você deverá escolher a Mesa ou outro momento do Evento em que você poderá apresentar 6
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL um trabalho. A ementa da Mesa determinará a sua definição do tema e do modo de apresentação do trabalho (comunicação, pôster ou relatório de pesquisa). Preste atenção aos coordenadores das Mesas, pois são as pessoas que avaliarão a sua proposta de trabalho. Informe-se sobre o tipo de pesquisa que fazem, suas publicações, onde trabalham e, a partir dessas informações, selecione mais adequadamente ainda o seu tema. Lembre-se, mesmo sendo evento científico, o seu trabalho deverá ser relevante e apropriado para o público-alvo do evento. ATENÇÃO: Todo evento pede um abstract ou sinopse do trabalho que deve ser apresentado. Portanto, ao fazer sua inscrição você já deve ter em mente o tema e o conteúdo do que irá apresentar. Alguns eventos pedem também a bibliografia que será usada no trabalho. Como estar informado sobre eventos acadêmicos? Crie o hábito de visitar as páginas das Associações e Sociedades Acadêmicas do campo da Teologia. Visite, também, as páginas dos Programas de Mestrado e Doutorado em Teologia e Ciências da Religião. Dica: O site da ANPTECRE oferece informações muito relevantes sobre eventos em nossa área. Você pode começar por ele. [Cite sua fonte aqui.] 3. O tema escolhido, é claro, deve fazer parte do seu próprio projeto de estudos – não é bom simplesmente escolher um tema qualquer e começar do zero. Revise (ou inicie) sua pesquisa sobre o tema levando em conta as informações que levantou sobre o Evento. 4. Elabore o seu trabalho (comunicação, pôster ou relatório) de acordo com as normas e especificações do evento científico. Geralmente, isso envolve uma introdução, metodologia, resultados e conclusões. 5. Escreva o texto da comunicação ou elabore o pôster ou relatório de pesquisa, seguindo as instruções de formatação exigidas pelo evento e mantenha o foco na clareza, coerência argumentativa, bibliografia atualizada e objetividade. 7
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL 6. Se o seu trabalho for uma comunicação, além do texto escrito, prepare um roteiro que destaque os pontos-chave do seu trabalho e prepare uma apresentação de slides para a Mesa (verifique, no ato da apresentação, se há recursos para isso). Atenção: é fundamental que sua apresentação se adeque ao tempo determinado pelo evento. Geralmente, estudantes de graduação tem 10 (dez) minutos para apresentar uma comunicação. Isso significa cerca de 4 (quatro) páginas escritas aproximadamente. Faça um ensaio com antecedência para verificar se você ficará dentro do tempo determinado. 7. Se você for apresentar um relatório de pesquisa ou um pôster, elabore-os de acordo com as especificações e instruções do evento. O pôster deve ser visualmente atraente e comunicar claramente os principais pontos da sua pesquisa. O relatório deve ser conciso, atraente e indicar os pontos chave de sua pesquisa. O Currículo Lattes se tornou um padrão nacional no registro da vida pregressa e atual dos estudantes e pesquisadores do país e do exterior, e é hoje adotado pela maioria das instituições de fomento, universidades e institutos de pesquisa do País. Por sua riqueza de informações e sua crescente confiabilidade e abrangência, se tornou elemento indispensável e compulsório à análise de mérito e competência dos pleitos de financiamentos na área de ciência e tecnologia. Logo, é a base curricular para análise e concessão de benefícios ou bolsas de fomento à ciência, tecnologia e inovação aos usuários (estudantes e pesquisadores) que pleiteiam apoio dos órgãos de fomento a C&T&I. (Fonte: https://www.gov.br/pt-br/servicos/cadastrar-se-no-curriculo-lattes. Acesso em 10.02.2024 ) Para consultar currículos ou para fazer o seu currículo, acesse a Plataforma Lattes: https://lattes.cnpq.br/. 8. Revise o seu trabalho e peça ajuda de seu orientador ou orientadora (de Iniciação Científica ou de Monografia) para revisar seu trabalho, antes de elaborá-lo em seu formato para apresentação. 8
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL 9. Caso seu trabalho seja um pôster, leve-o impresso ou digitalizado no formato definido pelo evento. Você deverá estar preparado para explicar a sua pesquisa às pessoas que se interessarem pelo seu pôster. Ah! Você ainda não sabe bem para que serve um pôster? Simples: para você apresentar a sua pesquisa (seja de iniciação científica ou de monografia ou artigo) e receber feedback (positivo ou não). 10. Durante o Evento, siga as instruções fornecidas pelos organizadores. Durante sua apresentação oral ou exposição do pôster, seja claro, confiante e esteja preparado para responder a perguntas. 11. A participação em eventos (com ou sem apresentação de trabalho) é fundamental para a interação com colegas da área, trocar ideias e discutir seu trabalho com colegas e especialistas na área. Em nosso mundo conectado, estabelecer uma rede de contatos é sempre importante para a sua carreira profissional ou acadêmica. 12. Após o evento, você poderá aproveitar o feedback para revisar e atualizar seu trabalho. 13. Seria bom você publicar o seu trabalho – nos Anais do Evento se houver possibilidade para tanto, ou em alguma revista científica (acadêmica) aberta a receber trabalhos de estudantes de graduação. 3. Artigos Acadêmicos 3.1. Revistas Acadêmicas De acordo com a norma ABNT 6022:2018, uma revista acadêmica ou científica é definida como “3.19 publicação periódica técnica e/ou científica publicação em qualquer tipo de suporte, editada em unidades sucessivas, com designações numéricas e/ou cronológicas e destinada a ser continuada indefinidamente”. As revistas científicas diferem de outros tipos de revistas por sua função e pelos requisitos para publicação de artigos. A CAPES desenvolveu um sistema de avaliação da qualidade de artigos científicos, mediante o qual 9
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL as revistas científicas são periodicamente classificadas de acordo com um sistema hierárquico de qualidade. Esse sistema é chamado de Qualis Periódicos.1 A avaliação da qualidade de artigos e revistas é feita periodicamente por docentes de programas de pós-graduação stricto sensu reconhecidos pela CAPES, seguindo critérios revisados também periodicamente. De acordo com o Relatório Qualis Periódicos da Área 44 (Ciências da Religião e Teologia) da CAPES: Os periódicos nacionais deverão atender, cumulativamente, aos seguintes critérios: informar o meio de publicação, impresso e/ou eletrônico, com a clara informação sobre o(s) respectivo(s) ISSN; apresentar foco/escopo e missão do periódico e sua filiação institucional; registrar os membros dos conselhos/comissões (editorial e/ou científico), identificando as suas filiações institucionais; apresentar a política editorial, com informação sobre: as seções e suas políticas; descritores; critérios e orientações de submissão, avaliação e normalização; periodicidade; indexação; critérios éticos e sobre plágio e retratação; política de acesso; formas de contato; publicar o expediente e a ficha catalográfica; apresentar a nominata no último número do volume/ano, com a relação dos avaliadores e suas filiações institucionais, informação indispensável para aferir o processo de avaliação por pares; informar sobre a(s) chamada(s) para publicação, com prazos e condições; ter um padrão de qualidade da arte da capa e da diagramação dos textos; informar sumário com título em idioma nacional e estrangeiro, identificação da autoria e vínculo institucional abreviado; informar em cada texto publicado os dados básicos: título abreviado do periódico, cidade, vol., n., período de publicação, páginas; data de submissão e aprovação, dados de titulação e filiação institucional; país de origem, e-mail para contato; tipo de texto (artigo, resenha, comunicações, entrevista…); informar de modo destacado as bases de dados, os repositórios e as bases indexadoras, devidamente identificadas com link para acesso direto ao cadastro da revista; informar o código de ética e boas práticas editoriais quanto a retratação de artigos, resolução de conflitos de interesses, manutenção da integridade acadêmica do periódico, decisões editoriais, confidencialidade e transparência dos processos editoriais. 1 A CAPES também desenvolveu um sistema de avaliação da qualidade de livros, o QUALIS Livros. 10
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL Para acessar os Documentos Qualis Periódicos, você deve consultar: https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/veiculoPublic acaoQualis/listaConsultaGeralPeriodicos.jsf. 3.2. Escrevendo Artigos Acadêmicos Atente a esta explicação sobre a natureza de um artigo científico: Destinados especificamente a serem publicados em revistas e periódicos científicos, esta modalidade de trabalho tem por finalidade registrar e divulgar, para público especializado, resultados de novos estudos e pesquisas sobre aspectos ainda não devidamente explorados ou expressando novos esclarecimentos sobre questões em discussão no meio científico. O artigo tem a estrutura comum ao trabalho científico em geral, mas quando relacionado aos resultados de uma pesquisa, deve destacar os objetivos, a fundamentação e a metodologia desta, seguindo-se a análise dos dados envolvidos e as conclusões a que se chegou, completando-se com o registro das referências bibliográficas e documentais. Quanto à formatação técnica do texto, as revistas e periódicos costumam estabelecer normas específicas para a publicação dos artigos, cabendo ao autor se inteirar delas antes de enviar seu trabalho à editoria. (SEVERINO, Antônio J. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Cortez, 2017 (24ª. Edição), p. 178, itálicos meus) O artigo científico é, portanto, de acordo com o trecho em itálico, parte de uma pesquisa em andamento e sua importância é a de divulgar e oferecer ao debate acadêmico os resultados dessa pesquisa. Todavia, é possível, também, que um artigo seja a comunicação abreviada do resultado de uma pesquisa (seja o trabalho de conclusão de Mestrado e ou Doutorado), seja resultado de Projeto de Pesquisa de docente ou pesquisador(a). Segundo a ABNT, existem três tipos de artigo: “3.4 artigo de revisão: parte de uma publicação que resume, analisa e discute informações já publicadas; 3.5 artigo original: parte de uma publicação que apresenta temas ou abordagens originais; 3.6 artigo técnico e/ou científico: parte de uma publicação, com autoria declarada, de natureza técnica e/ou científica” (ABNT NBR 6022:2018). Em certo sentido, todo artigo precisa ser original, ou seja, um 11
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL trabalho inédito, não copiado ou plagiado. Todavia, procure entender as peculiaridades de cada tipo de artigo segundo a Norma da ABNT. Revisão Original Técnico ou Científico Como preparar e elaborar um artigo? Veja o passo-a-passo: 1. Como de costume, inicie escolhendo um tópico relevante e significativo. Não comece do ‘nada’, a sua escolha deve recair sobre tema ou tipo de escrita em que você já está trabalhando (em disciplinas, monografias ou iniciação científica). Defina o problema e faça a pergunta bem delimitada, clara e específica que motivará a resolução do problema a ser discutido. 2. Inicie ou dê continuidade à pesquisa necessária para construir o conteúdo do artigo. 3. Siga a estrutura básica de um artigo: (a)elementos pré-textuais: título conciso, claro e que indique adequadamente o tema e proposta do artigo, nome e credenciais acadêmicas do autor(a) ou autoras(es), indicação de sua afiliação institucional acadêmica (pode detalhar o departamento ou unidade da instituição, se existir), e sinopse, resumo ou abstract em língua portuguesa e em uma segunda língua conforme exigido pela revista onde o artigo será publicado. (O abstract deve destacar os principais objetivos, métodos, resultados e conclusões do trabalho), (b) elementos textuais: o corpo do artigo 12
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL comumente tem três partes principais: a introdução, que apresenta o contexto do estudo, a pergunta de pesquisa, a revisão da literatura relevante e a hipótese (se aplicável), o desenvolvimento, que detalha o conteúdo do artigo, e a conclusão, que sintetiza os principais resultados e conclusões da pesquisa, responde à pergunta de pesquisa e discute as implicações dos resultados. Pode incluir sugestões para pesquisas futuras, e (e) Elementos pós-textuais: referências bibliográficas, anexos e outras informações (quando solicitadas pela Revista). Para publicar artigos em revistas científicas o processo é similar ao de apresentação de trabalhos em eventos acadêmicos. Você deve acessar o site da Revista escolhida (usando a lista do Qualis Periódicos) e seguir as instruções presentes sobre a submissão de artigos para avaliação. 4. Feita a pesquisa e a proposta de estrutura, é hora de escrever o artigo. Use a linguagem técnica adequada, mantenha o texto em linguagem compreensível, concisa e objetiva. Siga o estilo de escrita acadêmica e as diretrizes específicas do periódico ou revista onde pretende submeter o artigo em relação a formatação, citações e referências bibliográficas. Antes de concluir a redação, peça ajuda de colegas ou de docentes para avaliar o seu trabalho. Um segundo olhar e sugestões são sempre indispensáveis. 5. Não se esqueça de revisar cuidadosamente o artigo para garantir que não haja erros de gramática, ortografia ou formatação. Certifique-se de que haja estrutura lógica e coerência. 6. Faça a submissão do artigo na Revista ou periódico selecionado. Revistas acadêmicas têm por norma submeter as propostas a um processo de revisão por pares, no qual especialistas da área verificarão se o artigo cumpre os requisitos para publicação. No processo de avaliação é possível haver sugestões de correção, alteração ou reescrita. 7. Com o feedback da avaliação cega (avaliadoras não sabem quem é o autor ou autora do artigo) faça as correções ou alterações indicadas e submeta 13
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL o artigo à revista (Tudo isso acontece, normalmente, dentro do site da revista, que oferece todas as instruções necessárias). DICA: Quanto mais elevado o Qualis de uma Revista, tanto mais exigentes são os critérios para submissão de artigos. Normalmente, revistas nos estratos A e B costumam aceitar apenas artigos assinados por pessoas com Doutorado. Estudantes de graduação devem procurar revistas organizadas por estudantes e para estudantes, nas quais há maior probabilidade de aceitação dos artigos submetidos. 14
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL Unidade 4 – Escrevendo Sermões e Devocionais Eclesiais Objetivos Didáticos Ao final do estudo desta Unidade de Aprendizagem, você deverá ser capaz de: 1. Diferenciar acadêmico de academicismo; 2. Reconhecer a importância da pesquisa para a escrita de sermões e devocionais; 3. Descrever o tipo de texto a que pertence o sermão; 4. Alistar características do sermão como artefato estético; 5. Alistar características do sermão como expressão pública da fé; 6. Usar os conteúdos aprendidos nesta UA em suas práticas de leitura e redação acadêmicas. Preâmbulo Uma experiência relativamente comum em Bacharelados em Teologia é a de estudantes que seguem as regras do curso apenas durante o curso e no curso. Estudantes que criam uma dicotomia entre a academia e a igreja, como dois ambiente não-comunicáveis entre si. “O que serve para a academia não serve para a Igreja” é uma forma típica desse tipo de dicotomia. Uma pesquisa feita no início do século XXI em uma Faculdade de Teologia do sul do Brasil, com egressos de seu Bacharelado, indicou, por exemplo, que a maior parte desses egressos, no pastorado, não fazia mais a exegese do texto bíblico (em sua língua original) na preparação de seus sermões. Algumas respostas indicavam a falta de tempo como o principal motivo dessa atitude, enquanto outras destacavam que o método exegético aprendido era pouco útil para o preparo de sermões. Outra forma dessa dicotomia é a que perpetua um antigo estereótipo: o estudo acadêmico ‘faz perder a fé’, ou ‘a teoria não serve na prática’. Nenhum desses estereótipos é verdadeiro. O estudo não faz ‘perder a fé’, nem a ‘teoria é inútil na prática’. É claro que o conhecimento teológico e 1
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL multidisciplinar mais aprofundado provoca mudanças no modo de pensar e agir da pessoa. O conhecimento acadêmico tem a capacidade de indicar limites do conhecimento do senso comum e, muita vez, mostra o descompasso que há entre o saber cotidiano do senso comum nas igrejas e o saber teológico. Por outro lado, o conhecimento academicamente produzido pode não ter relação adequada à realidade em que vivemos e, assim, realmente se torna irrelevante. No caso da relação teoria-prática, há teorias usadas de modo inadequado e há práticas cuja teoria é ignorada por seus agentes. Teoria e prática, porém, andam sempre juntas, são realidades indissolúveis. Toda prática é prática de uma teoria e toda teoria é teoria nascida de práticas. Nesta UA conversaremos sobre a relação entre o conhecimento acadêmico e a escrita de sermões. Sim, sermões podem ser escritos! Antes, porém de conversarmos sobre a escrita de sermões propriamente dita, é preciso refletir sobre aspectos teóricos importantes. Teoria Prática Academia e Academicismo. Primeiramente, o contexto é sempre importante para entendermos uma questão. Em nosso caso, é preciso lidar com o estereótipo do acadêmico como alguém diferente. É comum que ao olhar para aqueles que se engajam na vida acadêmica tenhamos a impressão de contemplar sábios, ou loucos, que se encontram no alto de uma torre de marfim. Pessoas cujas pesquisas são autocentradas e que em nada se comunicam com a vida comum. O topo da torre 2
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL de marfim represente uma realidade própria, avessa à vida daqueles que, do lado de fora, trabalham, sofrem e lidam com suas demandas ordinárias. Se enxergamos o ambiente acadêmico como uma grande torre, alheio à vida comum, perdemos de vista o valor daquilo que o distingue como tal. Esta descrição da academia como torre de marfim se aplica, de fato, ao academicismo – a valorização tão grande do ambiente de estudo e pesquisa que a realidade estudada é perdida de vista. Afinal, se existe uma distância tão grande entre essas duas realidades, aplicar os critérios academicistas em nosso cotidiano apenas faria com que nos tornássemos alienados de nossas próprias atribuições. Por exemplo, do que adiantaria para um pastor aplicar em seus sermões um método exegético rigoroso, se, ao utilizá-lo, sua prédica se tornasse incompreensível para os seus ouvintes? Não adiantaria de nada. Enquanto o ambiente acadêmico for visto como uma realidade à parte (ou seja, for visto sob a ótica do academicismo), não teremos real motivação para nos engajarmos em suas demandas e utilizar de seus frutos em nossas atividades. Dados da vida real Assombro Pesquisa O importante aqui é que não podemos identificar o estudo acadêmico e a vida comum dos “leigos” como realidades avessas umas às outras. Veja bem, todo o estudo formal surge de perguntas pertencentes às questões mais comuns da vida humana. A filosofia surge nos nossos assombros, angústias, da busca por 3
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL sentido, por uma lógica em nossa realidade que muitas vezes nos foge, e assim se seguem todas as ciências humanas. Do mesmo modo, as ciências naturais surgem de questões corriqueiras, de dificuldades contábeis, da química pertinente, por exemplo a construção civil, entre outras questões que compõe a realidade humana. Claro, com séculos de desenvolvimento, a academia foi se tornando cada vez mais técnica e o conhecimento foi se tornando cada vez mais especializado, de modo que, para acompanhar uma discussão atual é preciso primeiro acumular um conhecimento prévio que exige tempo de estudo e dedicação. Essa situação dá a impressão de que lidamos com realidades distintas, mas, apesar disso, não podemos perder a consciência de que esse conhecimento continua sendo útil para toda a humanidade. O rigor não tem como objetivo tornar o conhecimento incognoscível, na verdade, seu propósito é torná-lo preciso! Do mesmo modo, científicos não métodos tem como objetivo nos confundir, podar nossa criatividade, comprovar a veracidade mas de nossas pesquisas. Claro, não é nada fácil desenvolver um conhecimento preciso e verdadeiro, por isso, tantas dificuldades surgem nessa discussão. Muitas vezes o nível de precisão atingido na Academia não é necessário para as questões da vida comum, assim como muitas verdades comprovadas pelo método científico podem ser aprendidas pelo senso comum. Nesse caso, o avanço científico não muda por completo a vida ordinária, embora ajude seu desenvolvimento. Por exemplo: remédios, novas ferramentas, novos tipos de iluminação etc. 4
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL Sermões e Devocionais como fruto da pesquisa Superados os estereótipos, cabe-nos identificar a relação entre o estudo acadêmico e a escrita de sermões e outros textos para uso na igreja. Comecemos com uma definição: Sermões e devocionais são formas de comunicação da fé cristã que visam edificar, instruir, exortar e consolar os ouvintes ou leitores. Nessa definição, tenha como palavra-chave a comunicação. Sermões e devocionais tem como propósito comunicar algo e sua performance em relação a “edificar, instruir, exortar e consolar” está diretamente subordinada aquilo que eles comunicam. Textos eclesiásticos tem como função principal expor e aplicar a Palavra de Deus. Sermões e devocionais são artefatos teológicos distintos, produtos da matéria prima mais preciosa para o cristianismo, a Bíblia. Nisto, vemos que esses artefatos não são simples frutos da capacidade argumentativa do escritor ou orador, eles dependem de um árduo processo de pesquisa. Isso mesmo, sermões e devocionais são frutos da pesquisa, seu desempenho depende de um conhecimento claro daquilo que será exposto em suas linhas. Atente-se a isso, bons escritores são antes de tudo bons leitores!! Retomemos alguns conhecimentos construídos nas Semanas anteriores. Por exemplo, sabemos que há diferentes tipos de linguagem: verbal (oral e escrita), não-verbal e híbrida. O sermão, por exemplo, é expressão da linguagem verbal, mas sua apresentação é oral, não escrita. Daí se pode perguntar: por que escrever o que será falado? Aulas de escola dominical e devocionais, por sua vez, costumam ser artefatos escritos, ainda que a aula, em si, seja oral e não escrita (mas baseada em textos). Destarte, quem escreve o sermão precisa levar em conta que escreve um artefato de comunicação oral, não escrita e pode utilizar 5
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL uma linguagem menos formal do que a linguagem escrita. (Fonte: Microsoft Word) Sabemos, também, que há diferentes tipos de textos. Estudamos uma tipologia que apresenta cinco tipos: descritivo, narrativo, dissertativoargumentativo, dissertativo-expositivo e injuntivo. O sermão é, predominantemente, de tipo injuntivo – visa estimular seus ouvintes a mudarem comportamentos. Não é pura exortação, porém, pois inclui conteúdos teológicos que servem de base para a mudança comportamental. Neste caso, vemos que o sermão é um tipo híbrido de texto (oral): predominantemente injuntivo, se serve de recursos do tipo de texto dissertativo-expositivo. Houve época, porém, que os sermões eram vistos predominantemente como peças argumentativas, críticas e apologéticas. Essa época, porém, já passou e na atualidade os sermões são enunciados predominantemente como textos injuntivos (exortativos ou inspirativos). Há pregadores e estudiosos da pregação que propõem que se veja o sermão como um texto (oral) de tipo narrativo, ou seja, uma estória a ser contada à congregação. O sermão é predominantemente injuntivo, mas sempre deve ter uma base dissertativo-expositiva. Para variar estilos, pode-se usar também o formato narrativo nas pregações. Sermões e Devocionais como artefatos ‘textuais’ e estéticos Durante o processo de pesquisa aprimoramos nossa compreensão do conteúdo a ser desenvolvido, todavia, um escrito não pode ser reduzido às informações que ele apresenta. Todo texto precisa ser estruturado e há diferentes formas de estruturação textual que podem se aplicar aos sermões. Da mesma forma, o sermão possui uma dimensão estética que não pode ser descurada. Os sermões pregados pelo Pe. Antônio Viera, por exemplo, foram publicados e são reconhecidos até hoje como obras literárias – e o mesmo se aplica a sermões de outros pregadores com uma visão estética mais apurada. O 6
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL estilo, a identidade de cada autor, sempre acaba por se expressar em seu escrito. Essa verdade, porém, não cria uma zona cinzenta onde o autor pode escrever de qualquer forma. Existem critérios pelos quais podemos avaliar o estilo de um texto e bons escritores devem se adequar a eles. Cada texto cumpre com um propósito específico. Ensaios filosóficos devem expressar certo argumento de forma precisa e convincente. Resenhas críticas devem expor e articular uma obra ou um recorte de forma coesa. Sermões e devocionais devem expressar de forma persuasiva certa mensagem religiosa. Para cumprir com seus objetivos, a forma como cada texto é escrito não pode ser ignorada. Você pode em um devocional apenas apresentar o conteúdo de um texto bíblico, mas o que o distinguiria de uma aula? E mais, esse devocional manteria seu caráter persuasivo? Do mesmo modo, em um ensaio você pode manter uma escrita não tão formal, mantendo algumas redundâncias a fim de deixar o texto mais belo, mas isso não afetaria a precisão que é fundamental na construção de um argumento sólido? Palavra de Deus Oração Edificação Pesquisa Comunhão Existem autores que gostam de escrever de forma objetiva, outros são naturalmente prolixos, alguns se empenham em usar sempre o mesmo termo enquanto outros se esforçam para não repetir palavras, mesmo que perdendo certa unidade conceitual. Todas essas particularidades podem ser expressas em 7
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL qualquer texto, desde que o autor tenha consciência daquilo que é exigido para sua obra. Bons escritores se expressam em seus textos sem descaracterizá-los. Para isso, claro, é preciso ter domínio sobre o estilo de escrita utilizado. Posteriormente vocês estudarão as estruturas possíveis para sermões e devocionais na disciplina de Homilética, todavia, podemos aperfeiçoar nossos escritos eclesiásticos ainda hoje ao aplicar alguns parâmetros gerais em nossos textos. Todos os textos apresentam um ritmo, uma cadência específica que reflete a estrutura do escrito. A estrutura mais simples, que envolve a maior parte dos estilos de escrita, consiste em três partes: Introdução, desenvolvimento e conclusão. Aqui vemos uma estrutura coesa com início, meio e fim. A introdução é a parte que apresenta o tema, o propósito e a tese do texto. É nela que o autor busca captar a atenção do leitor e situá-lo no contexto da discussão. O desenvolvimento é onde se desenvolvem os argumentos, análises e evidências, em suma, o conteúdo de modo geral. É nele que o autor busca convencer o leitor da validade do seu ponto de vista e demonstrar o seu domínio do assunto. A conclusão é a parte que sintetiza as principais ideias, reafirma a tese e propõe uma reflexão, uma solução ou uma recomendação sobre o tema. É nela que o autor busca encerrar o texto de forma satisfatória e coerente. Aqui, o desenvolvimento se mostra como eixo central e as demais parte se organizam ao seu redor. É possível que você já tenha ouvido um sermão onde o pregador passou metade da sua prédica na introdução, um pouco desproporcional não? Outra situação comum é que as vezes um escritor passa boa parte do seu tempo divagando sobre pontos secundários ao seu propósito e na hora de lidar com sua ideia principal apenas a indica de forma breve e finaliza seu texto. Nesse caso, a estrutura do texto não indicaria um ponto central diferente do idealizado pelo 8
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL escritor? Ao redigir seus sermões e devocionais, tome cuidado para fazê-lo de modo harmônico! Ao falarmos de estética, não podemos apenas indicar a estrutura do texto e o tempo gasto em cada parte, é preciso pensar em como o texto é escrito. Após o processo de pesquisa, o escritor deve organizar suas ideias, escolher os termos a serem utilizados e estruturar o esboço daquilo que irá escrever. Aqui, não existe exercício melhor do que a escrita, ou melhor, a reescrita. Para escrever bons sermões e devocionais, comece escrevendo, lendo, trocando algumas palavras, frases, parágrafos. É assim que nossos textos ficam mais bonitos, precisos e persuasivos. Escrever um texto sério, seja ele qual for, não é tarefa fácil, por isso, bons escritores estão dispostos a colocar a mão na massa e, se necessário, refazer seus trabalhos a fim de um melhor resultado. Sermões e Devocionais como expressão publica da fé Por fim, precisamos compreender nossos escritos eclesiais como uma expressão pública de fé. Sermões e devocionais tem como objetivo não apenas desenvolver a fé do escritor, mas nutrir seus ouvintes, sejam eles cristãos ou não. Um sermão, por exemplo, é ofertado tanto à comunidade de fé onde ele é pregado, como à comunidade que a cerca. Deste modo, a forma como o conteúdo é organizado, seu ritmo e as palavras que são escolhidas devem fazêlo cognoscível ao seu público. Aqui então devemos nos perguntar: Como tornar nossos escritos compreensíveis? Em primeiro lugar, a linguagem do sermão deve ser adequada ao seu público ouvinte. Você deve conhecer bem sua congregação a fim de escolher o grau de dificuldade ou facilidade do vocabulário e estilo a utilizar nos sermões. No tocante ao aspecto mais especificamente teológico, precisamos exercer certo rigor com os termos escolhidos. Certas palavras apresentam certos significados em contextos específicos. Por isso, ao usar em nossos escritos termos que são avessos à linguagem comum acabamos por dificultar seu entendimento. Dependendo do nível de conhecimento, interesse e 9
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL familiaridade dos nossos leitores ao assunto do escrito, podemos usar termos mais técnicos ou mais simples. Aqui, cabe ao escritor avaliar a necessidade de se usar certos termos. As vezes a precisão de um termo alheio a ambientes comuns é necessária, nesse caso, devemos fazer o possível tornar esse termo compreensível a todos, mesmo que tenhamos que dedicar alguns parágrafos para isso. Em outros casos, o uso de termos comuns não irá afetar o desenvolvimento da prédica ou do devocional. Comumente, jovens escritores apresentam dificuldades em serem compreendidos por conta da forma como organizam suas ideias. Claro, não basta apenas escolher os termos corretos para um sermão, devemos organizálos da melhor forma possível, devemos organizá-los de forma comunicativa. Nossos leitores sempre esperam que nossos textos façam sentido, ainda mais aqueles que não pertencem ao mesmo grupo que nós. Assim, caso você queira que seus sermões e devocionais façam sentido para seus ouvintes descrentes, empenhe-se em deixar bem evidente a relação lógica em sua argumentação. Nunca presuma que seu ouvinte já conheça uma informação importante para seu texto, desenvolva cada uma delas com cuidado e rigor. Conclusão Escrever bons textos não é nada fácil. Dado a importância de sermões e devocionais para a fé cristã, aqueles que aspiram servir suas comunidades com esses artefatos muitas vezes se sentem pressionados diante de tal responsabilidade. Aqui, devemos usar bem todas as ferramentas que estão à nossa disposição. Reflita sobre os princípios de escrita desenvolvidos nesta disciplina e busque sempre os aplicar em seus textos. Deste modo, o hábito acadêmico que estamos desenvolvendo poderão enriquecer não apenas os seus estudos pessoais, mas a sua comunidade de fé. 10
GÊNERO DISCURSIVO E TIPO TEXTUAL1 Jane Quintiliano G. Silva* Resumo Este artigo tem por objetivo refletir sobre a que funcionamento se prestam as noções de gênero discursivo e tipo textual, quando tomadas como categorias de análise, na tipificação de textos produzidos em nossa sociedade. Propõe-se, a rigor, uma distinção de cunho teóricometodológico e conceitual entre tais noções, vez que cada uma delas compreende realidades diferentes do funcionamento do discurso. Palavras-chave: gênero discursivo, tipo textual, modos enunciativos e tipologia textual 1 – Introdução É relativamente freqüente encontrar na literatura o uso das expressões tipo textual e gênero discursivo, como categoria de análise, com valores sinonímicos para atribuir ao texto uma tipificação. Ora, utiliza-se uma ou outra (não simultaneamente) para referir-se aos textos concretos, produzidos na sociedade, o que, a meu ver, não seria problemático, pois aí me parece que há uma questão mais de ordem terminológica que conceitual. Ora, utiliza-se apenas uma delas para referir-se tanto aos textos quanto aos modos de organização discursivos nele atualizados. Nesse caso, colocam-se em um mesmo quadro, sob o rótulo de uma dessas expressões, dados que se dimensionam, em ternos operacionais, à luz de critérios teórico-metodológicos diferentes. Convém esclarecer, contudo, que tais noções, guardados os valores conceituais e os propósitos metodológicos de cada uma, podem entrecruzar-se, em situações de análise, afigurando-se relevante instrumental para investigação no domínio do discurso2. Está aí o mote que orienta este trabalho, no qual procuro desenvolver uma reflexão sobre a que funcionamento essas noções se prestam na tipificação dos textos, propondo, nessa medida, uma distinção entre elas, de natureza teórico-metodológica. Com esse intento, a questão que se coloca relativamente a tais noções não é de ordem terminológica, mas, sim, de cunho conceitual. Embora se saiba dos eternos problemas advindos do uso de uma ou de outra terminologia, creio que, em trabalhos dessa natureza, é preciso que se dedique mais atenção aos conceitos que aos nomes em si, pois estes, por razões diversas, nem sempre podem ser os mais adequados para traduzir conceitualmente as realidades a 1 Uma versão deste artigo encontra-se publicado na Revista Scripta. Belo Horizonte: Editora PucMinas, V. 1, n. 1, 1999, pp. 87-106. * Doutora em Lingüística e Professora do Departamento de Letras PUCMG. 2 Por discurso entende-se aqui uma atividade comunicativa, produtora de sentido, construída por sujeitos sociais nas interações de que participam. O discurso se manifesta lingüisticamente por meio de texto, este, por seu turno, pode- se materializar nas formas oral e escrita. E em face dos propósitos deste trabalho, texto é aqui tomado como unidade de análise, por pressupor que é nele e por meio dele que se podem evidenciar e analisar os elementos lingüísticos, enunciativos, e os extralingüísticos que compõem as suas condições de produção e recepção. Em suma, teórica e metodologicamente falando, é no texto e por meio dele é que se pode entender como se dá o funcionamento do discurso. 1
que se referem. Assumindo-se essa direção, podem-se evitar problemas de interpretação e entendimento de conceitos. Isso se estende igualmente às categorias de análise, o que, talvez, o mais importante não é necessariamente o nome atribuído a elas, mas, sim, a possibilidade de identificá-las, apreendendo-lhes o funcionamento no processo do trabalho de análise. E para acercar-me da proposta, primeiramente gostaria de examinar, ainda que de forma panorâmica, o tratamento que a noção de tipo textual tem recebido por vários estudos teóricos que propõem elaborar tipologias textuais. Essa incursão assume tais contornos, pois o meu objetivo, por ora, é apenas o de evidenciar que essa noção comporta uma rede de significações cujas traduções remetem (ou pressupõem) a diversas formas de apreensão do funcionamento da linguagem, o que acaba por conceder a ela um tom escorregadio e camaleônico. Em seguida, passo à discussão sobre a noção gênero discursivo e a que realidades do domínio da linguagem ela se refere e, por fim, retomo as reflexões sobre a noção de tipo textual, procurando mostrar, por meio de breves exemplos, como essas duas noções podem entrecruzar-se em um trabalho de tipificação de textos correntes em nossa sociedade. 2 – Tipologias textuais e a noção de tipo textual Em Silva (1995), cujo estudo se volta para analisar os princípios tipológicos em torno dos quais algumas dezenas de tipologias de texto e de discurso se organizam, reconhece-se que a noção tipo textual encarna valores diversos (vários e diferentes), conforme o corpus de análise e os princípios tipificação propostos pelas tipologias, bem como as teorias da linguagem das quais estas derivam. No geral, percebe-se que, dada a vertente tipológica a que se alinha, a categorização de textos, quanto ao tipo, constrói – se à luz de princípios que contemplam as dimensões do discurso: o interacional/ situacional (mais imediato e/ou mais amplo), passando pelo o textual (macro-organização estrutural), alcançando o lingüístico. Para exemplificar, apontam-se algumas dessas dimensões, definidoras da natureza dos princípios tipológicos, a saber: a) propriedades internas à constituição do texto que incidem sobre plano microestrurural; b) esquema global ou os modelos cognitivos/ esquemas formais, culturalmente adquiridos ( chamadas superestruturas), em sua relação com a macroestrutura textual; c) tipos de seqüências (macro) proposicionais; d) atitude enunciativa que o locutor assume em relação ao seu objeto do dizer e ao seu interlocutor – modos de organização discursivos; e) portadores (suportes) de texto em que se materializa o discurso; f) domínios institucionais ou as formações discursivas em que se inscrevem os discursos. Vale ressaltar, ainda, que algumas tipologias se organizam em torno de vários critérios tipológicos, os quais, em sua relação, constituem a base conceitual do estudo de tipificação do texto. Em face desse conjunto de princípios, às vezes múltiplos e heterogêneos, para a tipificação do texto, observa-se que os estudos teóricos, para o estabelecimento de tipologias 2
textuais, operam com uma noção de tipo de texto cuja significação, funcionalidade e aplicabilidade se diferem. A título de exemplo, assinala-se o estudo do alemão Dimter (1981, apud Marcuschi, 1995) que indica a existência de 1600 tipos textuais, redutíveis aproximadamente a 500 formas básicas, representativas dos textos concretos, produzidos pela nossa sociedade. Seguindo, de certa maneira, essa mesma vertente tipológica, há o trabalho de Eigenwal (1974, apud Isenbeg, 1987) que postula apenas 5 tipos textuais: texto periódico, texto econômico, texto político, texto jurídico e texto científico. Essa tipificação3 tende a sinalizar produções sócio-interlocutivas existentes na sociedade; distanciando-se dessa vertente, há tipologias, como as elaboradas por Werlich (1975, apud Isenberg 1987); ADAM (1987 1991); Favero & koch (1987) e Van Dijk (1983), as quais, guardadas as suas diferenças e propósitos, apontam 5 tipos textuais, nomeados tradicionalmente por narração, dissertação (expositivo), argumentação, descrição e injunção. Essa orientação tipológica, (assunto de que cuidarei mais adiante), funda-se em reflexões sobre os esquemas globais, superestruturas, atualizados nos textos. Sob esse enfoque, a noção de tipo textual assume um caráter de um construto teórico, projetado basicamente para pensar o funcionamento do texto em ternos de sua estruturação interna, na qual se imbricam vários planos, tais como o macroestrutural (semântico global) em sua relação com o esquema superestrutural. Esse quadro deixa evidenciar que a noção de tipo textual figura-se como uma categoria multifacetada de análise (ou como um termo “guarda-chuva”), por recobrir e designar fenômenos bastante diversos quanto à natureza e ao funcionamento do texto. Isso indica que esses autores certamente não operam com a mesma noção de tipo textual. Deixemos, por ora, esse universo das propostas tipológicas teóricas com as suas respectivas noções de tipo textual, e focalizemos como essa significação instável e movediça de que se reveste o termo em questão muitas vezes acaba por refletir em trabalhos acadêmicos e didáticos no que tange ao modo como se tipificam os textos. Não é raro se encontrarem, em trabalhos dessa natureza, algumas confusões, de ordem terminológica, relativas à tipificação de texto, as quais deixam entrever que os trabalhos, para classificarem os dados, circunscritos em um mesmo corpus de análise, parecem orientar-se por uma seleção assistemática de categorias tipológicas as quais, cada uma por seu turno, sinalizam os diferentes planos internos da constituição e funcionamento do texto, ou o seu uso e função pragmática nas práticas interlocutivas. Para efeito de ilustração, tomemos uma (pretensa) proposta tipológica em que se manifesta esse problema, atentando-nos tão-somente à forma como se anunciam os objetos (ou dados) com que ela trabalha: “os três tipos de texto em estudo são diário, narrativa e injunção; ou entrevista, argumentação e descrição; ou carta, dissertação e narração”, etc. Os exemplos poderiam multiplicar-se, no entanto, eles são suficientes, vez que o objetivo 3 Apesar de este trabalho não ter como propósito discutir os princípios tipológicos sobre os quais se fundam as propostas teóricas para o estabelecimento de tipologias, e nem esta nota intenta tecer nenhum comentário dessa natureza, eu não poderia, entretanto, deixar de destacar a relação desconcertante que se impõe entre os nomes que tipificam os textos, para qual a questão que se poderia colocar é: por que textos periódicos ( notícia, editorial, reportagens, ou outros que possam circular em periódicos e não são jornalísticos) se conjugam com aqueles outros citados em uma mesma proposta tipológica? Nota-se que, se há controvérsia no tratamento dado à noção tipo textual, parece haver igualmente na estruturação das tipologias. A respeito dessas questões, confira os trabalhos de Isenberg, 1987, e Marcuschi, 1994. 3
pretendido é apenas o de mostrar que uma proposta tipológica dessa natureza, mediante os nomes indicados – narração, descrição, argumentação, carta, diário, entrevista, etc, – parece conferir aos dados em análise um mesmo estatuto e noção, quanto à natureza do texto, levando-se em conta, evidentemente, a forma como eles são apresentados, o que, de uma maneira ou de outra, não deixa de sugerir que eles parecem conjugar-se entre si segundo certas regras ou princípios, ou seja, se definem de igual maneira em relação a uma base tipológica. Sob essa condição, poder-se-iam levantar algumas hipóteses na tentativa de procurar entender a razão pela qual há entre eles uma relação de conjugação. Assim inscritos naquele quadro, a narração, ou a argumentação ou injunção (incluem-se aqui a descrição e a dissertação) em relação à carta, à entrevista e ao diário, etc., parecem atualizar-se como textos concretos representativos de práticas discursivas, correntes na sociedade, dos quais os sujeitos dispõem para responderem às necessidades sóciocomunicativas. À luz dessa suposição, a noção de tipo textual que orienta tal proposta parece construir-se-ia sob os parâmetros das condições objetivas de uso e função pragmática dos textos. Avançando um pouco mais nessas especulações (de natureza tipológica), seria igualmente razoável supor que, em ternos da dimensão configuracional dos textos, o tipo narrativo em relação ao tipo carta, por exemplo, (ou vice- versa) figurar-se-ia como um texto diferente, com uma configuração prototípica, por possuir características micro e macroestruturais e superestruturais específicas à sua organização textual, o que asseguraria a ambos um estatuto que lhes permitiria inscrever-se em um mesmo domínio tipológico. Sob essa condição, a noção de tipo textual pressuposta por tal proposta tipológica parece derivar-se de análises que, entre outros elementos, contemplariam as categorias internas à constituição do texto, ou seja, ao arranjo linear e hierárquico do conteúdo informacional, construído sob certas imposições das partes ou categorias organizadoras da superestrutura do texto. A respeito dessas suposições, julgo ser prudente não levá-las a cabo, pois, caso o faça, é possível incorrer em outras hipóteses frágeis, para pensar as razões pelas quais narração e carta, ou entrevista e argumentação, ou diário e injunção se circunscrevem em um mesmo domínio de textos. Tal procedimento se justifica posto que, teórica e metodologicamente falando, está-se diante de dados de natureza heterogênea, como procurarei expor mais adiante. Dito de outro modo, narração e carta, por exemplo, representam fenômenos da linguagem que, do ponto de vista teórico-metodológico, se ambientam em classes disjuntas, cujos princípios de organização ou teorização impõem diferentes delimitações ou recortes no interior do objeto em estudo. O que me parece mais prudente e apropriado é considerar a narração, a argumentação e/ou a injunção, etc. como tipos de operações textual-discursivas (tipos textuais ou modos de organização discursivos, como propõem algumas daquelas tipologias) que se podem atualizar na configuração textual da carta ou entrevista ou diário, etc., estes representativos de práticas correntes sócio-comunicativas de nossa sociedade 4
Com efeito, isso acabaria por provocar um redimensionamento na noção de tipo de texto, em face da delimitação, da extensão e da natureza do objeto de estudo, por pressupor que tais fenômenos em estudo (ou dados) se organizam em um mesmo quadro por estarem implicados, e não mais por serem conjugados em um mesmo quadro. Sem entrar em muitos detalhes, ou melhor, sem um rigor devido, essa relação de implicação, por ora, poderia ser descrita da seguinte forma: em uma carta, por exemplo, podem figurar tipos textuais como narração, injunção, uma descrição e, ou dissertação/argumentação, como operações textual-discursivas, atualizadas pelo locutor, objetivando provocar em seu interlocutor um efeito de sentido desejado. Da mesma forma, em uma entrevista, é muito comum que o entrevistado ou o entrevistador, na atividade de formulação do texto, agencie várias operações textual- discursivas, tais como, contar, relatar um fato, ou descrevê-lo, para ilustrar o que está sendo dito, bem como refletir (sobre), comentar o que foi tomado como objeto de ilustração, a fim de fundamentar de modo consistente o que está sendo enunciado não só para convencer ou persuadir o interlocutor, como também para oferecer-lhe pistas que lhe permitam construir um sentido para o texto. Posta a questão nestes termos, creio que essas considerações deixam anunciar as assunções que aqui tomo para pensar uma distinção entre tipo textual e gênero discursivo. Passemos, então, aos gêneros discursivos. 3 – Gêneros discursivos Vários trabalhos desenvolvidos no âmbito da teoria da enunciação, lingüística textual e análise do discurso têm-se preocupado em precisar a que realidades do domínio da linguagem a noção gênero discursivo se refere, e ao fazê-lo, acabam, por extensão, fornecendo elementos que possam delimitar a noção de tipo textual. Entre esses trabalhos, encontram-se de Maingueneau (1989), Adam (1987, 1993), Bakhtin (1992) e Marcuschi (1995). Aqui, para a exposição dessa noção, tomarei como referência as palavras de Bakhtin por imposição dos meus pressupostos sobre linguagem/língua, interação, texto, discurso, como se anunciou na nota 1. Bakhtin, (1992) ”Estética da criação verbal”, dedica um capítulo à reflexão sobre a heterogeneidade de gêneros discursivos produzidos por e em uma sociedade complexa como a nossa e os fatores (de natureza vária, lingüística extralingüística) que influem e confluem na constituição deles. Na reflexão bakhtiniana, a noção de gênero discursivo reporta ao funcionamento da língua em práticas comunicativas, reais e concretas, construídas por sujeitos que interagem nas esferas das relações humanas e da comunicação. É, no interior dessas esferas, correspondentes às instâncias públicas e privadas do uso da linguagem, que se elaboram os gêneros discursivos, para responderem às necessidades interlocutivas dos sujeitos que nelas se inter-relacionam. Dada a diversidade de esferas da atividade e da comunicação humana, as quais refletem a diversidade das (inter e intra) relações sócio-culturais dos grupos sociais, os gêneros discursivos são múltiplos, heterogêneos, os quais, se abordados sob um ponto de 5 Essa expressão, no universo das discussões deste texto, remete à idéia básica de que o sentido do discurso é o seu efeito de sentido, isto é, o que se produz, na ordem da significação, pelo fato de ter acontecido um determinado enunciado em determinadas condições de enunciação (Cf. Possenti, 1988). 5
vista teórico-metodológico, situam-se em um sistema continuum de situações discursivas, em cujas extremidades estariam, de um lado, a conversação espontânea e, de outro, os artigos de vulgarização científica (cf. Marcuschi, 1995). Para Bakhtin, os enunciados de um discurso se definem pela natureza dos gêneros discursivos, constitutivos (da) e constituídos em circunstâncias enunciativas peculiares às esferas das relações sociais. Quaisquer que sejam a extensão, o conteúdo semântico, os recursos lingüísticos e a sua composição estrutural, o discurso, materializado na forma de texto, apresenta características que lhe são geralmente comuns, moldadas pelas regras do funcionamento do(s) gênero(s), essas, por sua vez, articuladas no interior das interações das esferas das relações sociais. Ou, dito de outro modo, cada esfera do uso da língua (cotidiana ou não) potencializa os seus próprios gêneros, determinando as formas genéricas e relativamente estáveis de manifestação dos discursos, no que tange aos aspectos temático, estilístico e composicional. Esta propriedade dos gêneros – a de que são formas relativamente estáveis de manifestação de discurso – reflete os modos de sistematização e ou normatização historicamente construídos pelos sujeitos em seus processos interacionais, os quais, para estabelecerem com os seus interlocutores relações dialógicas, necessitam atualizar normas e restrições lingüístico-discursivas e temáticas que regem as práticas sócio-culturais da área de atividade social em questão. Somente para exemplificar, pois mais adiante procurarei deter-me nesse ponto, é notório para nós, sujeitos (vivendo em sociedade complexa como nossa), que um bate-papo possui regras (pragmáticas, textuais e lingüísticas) de funcionamento diferentes das de uma entrevista para fins de trabalho, que, por sua vez, diferem das de um comício em praça pública, das de uma palestra, das de uma aula, etc., etc., etc.,. Ainda que não dominemos tais gêneros, por não convivermos com alguns deles como interlocutores imediatos, sabemos muitas vezes reconhecê-los, precisar-lhes a diferença em função da relação entre o uso da linguagem e as esferas sociais em que se exercem essas atividades. Esse pressuposto de que a constituição (natureza e delimitação) dos gêneros vinculase (a) e reflete as esferas de uso da língua já se revelava em outra obra desse teórico russo (1990, edição brasileira), onde se lê às páginas 113 e 114: “a situação social mais imediata e o meio social mais amplo determinam completamente e, por assim dizer, a partir do seu próprio interior, a estrutura da enunciação. (…) A situação e os participantes mais imediatos determinam a forma e o estilo ocasionais da enunciação. Os estratos mais profundos da sua estrutura são determinados pelas pressões sociais mais substanciais e duráveis a que está submetido o locutor.” 6 Aqui se faz alusão aos escritos de Bakhtin organizados no livro “Marxismo e Filosofia da linguagem”, publicado no Brasil na década de 90, pela editora Hucitec, e originalmente publicado em 1929, em Leningrado. Já as reflexões sobre os gêneros discursivos, presentes na obra “Estética da criação verbal”, foram escritas em 1952-1953, quase vinte anos depois, e publicada originalmente em Paris, nos anos 80, pós-morte desse teórico russo. A respeito do percurso das reflexões bakhtinianas, reporto-me aos prefácios, ricos e esclarecedores, das referidas obras. 6
A respeito da aquisição e domínio desses gêneros discursivos por parte dos sujeitos, Bakhtin (1992, p.302) afirma que “as formas da língua e as formas típicas de enunciados, isto é, os gêneros do discurso, introduzem-se em nossa experiência e em nossa consciência conjuntamente. (…) Aprender a falar é aprender a estruturar enunciados (porque falamos por enunciados e não por orações isoladas e, menos ainda, é óbvio, por palavras). Os gêneros do discurso organizam nossa fala da mesma maneira que a organizam as formas gramaticais (sintáticas). Aprendemos a moldar nossa fala às formas do gênero e, ao ouvir a fala do outro, sabemos de imediato, bem nas primeiras palavras pressentir-lhe o gênero, adivinhar-lhe o volume (extensão aproximada do todo discursivo), a dada estrutura composicional, prever-lhe o fim, ou seja, desde o inicio, somos sensíveis ao todo discursivo que, em seguida, no processo da fala, evidenciará suas diferenciações. Se não existissem os gêneros do discurso e se não os dominássemos, se tivéssemos de criá-los pela primeira vez no processo fala, se tivéssemos de construir cada um de nossos enunciados, a comunicação verbal seria quase impossível.” Historicamente gerados no e pelo trabalho lingüístico empreendido pelos sujeitos, os gêneros discursivos submetem-se a um conjunto de condições que cercam o seu funcionamento comunicativo, discursivo, definido em e por seus processos de produção e recepção, bem como o seu circuito de difusão, a saber: a instância social de uso da linguagem (pública ou privada); os interlocutores (locutor e destinatário); o lugar e o papel que cada um desses sujeitos representa no processo interlocutivo, os quais, em grau maior ou menor, sofrem as injunções do lugar social que cada um ocupa na sociedade; a relação de formalidade ou não entre eles; o jogo de imagens ali presente e o jogo de vozes socialmente situadas, orientando o que pode ou não ser dito e como deve fazê-lo; a atitude enunciativa do locutor (intuito discursivo) em relação ao seu objeto de dizer e ao seu destinatário; as expectativas e finalidades deste aliadas a sua a atitude responsiva em relação ao que está sendo enunciado; o registro e a modalidade lingüística e o veículo de circulação. Todos esses fatores, em sua relação, imprimem ao discurso uma configuração peculiar no que tange a: (i) a abordagem do tema (esta varia conforme as esferas da comunicação verbal); (ii) o arranjo esquemático (global) em que o conteúdo semântico se assentará; (iii) os modos de organização discursivos (atualização da narração, da descrição, etc.); e, por fim, (iv) a seleção dos recursos lingüísticos (o estilo). Enfim, todos esses fatores orientam o modo como o discurso se materializa no texto, este pertencente ao um dado gênero, construído na e por uma esfera da atividade e comunicação humana. No quadro dessas reflexões, percebe-se a ênfase que Bakhtin (1992) confere à questão das relações intersubjetivas, no que diz respeito ao intuito discursivo do locutor (o querer dizer) e à atitude responsiva do destinatário. Ele frisa que 7
“o índice substancial (constitutivo) do enunciado é o fato de dirigir-se a alguém, de estar voltado para o destinatário. (…) Elabora-se (o enunciando) em função da eventual reação-resposta, a qual é o objetivo preciso de sua elaboração.” (p.320) As diversas formas típicas de dirigir-se a alguém e as diversas concepções típicas do destinatário são as particularidades constitutivas que determinam a diversidade dos gêneros do discurso. (p.325) No processo mesmo da construção do discurso, o locutor, projetando a compreensão responsiva do destinatário, pressupõe os conhecimentos que este possui sobre o assunto, bem como as opiniões, as convicções, os preconceitos que possa ter (ou não) contra a abordagem dada ao tema. Soma-se a isso, por exemplo, o intuito discursivo do locutor, que se realiza acima de tudo na escolha de um gênero do discurso e determina toda a organização dos enunciados, relativamente à escolha dos procedimentos composicionais, isto é, aos modos de organização discursiva, à seleção dos recursos lingüísticos, a fim de provocar no seu destinatário o efeito de sentido desejado, efeito que poderá refletir-se na atitude responsiva assumida pelo destinatário. Na base dessas reflexões sobre gênero discursivo está o pressuposto de que a linguagem é uma atividade constitutiva cujo espaço de realização e construção é a interação verbal. Atribuir à linguagem esse estatuto, como pondera Bakhtin, implica considerá-la como algo que não está de antemão pronto, dado como um sistema de que o sujeito se apropria para utilizá-la. Mas, como algo que se constitui fundamentalmente no e pelo trabalho lingüístico empreendido pelos sujeitos nos processos interlocutivos atualizados nas diferentes esferas de atividade humana que esses sujeitos integram. É nesse trabalho lingüístico, na produção de discursos, que os sujeitos agem sobre a linguagem, construindo ou redimensionando recursos lingüísticos que possam evidenciar e, ou provocar o sentido por eles desejado ao que está sendo enunciado. E é nesse território de atos dialógicos, fundadores das ações interativas, agenciadoras de relações com outros discursos, que os sujeitos se constituem como tais, na medida em que, pela e na linguagem, potencializada pelos gêneros discursivos, compreendem o mundo, representam-no, agem sobre ele. Dito de outro modo, os sujeitos se constituem como tais ou sua consciência se forma (cf.Bakhtin, 1990) no processo de internalização de discursos preexistentes, materializados nos diferentes gêneros discursivos, atualizados nas contínuas e permanentes interlocuções de que vão participando, assim esses sujeitos, constitutiva, dialogicamente passam a dominá-los e até deliberadamente alterar-lhes o funcionamento, introduzindo nos gêneros de uma dada esfera da atividade social os procedimentos composicionais e o estilo de outros pertencentes a(s) outra(s) esfera(s). À luz desse quadro, Bakhtin distingue os gêneros em dois conjuntos: gêneros primários e gêneros secundários, os quais correspondem a um espectro diversificado dos usos oral e escrito da língua. Os gêneros primários se constituem em situações discursivas construídas em instâncias privadas, ou seja, em esferas cujas atividades estão vinculadas às experiências cotidianas e, ou íntimas: a conversação espontânea, produzida no âmbito familiar, ou entre amigos, cartas pessoais e íntimas, bilhetes, diário íntimo, anotações 8
particulares em agenda (ou algo que o valha), convites informais (escritos ou orais), etc. Já os gêneros secundários figuram em situações discursivas construídas em instâncias públicas, ou seja, em esferas cujas atividades sócio-culturais têm um caráter relativamente mais formal, tais como: conferências, palestras, entrevistas, assembléia e reunião de modo geral, aula, cultos religiosos de modo geral, Bíblia, orações (rezas), (estes também se atualizam em instâncias privadas), sermões, cartas comerciais (e documentos similares), atas de reuniões, relatórios, formulários burocráticos, biografias, autobiografia, documentos e ritos jurídicos (processos de defesa, de acusação, as petições, as sessões públicas (ou não) de julgamento), documentos legislativos, receitas culinárias (estes também veiculam nas instâncias privadas) e médicas, editorial, reportagens, notícias, propagandas de modo geral, romance, contos, crônicas, lendas, fábulas, poemas, teatro, novela, artigos de vulgarização científica, tese, monografia, etc. Há também entre os gêneros relações intercambiáveis – ora de inclusão, ora de transmutação – um sendo absorvido por outro. A maioria dos gêneros literários, por exemplo, o romance, incorpora na constituição de seu texto diversos gêneros tanto os primários quanto os secundários, tais como, a réplica de diálogo cotidiano, as cartas pessoal e íntima, o diário íntimo, as canções, lendas, as trovas, as rezas (orações), os poemas, etc. Só para citar, apontamos O Grande Sertão Veredas, cujo autor, na constituição dessa obra, explorou ao máximo os gêneros discursivos, principalmente, os da cultura sertaneja. Entre os que se submetem a uma relação de transmutação, encontram-se alguns gêneros secundários, que, com relativa freqüência, no mundo das comunicações interativas da vida cotidiana, são deliberadamente alterados pelos sujeitos. Por exemplo, em uma conversa íntima entre marido e mulher, um deles, a fim de provocar uma brincadeira, ou certo humor à situação, em voz impostada, confere ao próprio discurso um tom pomposo, eivado de uma reverência exagerada, repleto de expressões arcaicas ou inusitadas, parodiando um discurso típico dos que se realizam em uma tribuna parlamentar. Outro exemplo conhecido por nós são as propostas de receitas culinárias que, ao terem seus ingredientes e poções advindos não da gastronomia mas do universo dos sentimentos e qualidades humanas (amor, amizade, beleza, charme, etc.), passam a cumprir funções pragmáticas bem diferentes daquelas previstas para o uso desse gênero, a saber, declaração de amor, de amizade, recomendações como conseguir ou manter a beleza, ou o charme. Essa prática discursiva é muito comum entre crianças e adolescentes em trocas de correspondência que se efetivam principalmente na esfera escolar. Além dessa prática, esses sujeitos têm igualmente redimensionado os usos e funções pragmáticas de suas agendas particulares, na medida em que a utilizam para registrar os momentos felizes ou não ocorridos em sua vida (em semelhança ao diário íntimo), as canções de que mais gostam, bem como para colar as fotografias do (a) namorado (a) e do ídolo, e deste, quando conseguem, deixar ali as marcas de seu autógrafo, etc. Nesse caso, essas funções sobreponham à função primeira desse gênero, qual seja a de permitir que não sobrecarreguemos a nossa memória com os pretensos compromissos de ordem vária e, mediante o uso da escrita, façamos as nossas anotações, a que, quando necessário, possamos recorrer. Nessa esteira, guardadas as devidas diferenças, têm- se também difundido, atualmente, para fins de brincadeiras, piada ou deboche, cartas com uma 9
configuração das comerciais ou similares, cujos temas versam sobre a rotina do casamento, a impotência sexual masculina ou feminina, a figura da sogra, (e variantes que cumprem papéis semelhantes). Esses últimos exemplos hipotéticos deixam evidenciar que, para se efetivarem mudanças no funcionamento discursivo dos gêneros, sejam as que incidem sobre as pautas temáticas, o uso de recursos lingüísticos, ou sobre a estrutura composicional, os sujeitos têm de dominá-los. Isso implica dizer que eles intuitivamente ou não conhecem a relação entre o uso da linguagem (funcionamento dos gêneros) e o espaço interacional em que eles se atualizam, e porque conhecem, propõem e impõem aos gêneros combinações. Nessa seqüência, é interessante e oportuno, para fins de ilustração, trazer outro exemplo, igualmente simples, de duas supostas situações discursivas: uma ocorrida em uma instância privada, e, outra, em uma pública, vivenciadas pelos mesmos sujeitos, para apontar algumas particularidades da natureza e delimitação dos gêneros discursivos, no que tange às estratégias interacionais adotadas pelos interlocutores, à abordagem do tema e a algumas possíveis estratégias textuais na materialização do discurso. Em situação familiar, pai e filho, em uma conversa, cujo assunto é o plano real, podem tematizá-lo sob um ponto de vista do senso comum, ambos se colocando como cidadãos que sofrem as injunções da política econômica em vigor. Nesse bate-papo, os procedimentos da composição do texto – a organização das informações para veiculação do conteúdo semântico – e a seleção dos recursos lingüísticos seriam controlados pelo o intuito discursivo de cada um dos sujeitos, pela abordagem dada ao assunto, pelo próprio contexto imediato da interação, bem como pelas interferências feitas na fala um do outro, ambos disputando e assaltando os turnos, para manifestarem a atitude responsiva ao que está sendo dito pelo parceiro, seja para concordar, refutar, complementar, fazer comentários jocosos (dada a relação de intimidade entre eles), ou para simplesmente ali manter o intercâmbio lingüístico, levando a bom termo o jogo interlocutivo. Tais procedimentos composicionais, do ponto de vista de sua configuração textual, poderiam figurar nos modos de organização discursivos como a narração, descrição, dissertação/argumentação e, ou a injunção. Já, em uma reunião formal, em situação de trabalho, cujo assunto é o mesmo, mas cuja tematização impõe um rigor que se assenta em um saber científico, legitimado pela instituição em que se realiza a reunião, esses mesmos sujeitos assumiriam estratégias interacionais diferentes daquelas atualizadas no jogo interlocutivo familiar, bem como agenciariam outras estratégias na construção textual (incluindo algumas daquelas acima mencionadas). Quanto às primeiras, essa diferença pode manifestar-se em função do grau de formalidade entre os interlocutores, imposto pelos papéis sociais (hierárquicos) desempenhados por eles. Por exemplo, explícita ou tacitamente, ou polidamente, esses participantes, para se evitarem os assaltos aos turnos dos parceiros, comportamento típico da interação informal, poderiam negociar um tempo determinado para que cada um fale, o que obviamente iria influenciar nos procedimentos da composição textual, seja no nível microestrutural seja no macroestrutural. Assim, quanto à atividade da composição textual, esta circunscrita às formas padronizadas do discurso em que se materializará o gênero, os interlocutores, orientados pelo seu intuito discursivo, e projetando as atitudes responsivas de seus parceiros, na verbalização das informações, selecionariam os recursos lingüísticos que adequadamente serviriam a sua finalidade enunciativa: convencer, persuadir, agradar, 10
impressionar, etc. Para tanto, teriam de atualizar operações discursivas, modalizadas na forma de, por exemplo, narração, descrição, argumentação, que lhes permitissem fundamentar, justificar, explicar, completar, repetir, parafrasear, corrigir, resumir, enfatizar o que está sendo enunciado, visando não só à compreensão dos parceiros como também à consecução do efeito de sentido desejado, ou seja, fazer cumprir o seu projeto discursivo. A respeito desse último exemplo, aqui se está apontando apenas um dos possíveis funcionamentos discursivos do gênero reunião. Na verdade, tal gênero não se mostra homogêneo, na medida em que corresponde a formas de interação cuja atualização configuracional pode- se dar de modo diverso, combinando procedimentos de negociação de fala, organização textual e abordagem temática adequados ao projeto discursivo dos participantes, orientado pela instância social de uso da linguagem. Isso evidentemente não se limita às reuniões, há tantos outros gêneros, como por exemplo, as cartas, produzidas em instâncias públicas, que, ao longo do tempo, vêm apresentando uma dimensão configuracional distinta, resultante de práticas de interação sócio-históricas construídas nas instituições que as produzem. Essas práticas se ambientam em uma cultura em que os modos de circulação e difusão desse gênero convivem com o impresso e o eletrônico. Aí estaria um trabalho de pesquisa que me parece instigante empreender, a fim de saber como esse gênero discursivo, construído há dezenas de séculos, vem criando verdadeiras redes de representações de escrita, de texto e de modos de interação, as quais, por se reportarem a um grande tempo, não deixam de refletir e acompanhar as variedades virtuais dos usos da linguagem. Para encerrar e complementar essas considerações recorro agora a algumas reflexões tecidas por Marcuschi (1995), cujas idéias dialogam, em grande medida, com as palavras bakhtinianas sobre a noção de gênero. Esse lingüista brasileiro, a fim de esclarecer a que tipo de funcionamento se presta o conceito de gênero, faz um levantamento de um conjunto hipotético de realidades empíricas que possam retratar as condições de funcionamento de alguns dos gêneros nas esferas de atividades sociais, bem como examina os possíveis traços lingüísticos que podem manifestarse na constituição textual dos mesmos. A rigor, Marcuschi opera com a mesma noção de gênero empregada na obra de Bakhtin: gêneros discursivos, por ele denominados gênero textual , são formas de uso da língua, construídas à luz dos objetivos dos falantes e da natureza do tópico (tema) proposto na situação comunicativa. Pondera igualmente que “os gêneros não “existem” objetivamente como um dado, mas se constroem na interação comunicativa e são fenômenos contextualmente situados.”. E continua dizendo que os sujeitos, em seus processos interlocutivos, para tomarem decisões acerca do processamento do texto (recepção e produção), pertencente a um dado gênero, orientam-se por um saber social, um 7 “Marcuschi (1995) “em” Fala e escrita: relações vistas num continuum tipológico com especial atenção para os dêiticos discursivos” adotam a terminologia gênero textual ao invés de gênero discursivo. A meu ver, essa diferença é somente de ordem terminológica, e não conceitual, como procurarei mostrar no decorrer de minha exposição. E, para não romper com o tratamento terminológico aqui utilizado por este texto, manterei expressão gênero discursivo. 11
saber intuitivo construído nas esferas das relações sócio-comunicativas com as quais interage, tal como pensa Bakhtin. É esse saber, correspondente a um conhecimento de natureza tipológica, que pode explicar a razão pela qual é tão comum os interlocutores especificarem o tipo de gênero discursivo que estão produzindo ou lendo/ouvindo. Assim, como diz esse lingüista, ouve-se, com freqüência, as pessoas, ao se referirem às práticas correntes de comunicação existente em nossa sociedade, usarem o nome do gênero. E exemplifica (ibidem, p.4): No telefonema de ontem aula de hoje… nessa discussão… minha conferência foi.. o debate de ontem… a entrevista de fulano… o bate-boca daquela noite… a piada do dia é… a reportagem de ontem… o editorial desse jornal… a carta de minha mãe… o horóscopo de hoje.. o artigo sobre… o relatório da escola… o resumo do artigo.. a petição do advogado… Marcuschi, ao fazer uma descrição mais localizada de alguns traços lingüísticos que recorrentes na configuração formal de textos pertencentes a alguns gêneros do discurso, aponta que estes, por possuírem um alto grau de esteriotipia, ou seja, formas relativamente estável de manifestação do discurso, trazem muitas vezes na superfície textual algumas marcas lingüísticas geralmente previsíveis e identificáveis de imediato pelos sujeitos. Exponho aqui alguns exemplos por ele sugeridos (ibdem, p., 4): – “era uma vez…” (abertura de histórias ficcionais, conto de fadas) – “conhece aquela do português…” (piada) – “tome dois quilos de açúcar e adicione…” (receita) – “o tema de hoje será a Revolução Francesa” (conferência ou aula) – “prezado amigo…” (abertura de carta) – “eu o condeno há cinco anos…” (julgamento em tribunal) – “alô quem é?… (telefonema) Se quiséssemos ampliar essa listagem, com certeza, encontrar-se-iam mais algumas estruturas lingüísticas previsíveis na configuração formal desses gêneros, como igualmente outras tantas para os demais aqui não mencionados. Essa previsibilidade no uso dos recursos lingüísticos, na realização dos enunciados, não deve ser, contudo, encarada como 12
uma impossibilidade de os sujeitos não poderem selecionar outras formas lingüísticas para dizer o que tem a dizer, e, por lado, que os gêneros discursivos figuram como uma camisa de forças à qual os sujeitos se submetem, (aliás, em passagens anteriores procurei apontar a plasticidade presente neles). Ao contrário, para se pensar essa questão, há que se observar que essas construções são fórmulas históricas que surgiram ao longo do tempo e de práticas sociais, resultantes do trabalho lingüístico empreendido (e que vem sendo empreendido) pelos sujeitos em suas relações interacionais, como já se expôs. E, em sendo resultado do trabalho lingüístico, elas são socialmente avaliadas e dotadas de certo valor no que concerne à finalidade e à eficácia do uso, este, por sua vez, vai sendo disseminado nos e pelos próprios processos interlocutivos atualizados nas esferas das atividades sociais. A escolha, por parte do sujeito, de recursos lingüísticos, dentre outros disponíveis ou virtualmente possíveis, reflete uma ação individualizada desse sujeito sobre e no próprio trabalho lingüístico construído coletivamente nos processos interlocutivos de que vem participando. Ao escolher, procura fazê-lo por razões do seu projeto discursivo em consonância com o gênero, o seu destinatário e a instância do uso da linguagem. Creio que essas considerações tenham-me possibilitado atender parte do propósito deste texto – o de refletir sobre a noção de gênero. Antes, porém, de passar à discussão de tipo textual e, aí cumprir o intento deste trabalho, julgo necessário, mesmo correndo o risco de ser redundante, dizer que o funcionamento a que se presta a noção de gênero, como uma categoria de análise, define-se por uma abordagem das manifestações concretas do discurso cujas formas de materialidade são determinadas pelos gêneros discursivos produzidos pelos sujeitos nas e pelas instâncias sociais de uso da linguagem. Sob esse ponto de vista, e retomando a problematização anunciada na introdução deste trabalho, a noção de gênero discursivo reenvia, em ternos operacionais, a um estudo do uso, (dimensão pragmático-social), da forma (dimensão lingüístico-textual) e do conteúdo temático dos discursos, (dimensão temática/macroestrutural) materializados na forma de texto. Em suma, para se depreender a natureza do gênero discursivo, as entradas a serem feitas no texto (aqui tomado como a unidade de análise) hão de contemplar todas as dimensões que o constituem, caso contrário, se apenas iluminar uma delas, deixando as outras à sombra, neutralizando-as, pode-se correr o risco de lidar com outra realidade lingüística e aí criar outro objeto de estudo. 4 – Tipos Textuais Mesmo sem uma preocupação imediata de delimitar a que funcionamento se prestava a noção de tipo textual precisando a que realidades da linguagem poderia ela referir-se, já no início deste trabalho, bem como no decorrer da exposição do item 3, fui sinalizando a direção que me parece adequada assumir para pensar as condições de funcionamento dessa categoria de análise, no tratamento do texto, quando da apresentação de uma brevíssima análise sobre a relação de implicação entre carta e narração (e, ou descrição dissertação/argumentação, injunção) a fim de apontar como esta pode atualizar-se 13
na organização textual daquela (ou seja, daquele gênero discursivo). Passo agora a focalizar essa questão. Em alguns estudos desenvolvidos no âmbito da lingüística textual , tipo textual é uma noção que remete ao funcionamento da constituição estrutural do texto. Isto é, um texto, pertencente a um dado gênero discursivo, pode trazer na sua configuração vários tipos textuais, como a narração, descrição, dissertação/argumentação e injunção, os quais tecem a tessitura do texto, ou, nas palavras de Bakhtin, compõem a estrutura composicional do texto aos padrões do gênero. Por exemplo, no romance, um dos gêneros do discurso literário pode aparecer em sua estrutura composicionais vários tipos textuais, tais como: a narração, para relatar os acontecimentos, os fatos, a progressão das ações dos personagens; a descrição, para caracterizar ou dizer como são os personagens, as ações praticadas por elas, o cenário em que as ações estão se realizando; a dissertação/argumentação para comentar, avaliar as ações dos personagens, seus sentimentos e atitudes. Nessa perspectiva, tipo textual é amplamente tomado como uma categoria que se presta a pensar e caracterizar o funcionamento de um dos planos constitutivos do texto – a estrutura interna da configuração textual. Considerando-se que o discurso se materializa no texto, cujo plano estrutural assume uma dada configuração em virtude de uma correlação entre os elementos de sua organização e suas condições de produção, pode-se, especificando um pouco mais essa noção, tratar os tipos textuais como modos enunciativos de organização do discurso no texto (cf., Charaudeau, 1992), efetivados por operações textual-discursivas (como se mencionou nos itens 2 e3), construídas pelo locutor em função de sua atitude discursiva em relação ao seu objeto do dizer e ao seu interlocutor, tudo isso regulado pelo gênero a que o texto pertence e pela situação interlocutiva, ambientada em dada instância social do uso da linguagem. Dito de outro modo, o locutor atualiza uma série de operações textual-discursivas que incidem nos níveis micro e macroestruturais da configuração formal e conceitual do texto, as quais são geradas, ativadas, no processo da produção textual, para atingir o seu objetivo enunciativo e, conseqüentemente, efetivar o efeito de sentido que ele pretende provocar no interlocutor. Essas operações podem modalizar-se na forma de: a) narração, se o que se quer é contar, disser os fatos, os acontecimentos; b) descrição, se o que se quer é caracterizar, disser como é o objeto descrito, fazendo conhecê-lo; c) dissertação/argumentação, se o quer se quer é refletir, explicar, avaliar, comentar, conceituar, expuser idéias, ponto de vista para dar a conhecer, para fazer saber, fazer crer, associando-se à análise e à interpretação; e, por fim, d) a injunção, se o que se quer é incitar a realização de uma ação por parte do interlocutor, orientando-o e aconselhando-o como se deve fazer algo, enfim, o que se busca é o fazer fazer, o fazer agir do outro. 8 Para as considerações que aqui tecerei sobre a noção de tipo textual, utilizarei reflexões provenientes de diferentes quadros teóricos. O meu propósito não é o de situá-la no interior de cada um deles, resenhando as perspectivas que os orientam. O que pretendo é articulá-los de modo que possa elaborar uma síntese dessa noção, apontando as dimensões que concorrem para o seu funcionamento. Acredito que, ao fazê-lo, não estarei rompendo com a idéia fundante presente em cada um desses quadros. Destaco as fontes nas quais me apoio para tal reflexão:Orlandi (1987), Fávero e Koch (1987), Adam ( 1987, 1991), Charaudeau (1992). 14
Salienta-se que esses modos enunciativos assumem uma função específica e variável na constituição do texto, em razão da finalidade comunicativa que este engloba. Por exemplo, as seqüências narrativas não se inscrevem da mesma maneira na construção do sermão, da notícia, do conto de fadas, da conversação espontânea, etc. Enquanto nos narrativos presentes em romances, contos de fadas, a ordenação cronológica dos episódios pode ser dominante, em cuja disposição há sempre uma relação de anterioridade e posteridade em relação à seqüenciação linear dos fatos na ordem de seu acontecimento; já em alguns textos noticiosos, tal ordenação pode não assumir essa rigidez, ou seja, coloca-se primeiramente em evidência o sumário do assunto em questão, na forma de manchete e lead, em seguida apresenta-se o evento principal, e em relação a este podem-se apresentar as conseqüências do fato e depois relacioná-las às causas, ou vice-versa, atribuindo, estrategicamente, às informações veiculadas nestas ou naquelas, uma relevância mais elevada (cf. Van Dijk, 1992). Da mesma forma, as seqüências descritivas presentes em bula de remédio, em manual de instruções de montagem de aparelhos eletroeletrônicos, em processos jurídicos (defesa ou acusação), em conto, em romance, ou em verbetes de enciclopédias, atualizamse de modo diferenciado. Em alguns romances, epopéias, histórias de ficção científica, a descrição, geralmente a serviço da ação narrativa, cumprindo funções de natureza ornamental ou estética, entre outras, suspende o fluxo narrativo para focalizar detalhadamente os personagens, as ações destas, o cenário, etc.; já nas bulas de remédio, nos verbetes de enciclopédias, modaliza-se a descrição, didaticamente, para definir, caracterizar, enumerar de modo objetivo os elementos ou aspectos que compõem o objeto descrito. Por essa via, a noção tipo textual subsume uma dimensão discursiva se considera que cada tipo é objeto de modalização específica, dada a natureza do gênero a que o texto pertence. Retomando e resumindo, pode-se dizer que tipo textual figura como uma noção que se define pela determinação das relações internas da organização estrutural do discurso concretizadas no texto, as quais se dimensionam a luz do projeto discursivo do locutor. Para avançar um pouco mais nessa discussão, tomemos agora as relações intercambiáveis entre os tipos textuais na configuração estrutural dos textos, relativamente semelhante às que ocorrem com os gêneros. Em textos, como por exemplo, sermão, tese acadêmica, peças jurídicas, os artigos publicitários, etc., na construção propriamente dita de sua argumentação, podem ser modalizadas a narração, descrição, a injunção, a dissertação, como operações textual-discursivas, para cumprir a finalidade enunciativa do discurso: a de provar, evidenciar, ilustrar, demonstrar, orientar, constatar o que está sendo enunciado. Assim, na tessitura dos próprios argumentos, pode-se contar um determinado fato, descrevê-lo, comentá-lo, avaliá-lo, tomá-lo como exemplar (ou não, em casos de refutação) para orientar, aconselhar o interlocutor, bem como pode-se apresentar depoimentos, relatos, testemunhos, (inserção de gêneros primários) de modo que possa fazer saber, fazer crer, fazer agir, isto é, persuadir e convencer interlocutor, transformando-o, conquistando a sua adesão (ou concordância com) ao que está sendo dito, assim instigando-o aderir ao universo discursivo do locutor (verdades, crenças, etc.). Há, entretanto, alguns textos, cuja organização estrutural se dá em torno de um de modo de organização enunciativo dominante, sobrepondo aos outros também presentes configuração do texto. Só para citar, 15
têm-se o romance, o conto, as fábulas, as parábolas, os apólogos, em que se predomina a narração. Nestes três últimos gêneros, a narração é estrategicamente usada como um modo enunciativo para argumentar. Vale ressaltar, ainda, que a todo e qualquer discurso subjaz um veio de argumentatividade que se projeta, em grau maior ou menor, em função do projeto discursivo do locutor. Há alguns discursos em que essa orientação argumentativa chegar a atingir o grau máximo, cuja manifestação se dá de modo explícito na materialização lingüística dos enunciados. Só para citar, têm-se os textos pertencentes ao gênero publicitário, as propagandas de modo geral; os do gênero jornalístico, o editorial, reportagens, as matérias opinativas em geral; os do gênero jurídico, os processos judiciários (as peças de defesa e acusação); e, os gêneros do discurso religioso, o sermão, os salmos, etc. Ao modo enunciativo presente em textos dessa natureza atribui-se o nome de argumentativo stricto sensu (cf. Fávero e Koch, 1987), distinguindo-se assim do modo dissertativo/ expositivo, pois neste a orientação argumentativa pode não necessariamente construir-se explicitamente pelo jogo da persuasão. Em suma, nas palavras de Fávero e Koch (1987, p.9): “num continuum argumentativo, podem-se localizar textos dotados de maior ou menor argumentatividade, a qual, porém, não é jamais inexistente: a narrativa é feita a partir de um ponto de vista, na descrição, selecionam-se os aspectos a serem representados de acordo com os objetivos que se têm em mente; a exposição de idéias envolve tomadas de posição (nunca se tem a coisa em si, mas como ela é vista por alguém) e assim por diante. Nessa perspectiva, não há textos, cujos discursos se apresentam neutros, não eivados por nenhuma carga ideológica (na acepção mais ampla do termo), tampouco, do ponto de vista da sua configuração estrutural, não há textos puros e homogêneos, mas, sim, como bem afirma Adam (1991,11), o texto “é uma estrutura de seqüências heterogêneas, complexas, na qual podem figurar seqüências de tipos diversos, ou uma seqüência de tipo dominante”. Em uma linha teórica relativamente semelhante a essa, encontram-se os trabalhos de Van Dijk (1983, 1992), cuja discussão centra-se na relação entre macroestrutura textual (conteúdo semântico global do texto) e superestruturas ou esquemas textuais. Para esse lingüista holandês, tal como prevê Bakhtin, alguns textos produzidos na e pela sociedade, pertencentes aos gêneros discursivos, possuem esquemas globais, relativamente convencionais, que organizam a macroestrutura (plano semântico/ tema) do texto. E são esses esquemas, ou superestruturas, como afirma Van Dijk, que contribuem para caracterizar o tipo textual atualizado no texto. narrativos e o dissertativo/argumentativo, Embora tenha estudado somente os tipos em histórias, notícias e propagandas, respectivamente, para verificar-lhes a configuração da superestrutura, esse lingüista, em interlocução com outros teóricos, pressupõe (por extensão) que descrição e a injunção 16
igualmente demandam uma arquitetura textual, dando a cada uma delas uma dimensão configuracional peculiar. Pode-se resumir aqui este princípio dizendo-se que a superestrutura, do ponto de vista configuracional, reportam a modelos abstratos que se constituem por uma série de categorias (partes), umas obrigatórias, outras opcionais, as quais se organizam, esquemática e hierarquicamente, determinando os arranjos (macroproposições) possíveis para estruturar conceitualmente o conteúdo informacional (macroestrutura semântica global) veiculado no texto. Por exemplo, a superestrutura da narrativa canônica presente em textos dos gêneros como conto de fadas, fábulas, lendas, relatos/depoimentos, narrativas de costumes, novelas, romances, etc. é basicamente composta das seguintes categorias: situação inicial, complicação/ clímax, resolução, situação final, muitas vezes, seguidos da moral da história (o coda). Já a da dissertação/argumentação, presente em textos como sermão, editorial, algumas propagandas, teses acadêmicas, peças judiciárias, etc., se organiza esquematicamente por estas categorias: tese (problematização), o conjunto dos argumentos (argumentação ou justificativa propriamente dita) e a conclusão (solução do problema). O modelo superestrutural do tipo descritivo atualizado em textos como guias turísticos, romances, manuais instrucionais, resenhas de jogos, etc., funda-se nas seguintes categorias: palavra de entrada – objeto ou tema/título (a coisa a ser descrita); especificação do objeto descrito – denominação, definição, expansão e/ou divisão (situação espáciotemporal e qualificação). E, por fim, o da injunção constitui-se por uma prescrição de comportamentos seqüencialmente ordenados: ação1 + ação2+ ação3…… Açãon = resultado ou produto, em se tratando de textos como receita culinária, receita médica, bulas de remédio, manuais de montagem de objetos em geral, resenhas instrucionais de jogos, etc.; já em textos como horóscopo, profecias, boletins meteorológicos, previsões em geral, há uma variação na natureza das categorias: Evento1+ evento2 + evento3….. eventon. Os modelos esquemáticos dos tipos descritivo e injuntivo, conforme Adam (1987), Fávero e Koch (1987), inscrevem-se na tessitura do texto, atualizados em macroproposições que, articulando-se com as outras em que tipos se manifestam, compõem a rede superestrutural, cuja somatória resulta numa dada configuração textual. Nesse quadro, e retomando o que se disse há pouco, tipos textuais ou modos de organização discursivos narrativo, descritivo, injuntivo, dissertativo/argumentativo – possuem uma função estrutural e estruturante na organização interna do texto. Vale reafirmar que os textos orais e escritos, pertencentes aos gêneros discursivos produzidos na e pela sociedade, não se apresentam puros, homogêneos. Dificilmente se encontram textos em cuja estruturação há somente uma forma discursiva descritiva, injuntiva, narrativa ou dissertativas/argumentativa. Em outras palavras, os textos atualizados nos processos interlocutivos não são homogêneos em relação a esses tipos. Tais tipos, tomados em sua forma esquemática, são modelos abstratos, cujas designações são teoricamente fundadas e dedutivamente derivadas para descrever e identificar os planos que compõem funcionamento de textos (cf. Marcuschi, 1995). Em suma, os esquemas 17
superestruturais acima expostos possuem uma existência teórica à parte (abstraída) da realização empírica de qualquer texto, concreto, real, construído nas relações interlocutivas sociais. Esses esquemas, em ternos operacionais, figuram como instrumentais teóricometodológicos, construídos ad hoc, para implementar análises que atuam nesse domínio textual. Considerações finais Ao cabo dessas observações, resumidamente, à luz desse quadro teórico, pode-se dizer que essas caracterizações atribuídas à noção tipo textual se imbricam, uma exercendo pressão sobre a outra, dimensionando-a, como categoria de análise, que se define à luz de um conjunto de princípios textual-discursivos que incidem fundamentalmente sobre planos internos da composição do texto, nos quais se atualizam os modos de organização discursivos que figuram no texto. Esses modos discursivos ou tipos textuais, como se expôs, assumem formas e funções variáveis e especificas dada a natureza do gênero a que pertence o texto. Já, gênero discursivo é uma designação que diz respeito a todas e quaisquer manifestações concretas do discurso produzidas pelos sujeitos em uma dada esfera social do uso da linguagem. Como se expôs, os gêneros são formas de funcionamento da língua que nós, sujeitos, construímos e atualizamos na forma de texto, nas situações discursivas de que participamos. São fenômenos, contextualmente situados, (re) conhecidos por nós empiricamente. Ou seja, sabemos o que é uma carta, um bilhete, uma piada, um bate-papo, uma história, um caso, uma notícia, uma missa, etc., na medida em que (e à medida que) convivemos com essas formas de interlocução em nossa sociedade. Em suma, as expressões gênero discursivo e tipo textual, tomadas como categorias de análise, recobrem realidades distintas do funcionamento do discurso, o que, do ponto de vista teórico-metodológico, não impede que haja entre elas uma relação de entrecruzamento para pensar e caracterizar como se manifesta o discurso no texto. Essa distinção, tal como sugere Marcuschi (1995,3), equivaleria a uma distribuição entre uma classificação empírica e uma classificação teórica. Sob esse princípio, afirma esse lingüista, como já se disse, um tipo seria muito mais um constructo teórico, ao passo que um gênero seria uma identificação empírica, mas não necessariamente a identificação de um evento. Por fim, convém dizer que as reflexões aqui desenvolvidas sobre a que funcionamento se presta as noções de gênero discursivo e tipo textual, como categorias de análise, em trabalhos que se propõem um estudo de tipificação de textos, não devem ser encaradas como uma solução pronta e acabada para pensar tal questão. A isso se some igualmente a escolha da terminologia para referir-se aos dados, tendo em vista a sua natureza e extensão, aqui colocadas em análise. Aliás, a respeito disso, como se mencionou na introdução, considera-se que o mais importante é que se tenha mais atenção aos conceitos que aos nomes em si. E, igualmente, vale dizer que não é necessário que todos aqueles que proponham um trabalho de tipificação aos textos adotem uma mesma classificação. Creio que, na adoção de uma ou de outra dessas categorias, parece ser prudente que se explicite que princípios teórico-metodológicos os orientam na escolha de 18
uma ou de outra, de modo que se possa saber o que está tomando-se como posto de observação, ou a que dimensões do funcionamento da linguagem está contemplando. Résumé Cet article a pour but de réfléchir sur le fonctionnement des notions de genre discursif et de type textuel, quand elles sont utilisées comme des catégories d’analyse des textes produits dans et par la société. Avec cet objectif, nous proposons une distinction théorique et méthodologique entre ces notions, pour considérer que chacune se rapporte à des réalités différentes dans le fonctionnement du discours. Referências bibliográficas ADAM, Jean Michel. Textualité et séquentialité. L’exemple da la description. Langue Française: la typologie des discours. Paris, Larousse, no 74, p. 51-71, maio,1987. ———— . Cadre théorique d’ une typologie séquentielle. Études de Linguistique appliquée: Textes, discours, types et genres. Paris, Didier Érudition, nos 83 , p. 7-18, juillet-septembre, 1991. BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1990. ————. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. CHARAUDEAU, P. Grammaire du sens e de l’expression . Paris, Hachette, 1992. GERALDI, J.W. Portos de passagem. São Paulo: Martins Fontes, 1991. ISENBERG, Horst. Cuestiones fundamentales de tipologia textual. In: Bernardez, Enrique (org.). Lingüística del texto. Madrid, Asco/libros, 1987, p.97-129. KOCH, I.G.Villaça & FÁVERO, L. Lopes. Contribuições a uma tipologia textual. Letras & Letras. Uberlândia: EDUFU, V.3, no 1.p.3-10.junho,1987. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Fala e escrita: relações vistas num continuum tipológico com especial atenção para os dêiticos discursivos. Texto digitado, apresentado em mesa- redonda no II Encontro nacional sobre fala e escrita. Maceió, novembro de 1995. P.1-11. POSSENTI, Sírio. Discurso, estilo e subjetividade. São Paulo: Martins Fontes, 1988. ORLANDI, E. Pontes. A linguagem e seu funcionamento: as formas do discurso. São Paulo: Pontes, 1987. SILVA. J. Quintiliano. As tipologias textuais e a produção de texto na escola. Belo Horizonte, FAE/ UFMG, 1995. Dissertação de Mestrado. VAN DIJK, Teun. A cognição, discurso e interação. São Paulo: Contexto, 1992. ———— La ciencia del texto: um enfoque interdisciplinário. Buenos Aires, Barcelona, Paidós, 1983. 19
Dez passos para produzir artigo científico de sucesso Comunicação Científica doi: 10.5123/S1679-49742017000300023 Ten steps for writing a successful scientific article Diez pasos para producir un articulo científico exitoso Maurício Gomes Pereira1 Universidade de Brasília, Programa de Pós-Graduação em Ciências Médicas, Brasília-DF, Brasil 1 A publicação de artigos científicos é uma das formas pelas quais os pesquisadores divulgam os resultados de suas investigações e reflexões. Para que um artigo seja publicado em periódico científico, algumas qualidades são requeridas. O tema deve ser relevante, a pesquisa de qualidade e o relato bem feito.1,2 O presente texto aborda noções práticas que podem auxiliar a preparação de relatos bem feitos de investigação (Figura 1). • Passo 1. Decida o objetivo do artigo A redação se torna mais fácil quando se tem objetivo claro e bem focado. Objetivos pobremente definidos ou em grande número prejudicam o processo de redação, pois se torna difícil alcançar as qualidades de um bom texto, como clareza, concisão e sequência lógica. O objetivo de uma pesquisa pode ficar mais claro se formulado como pergunta. Por exemplo, recentemente, quando se notou o aumento do número de casos de microcefalia, os pesquisadores formularam as seguintes perguntas. Existe associação entre microcefalia e infecção pelo vírus Zika? Essa associação é do tipo causa-efeito? Hoje, há fortes evidências de que a associação entre microcefalia e infecção pelo vírus Zika seja causal. • Passo 2. Escolha o periódico para o qual o artigo será encaminhado Existe extensa gama de periódicos científicos nas diversas áreas do conhecimento. Há também hierar- quias entre eles, baseadas na influência que tenham na comunidade científica. São muitos os critérios para compor hierarquias, entre os quais, a indexação do periódico em bases de dados de prestígio, o número de citações recebidas pelo periódico e o idioma de publicação. Familiaridade com esses critérios possibilita melhores escolhas. No entanto, em periódicos de grande prestígio, que são os mais procurados pelos autores, a proporção de recusas de publicação é maior. Levar em consideração essa dificuldade no momento de escolha do periódico é uma boa prática. Um periódico de prestígio médio pode muito bem alcançar a clientela almejada para o artigo. • Passo 3. Muna-se de guias que facilitem a redação Selecionado o periódico científico para o qual o artigo será encaminhado, o passo seguinte é ler as respectivas instruções para autores. Outra providência consiste em inspecionar números recentes do periódico para se ter noção do perfil dos artigos que lá se encontram. Há também muitos guias de redação para consulta,3 assim como recursos diversos, sob a forma de artigos ou livros, úteis para esclarecer dúvidas e evitar a improvisação desnecessária. • Passo 4. Redija a estrutura do artigo Qualquer comunicação, oral ou escrita, tem sequência lógica. Essa pode constar de introdução, desenvolvimento Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 26(3):661-664, jul-set 2017 661
Dez passos para produzir artigo científico de sucesso 1. Decida o objetivo do artigo. 2. Escolha o periódico para o qual o artigo será encaminhado. 3. Muna-se de guias que facilitem a redação. 4. Redija a estrutura do artigo. 5. Complemente o texto com as partes que lhe faltam. 6. Revise o texto diversas vezes. 7. Certifique-se de que o artigo é metodologicamente correto. 8. Assegure-se de que não há falhas de redação. 9. Submeta o artigo para publicação. 10. Lide adequadamente com editores e revisores. Figura 1 – Os dez passos para preparar artigo científico de sucesso do tema e conclusão. A conclusão representa a resposta do autor à pergunta a que a pesquisa buscou responder. Em muitos periódicos adota-se outra divisão para o texto, o formato IMRD, iniciais de introdução, método, resultados e discussão. Os editores e muitos leitores defendem que a padronização em quatro partes é mais útil, pois permite melhor entendimento e análise do texto. Em cada uma das partes, devem constar as informações para o leitor entender o que foi feito e convencê-lo da adequação e da credibilidade da conclusão a que chegaram os autores. Ver orientação na Figura 2. • Passo 5. Complemente o texto com as partes que lhe faltam Além de preparar o corpo do artigo, na forma IMRD, há outras exigências dos editores de periódicos. Entre elas, compor a lista de referências do material citado no texto, um resumo, o título do artigo e o nome dos seus autores.4 Para cada um desses quesitos há diretrizes a serem seguidas. Por exemplo, a lista não pode ultrapassar trinta referências e o resumo, no máximo, 150 palavras. Convém verificar esses e outros limites nas instruções para autores do periódico ao qual se submeterá o texto e, em sua falta, consultar guias de redação científica. • Passo 6. Revise o texto várias vezes A finalidade das revisões é assegurar-se de que as palavras utilizadas reflitam corretamente o que o autor tem a relatar. Várias revisões são habitualmente necessárias. Outros objetivos das revisões são confirmar números, eliminar erros de grafia e de gramática, retirar repetições e suprimir o supérfluo. O escritor norte-americano Mark Twain (1835-1910) afirmou que há três regras para bem escrever: “A primeira é revisar; a segunda, revisar; e a terceira, revisar.” 662 Ver a Figura 3 para mais um pronunciamento sobre o assunto. • Passo 7. Certifique-se de que o artigo é metodologicamente correto O autor que pretende submeter artigo para publicação deve ter em mente que o texto será avaliado e que irá participar de uma disputa por espaço nas revistas científicas. Portanto, é bom pensar em produzir artigo de alta qualidade para aumentar as possibilidades de sucesso. Isso significa, entre outros cuidados, preparar texto que contenha respostas a prováveis questionamentos metodológicos. O artigo será examinado por especialistas rigorosos que, não raramente, irão exigir a perfeição em situações nas quais eles mesmos não são capazes de alcançá-la. É essencial preparar o texto para essa avaliação. Tendo em vista o grande número de artigos que terá de ler para estar atualizado, o leitor agradeceria encontrar somente textos claros e concisos. Os revisores e o editor funcionam como representantes do leitor e, de maneira mais ampla, representantes da comunidade científica na tarefa de só deixar publicar artigos de qualidade. • Passo 8. Assegure-se de que não há falhas de redação A legibilidade é responsabilidade do autor. Depois das revisões do texto e de se esgotarem as consultas a colegas de trabalho e autoridades no tema, uma possibilidade para certificar-se de ausência de falhas no texto é consultar profissional da área de letras. Escolha alguém que o assista em questões gramaticais e redacionais, mas sem mudar seu estilo. Se a colaboração dessa pessoa for substancial, recomenda-se que o auxílio seja reconhecido na parte de agradecimentos. É necessário que a pessoa concorde em ter seu nome citado nos agradecimentos.4 Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 26(3):661-664, jul-set 2017
Maurício Gomes Pereira Seção Conteúdo Perguntas-chave Introdução Apresentação de informações sobre o tema, a justificativa para a investigação e o objetivo. De que trata o estudo? Por que a investigação foi feita? O que se sabia sobre o assunto? Método Descrição do tipo de estudo, do cenário da pesquisa, da amostra, dos procedimentos e dos aspectos éticos. Como o estudo foi realizado? Resultados Apresentação dos achados, acompanhados da respectiva análise estatística, se aplicável. O que foi encontrado? Quais são os fatos revelados pela investigação? Discussão Interpretação dos resultados, comparações e conclusão. O que significam os achados apresentados? O que este estudo acrescenta ao que já se sabia sobre o assunto? Fonte. Pereira MG. Artigos científicos: como redigir, publicar e avaliar. Rio de Janeiro, Editora Guanabara-Koogan, 2011. p. 30. Figura 2 – Estrutura do artigo científico em quatro seções e o conteúdo de cada seção Deve-se escrever da mesma maneira com que as lavadeiras lá de Alagoas fazem em seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota. Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. Figura 3 – Como escrever, segundo o escritor brasileiro Graciliano Ramos, nascido em Alagoas (1892-1953) • Passo 9. Submeta o artigo para publicação Sugere-se a releitura das instruções para autores e a inspeção de número recente da revista antes da submissão. Siga estritamente o que lhe é pedido nas instruções, mesmo que não entenda as razões da solicitação. Assim procedendo, estará colaborando com o pessoal da secretaria do periódico. A submissão de material em desacordo com as normas retarda seu processamento, não raramente sendo motivo de recusa do artigo para publicação. No site da revista, encontram-se instruções de como submeter e que documentos devem acompanhar a submissão. O editor, de posse do artigo, providencia para que pessoas experientes, inclusive ele próprio, o avaliem. O texto será submetido à visão de especialistas, em princípio, exímios conhecedores do tema da pesquisa e de questões de método. Como nem sempre essas duas condições são encontradas no mesmo indivíduo, e com o propósito de diminuir a subjetividade da avaliação, mais pessoas apreciarão o texto com o intuito de recomendar ao editor o que fazer. Se possível, deve-se melhorá-lo ainda mais. Essa é a essência do processo de revisão por pares (peer review em inglês), adotado nas revistas respeitadas pela comunidade científica. • Passo 10. Lide adequadamente com editores e revisores Submetido o artigo para publicação, o autor deve esperar pelo veredicto, de aceitação ou recusa. Ele pode chegar logo ou demorar semanas, mesmo meses. No caso de demora excessiva, vale a pena escrever mensagem ao editor solicitando esclarecimentos sobre o andamento da avaliação. Em caso de aceitação pelo editor, o autor precisará apenas adaptar seu material às sugestões dos revisores. Se a decisão for pela recusa, o caminho para o autor é a serenidade. Editores e revisores são seres humanos, ciosos da posição que ocupam de decidir o destino do artigo que avaliam. Podem errar, mas raramente o admitem. Ocorre que não há espaço na revista para todos os artigos submetidos. Nem sempre a recusa é produto de julgamento de valor sobre a qualidade do texto. Evite pedir explicações adicionais ao editor, pois elas raramente são dadas. O que fazer? Talvez outro periódico o aceite. Autores experientes já passaram por atribulações semelhantes. Tente, sem tardar, outro periódico. Antes, revise o texto e incorpore as sugestões pertinentes que o editor lhe tenha enviado. E boa sorte. Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 26(3):661-664, jul-set 2017 663
Dez passos para produzir artigo científico de sucesso Referências 1. Pereira MG. Estrutura do artigo científico. Epidemiol Serv Saúde. 2012 abr-jun;21(2):351-2. 2. Pereira MG. Artigos científicos: como redigir, publicar e avaliar. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 2011. 383 p. 4. Duarte EF, Pansani TSA. Recomendações para elaboração, redação, edição e publicação de trabalhos acadêmicos em periódicos médicos. Epidemiol. Serv. Saúde. 2015 jul-set; 24(3):577-601. 3. Galvão TF, Silva MT, Garcia LP. Ferramentas para melhorar a qualidade e a transparência dos relatos de pesquisa em saúde: guias de redação científica. Epidemiol Serv Saúde. 2016 abr-jun; 25(2): 427-36. 664 Epidemiol. Serv. Saude, Brasília, 26(3):661-664, jul-set 2017