FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL UNIDADE 1 – O TCC-Monografia Teológica Objetivos Didáticos Ao final do estudo desta Unidade de Aprendizagem, você deverá ser capaz de: 1. Explicar o que é Monografia; 2. Reconhecer as áreas temáticas da Teologia Sistemática; 3. Definir TCC em conformidade com as normas da ABNT; 4. Explicar as quatro principais fontes para a elaboração de um trabalho em Teologia Sistemática; 5. Descrever a importância do TCC para a sua vida acadêmica e pessoal; 6. Explicar o papel da orientação na elaboração de um TCC; 7. Usar os conteúdos aprendidos nesta UA em suas práticas de leitura e escrita acadêmicas. Preâmbulo Caro aluno e aluna. Chegamos à quinta e última semana de nossa disciplina Pesquisa e Redação Acadêmica, dedicada ao Trabalho de Conclusão de Curso (doravante TCC). O TCC, obrigatório na Matriz Curricular de nosso Bacharelado em Teologia, é composto de duas trabalhos propriamente ditos: uma Monografia Exegética e uma Monografia Teológica. Não trataremos, nesta UA, da Monografia Exegética. Por quê? Porque a elaboração da Monografia Exegética segue as diretrizes das duas disciplinas de Exegese de nosso curso (Exegese do AT e Exegese do NT). Para concluir cada uma destas disciplinas, você terá que elaborar uma monografia exegética e submetê-la para aprovação na disciplina. Feitas essas disciplinas, você terá de se matricular na Exegese Final (o TCC-Exegese), quando você poderá utilizar uma das monografias feitas para as disciplinas e aperfeiçoá-la, ampliá-la, ou refazê-la como cumprimento da demanda do TCC-Exegese. Você poderá fazer ampliações, correções, aprofundamentos e ajustes, tendo em vista que a 1
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL exigência qualitativa da exegese no Trabalho de Conclusão de Curso ser maior do que a da exegese nas referidas disciplinas. Em relação ao TCC-Monografia Teológica, a temática deve se adequar às características da Teologia Sistemática, que é a disciplina da Teologia que estuda as doutrinas e conceitos da confessionalidade cristã. Você não poderá elaborar Monografias com temas de Teologia Prática, Missiologia, Educação Cristã e similares. Por quê? Porque trabalhos nessas áreas do currículo estarão vinculados às Atividades Extensionistas e ao Estágio Supervisionado. No TCCMonografia Teológica você poderá demonstrar as suas habilidades de compreensão, reflexão e escrita no campo da Teologia Sistemática. Doutrinas Teologia Sistemática Conceitos Por isso, a elaboração do TCC Monografia Teológica já terá início nas disciplinas de Teologia Sistemática. Em cada uma das disciplinas de Teologia Sistemática você receberá orientação e auxílio para a elaboração do seu Projeto de TCC (Monografia Teológica) e início da escrita da Monografia. Você deverá, ainda, se inscrever no TCC Monografia Teológica (no final do quarto semestre), para elaborar efetivamente o TCC no quinto semestre letivo, sob a tutela de orientador ou orientadora designado pela Coordenadoria do curso. Não se preocupe com as eventuais repetições de conteúdo em relação à Semana passada. São propositais e visam reforçar o aprendizado! 2
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL 1. Que é uma Monografia? Vejamos a definição de Severino, um clássico na Metodologia de Pesquisa no Brasil: O termo monografia designa um tipo especial de trabalho científico. Considera-se monografia aquele trabalho que reduz sua abordagem a um único assunto, a um único problema, com um tratamento especificado (SALOMON, 1973, p. 219). […] Os trabalhos científicos serão monográficos na medida em que satisfizerem à exigência de especificação (SALOMON, 1973, p. 219), ou seja, na razão direta de um tratamento estruturado de um único tema, devidamente especificado e delimitado. O trabalho monográfico caracteriza-se mais pela unicidade e delimitação do tema e pela profundidade do tratamento do que por sua eventual extensão, generalidade ou valor didático (SALOMON, 1971, p. 167-168). (SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, 2017, p. 164) Preste bastante atenção à descrição: (a) monografia é um tipo especial de trabalho científico; (b) é caracterizada pela delimitação a um único assunto, a um único problema; (c) demanda um tratamento do especificado tema e problema – especificado pela ciência em que se elabora a monografia; (d) o tratamento do tema deve ser estruturado, em conformidade com o tema ou problema em si e em conformidade com a ciência estudada; e (e) além da unicidade, a monografia deve ser caracterizada pela profundidade de tratamento. (Fonte Imagem: https://www.radiouniversitariafm.com.br/noticias/o-papel-das-monografiasna-difusao-do-conhecimento/) Consequentemente, o TCC-Monografia Teológica deve abordar um tópico da Teologia Sistemática e delimitá-lo temática e problematicamente. Ou seja: (a) o tópico deve ser reduzido o máximo possível a um único tema; e (b) 3
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL o tema deve ser problematizado, é preciso que você resolva um problema derivado desse tema, conforme se pode depreender dos conteúdos do campo da Teologia Sistemática. Olhemos para a monografia do ponto de vista do TCC na área da Teologia Sistemática. Como você descobrirá (talvez você até já saiba), em Teologia Sistemática há uma tradição acadêmica que delimita os tópicos abordados nas obras dessa disciplina específica da Teologia. Comumente, em Teologias Sistemáticas na tradição protestante, os tópicos são: Deus (que e quem é Deus, a Trindade, os atributos de Deus, a paternidade de Deus, a revelação divina [é no tópico da Revelação que, costumeiramente, se estuda também a Bíblia como Palavra inspirada de Deus]) ou Teologia Própria; Cristologia (estudo do Messias, o Filho de Deus); Pneumatologia (estudo do Espírito Santo); Criação (estudo do ato criativo de Deus e seu objeto – o mundo todo); Antropologia (estudo do ser humano); Hamartiologia (estudo do pecado); Soteriologia (estudo da reconciliação ou da salvação e suas demais metáforas conceituais); Eclesiologia (estudo da igreja, sua natureza, ministérios e missão) e Escatologia (estudo do tempo do fim e do fim dos tempos). [Alfredo Borges Teixeira foi um dos sete pastores fundadores da IPIB e professor do Seminário. Publicou a Dogmática em 1958.] Então, você deverá começar a pensar em seu TCC escolhendo um tópico dentre esses elencados acima. Escolhido o tópico, você deverá ler textos de Teologia Sistemática sobre o tópico, a fim de poder delimitar a sua pesquisa a um tema específico e a um problema específico. Vejamos exemplos, negativos e positivos. 4
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL Exemplo 1. Tópico: Deus; Tema: A Natureza de Deus; Problema: Quem é Deus? Claramente esta é uma péssima delimitação temática e problematização. Não é possível construir uma monografia com essa generalidade do tema e do seu problema. Exemplo 2. Tópico: Deus ou Teologia Própria. Tema: A Paternidade de Deus em relação ao ser humano. Problema: Deus é Pai de todas as pessoas, ou somente das pessoas ‘convertidas’? Bem, agora já estamos no caminho adequado. O tópico (Deus) foi devidamente delimitado (a paternidade em relação ao ser humano, pois a paternidade de Deus em relação ao Filho também poderia ser um tema específico) e devidamente problematizado: Deus é Pai de todas as pessoas ou só dos ‘crentes’? Exemplo 3. Tópico: Soteriologia. Tema: A fé do Messias Jesus como base da Justificação de pessoas pecadoras. Problema: Em que consiste a fé (ou fidelidade) de Jesus Cristo como base da justificação, a partir de textos específicos de Gálatas, Romanos e Filipenses? Novamente, temos um exemplo que anda na direção correta. Exemplo 4. Tópico: Soteriologia. Tema: A Justificação pela fé. Problema: o que é a justificação pela fé? Bem, agora você mesmo pode avaliar se este é um exemplo válido ou não de monografia. Não é mesmo? Agora já sabemos o que é monografia e o que caracteriza o TCC Monografia Teológica. Podemos, então, pensar no processo de elaboração do TCC, nosso próximo tópico. 2. O Processo de Elaboração de um TCC Monografia Teológica De acordo com a Norma ABNT NBR 14274, de 2011, o TCC é um “documento que apresenta o resultado de estudo, devendo expressar conhecimento do assunto escolhido, que deve ser obrigatoriamente emanado da disciplina, módulo, estudo independente, curso, programa, e outros ministrados. Deve ser feito sob a coordenação de um orientador” (p. 4, item 3.35). 5
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL O primeiro passo para elaborar o TCC é a construção do Projeto de TCC – já estudamos na semana passada (Módulo 4 de nossa disciplina) o que é Projeto de Pesquisa e, especificamente, o que é e como fazer o Projeto do TCC. O Projeto é meio caminho andado. Ou seja, um bom Projeto é fruto de pesquisa, não de adivinhação, palpite ou chute. Siga, portanto, as instruções que você aprendeu no Módulo anterior. Veremos, a seguir, as etapas para a elaboração do TCC (algumas delas já fazem parte do Projeto do TCC!). Escolha Revisão Problema Referencial Coleta Estrutura Escrita Citação Apresentação 1. Escolha do Tópico, delimitação do tema e sua problematização (faz parte do Projeto): Ao longo da escrita do TCC, porém, pode acontecer de você perceber que deve fazer alguma alteração; 2. Revisão Bibliográfica: Também faz parte do Projeto, mas é importante que você continue pesquisando ao longo do tempo em que você escreve o TCC. Lembre-se, porém, de que há uma hora em que você precisa parar de recolher dados para a escrita! 3. Formulação do Problema e Hipóteses (também faz parte do Projeto). Ao longo da escrita do TCC, porém, pode acontecer de você perceber que deve fazer alguma alteração. Nesta etapa você já pode propor a estrutura de sua Monografia. 6
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL 4. O Referencial Teórico já está dado na definição do campo do TCC. Como sua pesquisa será na área da Teologia Sistemática, o método será o da pesquisa bibliográfica. Como um trabalho de graduação, não há necessidade de estabelecer todo o Referencial Teórico – basta a metodologia; 5. Coleta e Análise de Dados: Realize a pesquisa bibliográfica e utilize os dados para construir argumentos, fazer definições, estabelecer comparações, contrastes, debater com autores e autoras, dar profundidade ao tratamento do seu tema; 6. Estruturação do TCC: Você já iniciou esta etapa na formulação das hipóteses ao elaborar o Projeto. Ao longo da pesquisa e da escrita, porém, sempre pode ocorrer a necessidade de alterações; 7. Escreva seu TCC: Escreva seu trabalho de forma clara, lógica e coesa, seguindo as orientações e critérios da escrita acadêmica. Lembre-se: TCC não é sermão, devocional, artigo, testemunho … TCC é um trabalho científico, acadêmico e deve respeitar as regras do gênero acadêmico. Revise cuidadosamente seu texto para eliminar erros gramaticais e de formatação. 8. Citações e Referenciação: Cite adequadamente todas as fontes utilizadas em seu trabalho, seguindo as normas de citação e referência da ABNT, utilizando o nosso Manual; 9. Apresentação para Avaliação: Finalize o seu TCC e o entregue para avaliação. ATENÇÃO – você escreverá o seu TCC seguindo as etapas já indicadas na Plataforma da FATIPI para a elaboração e entrega dos TCCs. Na Plataforma há instruções específicas para cada etapa. 3. Estrutura e Redação do TCC-Monografia Teológica Como você já viu em outros momentos desta disciplina, a estrutura de um trabalho acadêmico é relativamente simples, composta de três partes principais: introdução, desenvolvimento e conclusão. Normalmente, a introdução e a conclusão são elaboradas depois do desenvolvimento estar escrito e revisado. Ao elaborar o Projeto, você estabelecerá as hipóteses para a solução do problema proposto. Embora você tenha alguma liberdade neste 7
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL momento, é importante que você siga os critérios do gênero teologia sistemática. Um bom trabalho de Teologia Sistemática deve construir conceitos em diálogo com quatro fontes principais: (a) a Tradição exegese ou teologia bíblica; (b) a tradição Bíblia acadêmica de Confissões e Declarações de Fé, livros, artigos e demais Experiência Contexto recursos bibliográficos da Teologia Sistemática ao longo de sua história; (c) o contexto em que você escreve seu trabalho e (d) a sua experiência pessoal e ministerial. As duas primeiras fontes são normativas! A Bíblia, na tradição cristã, é reconhecida como Palavra de Deus e ela deve fornecer os dados fundamentais e normativos para a construção doutrinária e conceitual. A tradição acadêmica é normativa do ponto de vista formal, pois é nos textos produzidos no campo da Teologia Sistemática que você consegue perceber melhor os problemas, os estilos, os referenciais teóricos e similares. A tradição deve se adequar à norma bíblica – nunca o contrário! As duas últimas fontes não são normativas, são fontes para a contextualização e relevância do conteúdo do trabalho, mas não devem determinar o seu conteúdo. Quanto ao número de seções (ou capítulos) do TCC, além da Introdução e Conclusão, é comum construir o desenvolvimento do TCC em três capítulos, mas esta não é uma regra fixa. A decisão sobre a estrutura depende do problema e hipóteses – e deve, sempre, ser decidida juntamente com o Orientador ou com a Orientadora de quem escreve o TCC. Importante, porém, é que fiquem bem evidentes na argumentação e definições conceituais que o estudante usou 8
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL as fontes acima elencadas. É indispensável, ainda, a presença de citações com diálogo entre você – que escreve o TCC – e a citação. Não basta citar, é preciso mostrar a que serve a citação na sua argumentação e conceituação. Em relação à Apresentação do TCC, de acordo com as normas da ABNT, uma Monografia deve ter a seguinte apresentação: Capa Folha de Rosto Resumo (Abstract) Sumário Lista de tablas e figuras O TCC em si Introdução Desenvolvimento Conclusão ou Considerações Finais Apêndices e Anexos Referências ATENÇÃO: os elementos em itálico são opcionais. Todos os demais são obrigatórios. A escrita em si deve seguir as normas do Manual de Redação da FTSA, que sintetiza as normas da ABNT relativas aos trabalhos acadêmicos. Na Norma 14274 já referida, encontramos o seguinte auxílio visual para os elementos de apresentação do TCC: 9
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL Além do conteúdo, que deve ser claro, objetivo, profundo e bem argumentado, você deve prestar especial atenção ao uso adequado das fontes e sua documentação no TCC. O TCC demanda diálogo com a bibliografia usada, mas você não pode simplesmente usar texto de outras pessoas como se fosse ‘seu’. Para usar dados coletados na pesquisa bibliográfica você deve fazer as respectivas citações e referenciação – sempre seguindo as normas da ABNT, conforme sintetizadas em nosso Manual de Redação. O TCC-Monografia Teológica deve expressar, ao máximo possível, o seu crescimento pessoal e acadêmico no curso de Bacharelado. É um trabalho desafiador, mas ao mesmo tempo é enriquecedor e possibilita satisfação ao vermos o fruto de nosso esforço. É o seu ‘cartão de visitas’ para a comunidade acadêmica e para a instituição profissional (eclesial ou não) em que você atuará como ministra ou ministro. Assim, você deve dedicar tempo e atenção suficientes para que o TCC seja de elevada qualidade. Além disto, é claro, e 10
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL mais importante, o TCC é algo que você faz para Deus – por isso, você dará o seu melhor, para a glória de Deus e edificação do seu povo. Um detalhe fundamental: o TCC deve ser elaborado sob a supervisão de um orientador ou orientadora. Embora você tenha liberdade responsável para escrever seu trabalho, lembre-se de que é ainda estudante de graduação e não tem domínio do campo da aproveite Teologia. a Por sabedoria isso, e experiência da pessoa que lhe orienta! Ouça, aprenda, reflita e, mesmo que não você não goste do que ouvir, atenda as determinações da orientação. (Fonte Imagem: https://setec.ufmt.br/ava/esp- gespub/course/index.php?categoryid=22) Lembre-se: seu TCC será avaliado. Na FATIPI não há Banca de Defesa Pública do TCC, mas dois docentes fazem a avaliação: o orientador ou orientadora e um segundo ou segunda docente. O critério fundamental da avaliação é a qualidade formal e reflexiva do seu TCC. A avaliação não leva em consideração se quem avalia concorda ou não com o que você defende em seu TCC. Avaliadoras e avaliadores levam em conta os aspectos formais do trabalho científico – se o tema, problema e hipóteses são bem formulados. Se você usa adequadamente os recursos bibliográficos. Se a estrutura do TCC é compatível com o grau de exigência. Se a linguagem é acadêmica e respeita as normas gramaticais, se você segue as normas de elaboração e referenciação em trabalhos científicos. A avaliação será rigorosa, e talvez você tenha de refazer alguma parte do TCC, ou você pode até ter seu TCC reprovado e deverá fazer um novo. Não se preocupe com a avaliação em si – não é você quem está sendo avaliado, é o 11
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL TCC – o que está sendo avaliado é um trabalho acadêmico e apenas isso. A FATIPI não mede seu compromisso pessoal ou sua espiritualidade a partir dos seus trabalhos acadêmicos. É você, diante de Deus, que deve avaliar a si mesmo e sua conduta como estudante. Nós avaliamos o seu desempenho estudantil acadêmico. E só! 12
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL UNIDADE 2 Problema e Hipóteses: a essência do TCC Objetivos Didáticos Ao final do estudo desta Unidade de Aprendizagem, você deverá ser capaz de: 1. Definir problema e hipóteses de um TCC-Monografia; 2. Explicar a importância da problematização na elaboração do TCCMonografia; 3. Descrever o processo de problematização para o TCC-Monografia; 4. Reconhecer as finalidades da hipótese em um TCC-Monografia; 5. Usar os conteúdos aprendidos nesta UA em suas práticas de leitura e escrita acadêmicas. Preâmbulo Nós já conversamos sobre problemas e hipóteses nas UAs anteriores. Mas precisamos voltar a conversar sobre estas duas atividades fundamentais na elaboração de uma Monografia. Nosso foco, nesta Semana, recairá sobre o TCCMonografia teológico-sistemática (doravante apenas TCC). Nesta primeira Unidade retomamos a questão da problematização (construção de problemas) e, derivada dela, a questão da hipotetização (construção de hipóteses). Ambas as atividades são indispensáveis e fundamentais para a elaboração de um bom TCC. De fato, elas constituem a essência de um TCC, pois são os elementos que determinam o que será pesquisado, como será pesquisado e como será desenvolvida a estrutura e argumentação do TCC. Se olharmos para as ciências em geral, a construção de problemas e hipóteses é uma das marcas registradas da atividade científica desenvolvida no Ocidente. Sem problemas e hipóteses bem formulados não há ciência, não há pesquisa científica. Por outro lado, porém, a construção de problemas e hipóteses é uma atividade da vida cotidiana. Não é só atividade científica. Se você está 1
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL desempregado, por exemplo, uma das primeiras coisas que você faz é estabelecer o problema: “onde vou conseguir um emprego que me possibilite o sustento e a realização pessoal?” Desse problema virão as hipóteses: “(a) farei uma busca online em sites de empregos; (b) lerei a seção de anúncios em jornais; (c) conversarei com amigos e amigas pedindo informação e ajuda; (d) farei tudo isso orando, pois sem a direção divina nem adianta arrumar um emprego.” O procedimento acadêmico é idêntico ao cotidiano, com uma diferença: o grau de disciplina na coleta de dados e a necessidade de fundamentação teórica e uso adequado de metodologia derivados do campo acadêmico da pesquisa. A ciência é o senso comum disciplinado, rigoroso, argumentado, fundamentado. Já Sei mesmo? Problematizo Hipóteses Pessoalmente, já disse isto, não considero a Teologia uma ciência no sentido mais próprio da definição de ciência no mundo ocidental. Isto não quer dizer, porém, que a Teologia não demande uma atividade heurística (de busca e construção do saber) disciplinada, fundamentada, rigorosa, metodizada. Para construir saberes na Teologia dependemos, como nas ciências em geral e na vida cotidiana, de elaborar bons problemas e estabelecer boas hipóteses. Em outras palavras: para construir saber teológico você precisa problematizar 2
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL aquilo que você já sabe! Esta é uma diferença fundamental entre a atividade teológica e a vida cotidiana do senso comum nas igrejas. Na vida cotidiana só problematizamos quando algo sai fora do normal, do tradicional, do corriqueiro. É típico do ser humano fazer as coisas como estamos acostumados a fazê-las. Todavia, para construir saber, é preciso problematizar o que sabemos e fazemos. É necessário problematizar o que cremos! Não estou dizendo que tudo o que fazemos, sabemos ou cremos esteja errado. Longe disso! Problematizar não é atividade que só se faz quando há erros. Problematizamos mesmo quando não temos dúvidas a respeito do que já sabemos. Problematizamos mesmo quando consideramos correto o nosso conhecimento. Por quê? Porque ao problematizar nós possibilitamos o crescimento de nosso conhecimento e o aperfeiçoamento de nossa experiência. E se problematizamos, também estabelecemos hipóteses. Buscamos soluções, imaginamos soluções, criamos soluções. É como na vida cotidiana: decidimos o que fazer a partir de hipóteses que serão testadas. No exemplo acima, uma hipótese é a busca de empregos em sites. Você fará a busca e verificará a validade da hipótese: conseguiu ou não ofertas a serem buscadas. Na Teologia também é assim – mas no TCC há uma diferença: nossas hipóteses não costumam ser testadas empiricamente, mas documentalmente, interpretativamente. bibliograficamente, (Fonte: https://epocanegocios.globo.com/Carreira/noticia/2021/03/7-praticasmentais-para-exercitar-o-pensamento-critico.html) Bem, vamos diretamente ao ponto! 3
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL 1. Problematizando Iniciemos com uma citação: Problematizar é lançar indagações, propor articulações diversas, conectar, construir, desconstruir, tentar enxergar de uma nova maneira, e viabilizar uma série de operações que se fazem incidir sobre o material coletado e os dados apurados. Problematizar, nas suas formulações mais irredutíveis, é levantar uma questão sobre algo que se constatou empiricamente ou sobre uma realidade que se impôs ao pesquisador. Problematiza-se também, é importante lembrar, no próprio momento de constituição do objeto da pesquisa, na eleição da base de fontes que será mobilizada na investigação, e em diversos outros momentos da pesquisa. A formulação de hipóteses, no processo de investigação científica, é precisamente a segunda parte desse modo de operar inaugurado pela formulação de um problema inicial. Antes de tudo, a hipótese corresponde a uma resposta possível ao problema formulado – equivalendo a uma suposição ou solução provisória mediante à (sic) qual a imaginação se antecipa ao conhecimento, e que se destina a ser ulteriormente verificada (para ser confirmada ou rejeitada). (BARROS, José D’Assunção. As hipóteses nas ciências humanas: Aspectos metodológicos. Petrópolis: Vozes, 2017, p. 124. Edição Kindle) Façamos uma leitura analítica e crítica da citação. Primeiro, vamos decompô-la em suas partes estruturais (na exegese chamamos este procedimento de segmentação). (1) Problematizar é lançar indagações, propor articulações diversas, conectar, construir, desconstruir, tentar enxergar de uma nova maneira, e viabilizar uma série de operações que se fazem incidir sobre o material coletado e os dados apurados. (2) Problematizar, nas suas formulações mais irredutíveis, é levantar uma questão sobre algo que se constatou empiricamente ou sobre uma realidade que se impôs ao pesquisador. 4
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL (3) Problematiza-se também, é importante lembrar, no próprio momento de constituição do objeto da pesquisa, na eleição da base de fontes que será mobilizada na investigação, e em diversos outros momentos da pesquisa. Note os verbos em itálico: eles indicam a segmentação do parágrafo. Então, na citação acima, temos duas partes principais: a primeira cujo tema é a problematização e a segunda com o tema da formulação de hipóteses: (4) A formulação de hipóteses, no processo de investigação científica, é precisamente a segunda parte desse modo de operar inaugurado pela formulação de um problema inicial. (5) Antes de tudo, a hipótese corresponde a uma resposta possível ao problema formulado – equivalendo a uma suposição ou solução provisória mediante à qual a imaginação se antecipa ao conhecimento, e que se destina a ser ulteriormente verificada (para ser confirmada ou rejeitada). Problema Hipótese Solução A primeira parte possui três segmentos, enquanto a segunda possui dois. Em cada parte, encontramos definições do tema e modos de usar o tema no trabalho acadêmico. ATENÇÃO: agora é sua parte, leia, releia, interprete e reflita sobre o parágrafo citado, pensando em como utilizar estas noções em seu trabalho de elaboração do Projeto de Pesquisa do TCC. De minha parte, penso que devemos questionar o item (2) no campo da Teologia Sistemática. Embora em alguns casos seja possível que o problema 5
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL derive da experiência (algo que se constatou empiricamente), é mais comum que a realidade empírica forneça motivações para a pesquisa. A problematização, propriamente dita, dependerá da revisão bibliográfica sobre a questão levantada. Destaco, ainda, o item (3), para enfatizar o quanto é importante o processo de problematização no início da pesquisa. Passemos ao ato de construir hipóteses. 2. Hipotetizando Voltemos a dialogar com Barros. A finalidade principal da hipótese, segundo ele, deve ser assim compreendida: UMA HIPÓTESE, CONFORME VEREMOS NESTE ENSAIO, TEM POR FINALIDADE PRINCIPAL GUIAR OU MOTIVAR UMA INVESTIGAÇÃO, PROPOR RESPOSTAS POSSÍVEIS PARA UM PROBLEMA, COLOCAR O PESQUISADOR EM ESTADO DE PERTURBAÇÃO CRIADORA E EM MOVIMENTO, MOBILIZAR PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E AJUSTÁ-LOS ÀS ASSERTIVAS TEÓRICAS, AO MESMO TEMPO EM QUE PODE CONTRIBUIR PARA A PRÓPRIA RECONSTRUÇÃO DESSAS MESMAS ASSERTIVAS. A HIPÓTESE TEM POR FINALIDADE LIBERAR POTENCIALIDADES DA PESQUISA, E NÃO ENGESSÁ-LA. BARROS, JOSÉ D’ASSUNÇÃO. AS HIPÓTESES NAS CIÊNCIAS HUMANAS: ASPECTOS METODOLÓGICOS. PETRÓPOLIS: VOZES, 2017, P. 59. Alistemos as finalidades da hipótese (apesar de Barros dizer “finalidade principal”: (a) guiar ou motivar uma investigação; (b) propor respostas possíveis para um problema; (c) colocar o pesquisador em estado de perturbação criadora e em movimento; (d) mobilizar procedimentos metodológicos e ajustá-los às assertivas teóricas […]; e (e) liberar potencialidades da pesquisa e não a engessar. Destas cinco finalidades, quatro tem a ver com o próprio processo de pesquisa, enquanto uma se refere à pessoa que pesquisa. Destaco esta finalidade “colocar o pesquisador em estado de perturbação criadora e em movimento” – a hipótese é construída se a pessoa que pesquisa entra em um 6
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL estado de perturbação criadora, ou seja, levanta dúvidas e questionamento sobre algo que já sabe e se dispõe a buscar soluções – e este é o movimento – buscar soluções. Estabelecida a finalidade da hipótese, Barros a define: Pode-se dizer que a hipótese é uma asserção provisória que, longe de ser uma proposição evidente por si mesma, pode ou não ser verdadeira – e que, dentro de uma elaboração científica, deve ser necessariamente submetida a cuidadosos procedimentos de verificação e demonstração. Constitui-se em um dos elos do processo de argumentação ou investigação (na pesquisa científica ela é gerada a partir de um problema proposto e desencadeia um processo de demonstração a partir da sua enunciação). BARROS, José D’Assunção. As hipóteses nas ciências humanas: Aspectos metodológicos. Petrópolis: Vozes, 2017, p. 141 Note que a definição é dupla: (a) “Pode-se dizer que a hipótese é uma asserção provisória que, longe de ser uma proposição evidente por si mesma, pode ou não ser verdadeira – e que, dentro de uma elaboração científica, deve ser necessariamente submetida a cuidadosos procedimentos de verificação e demonstração.” Nesta primeira parte da definição são três os elementos principais, os quais destaquei em itálico. (b) “Constitui-se em um dos elos do processo de argumentação ou investigação (na pesquisa científica ela é gerada a partir de um problema proposto e desencadeia um processo de demonstração a partir da sua enunciação).” Aqui a ênfase recai sobre o papel da hipótese no processo criativo e argumentativo (é um dos elos) e o trecho em parêntese, primeiro, explica a sua formulação: é gerada a partir de um problema proposto e, depois, sua função: desencadeia um processo de demonstração a partir de sua enunciação. Em outras palavras: você está montando seu Projeto de TCC. Fez uma revisão da literatura e constatou problemas interessantes. Escolheu o mais interessante e relevante de acordo com seu ponto de vista. Agora, você proporá soluções (provisórias) para o problema selecionado, ainda a partir da revisão 7
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL bibliográfica, mas, agora, com uma disposição mais criativa e visando à elaboração da monografia que será, na prática, o resultado da verificação e demonstração das hipóteses levantadas. Podemos voltar à primeira citação de Barros (na seção sobre a problematização): antes de tudo, a hipótese corresponde a uma resposta possível ao problema formulado – equivalendo a uma suposição ou solução provisória mediante a qual a imaginação se antecipa ao conhecimento, e que se destina a ser ulteriormente verificada (para ser confirmada ou rejeitada). Gosto da seguinte frase: mediante à qual a imaginação se antecipa ao conhecimento! Não uma qualquer imaginação, um chute, um mero palpite. Mas a imaginação alimentada pela reflexão, pois é a imaginação reflexiva que constitui o raciocínio abdutivo, ou seja, o raciocínio cientificamente criativo. Imaginação TCC Reflexão 3. Exemplificando Tudo isto é bem abstrato, não é? Então vamos conduzir as definições abstratas para a realidade concreta da elaboração de problemas e hipóteses de pesquisa. Tentarei mostrar o passo a passo. Na prática, esta proposta deriva de minha pesquisa mais ampla sobre a teologia paulina e sua importância para nós na atualidade. De modo mais específico, a proposta a seguir tem sua origem em uma breve revisão bibliográfica, a partir da qual problematizo e construo 8
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL hipóteses. A partir da problematização e hipotetização, cumpro os demais passos de um Projeto de TCC. (1) Escolha do Tema e Justificativa do TCC Minha pesquisa primária é exegética, depois vem a Sistemática. Um tópico em que Teologia Bíblica e Teologia Sistemática tem se encontrado e confrontado nas últimas décadas é o da justificação por graça mediante a fé, em função da chamada Nova Perspectiva sobre Paulo. Desde o início da nova perspectiva o debate é interdisciplinar – exegese e sistemática – e propostas, contrapropostas e respostas crescem em cada um desses dois ambientes disciplinares. Tendo em vista que meu trabalho sobre este tema tem sido predominantemente exegético, considero importante retomar o tema a partir de teólogos sistemáticos. (2) Revisão Bibliográfica – para não ocupar espaço demais, não apresento aqui os dados coletados inicialmente para a elaboração do Projeto. Adiante indico as referências usadas diretamente para elaborar o Projeto. (3) Problema e Hipóteses Problema Maior: como definir justificação por graça, mediante a fé, em nosso contexto latino-americano, levando em conta o debate entre as chamadas antiga e nova perspectivas sobre Paulo e a fidelidade confessional que, no mundo reformado, demanda que a teologia reformada seja sempre uma teologia em processo de reforma? Problemas específicos: (1) quais são os valores e limites da interpretação bíblica de Gálatas e Romanos pelos reformadores e sua doutrina da justificação? (2) quais são os valores e limites da interpretação dos mesmos textos pelos adeptos da chamada nova perspectiva sobre Paulo e sua crítica à doutrina protestante clássica da justificação? (3) Levando em conta o debate já existente entre as chamadas antiga e nova perspectivas, que novos elementos podem compor um conceito atualizado de justificação por graça mediante a fé? (4) Tendo em vista que o debate é primariamente norte-atlântico, como contextualizá-lo ao mundo que sofre a dominação do Capital e ainda luta para superar o imperialismo e a colonialidade? De cada problema deriva uma hipótese: 9
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL Hipótese Maior: A justificação por graça, mediante a fé, é dom salvífico de Deus Pai, mediante a fidelidade do Messias Jesus, concretizada na vida do ser humano e da criação através da ação do Espírito Santo. O dom da justificação é o perdão, o acesso à vida eterna com Deus, o empoderamento para uma nova vida justa e cristocêntrica (que resista à dominação imperial do capital e à imposição de uma forma-de-vida capitalocêntrica), a criação de um novo povo escatológico de Deus (no qual as barreiras estruturais do pecado são rompidas) que, empoderado pelo Espírito, edifica comunidades e pessoas à semelhança da vida terrena do Messias Jesus, as quais participam integral e missionalmente da vida pública do mundo contemporâneo. Hipóteses Específicas 1. A perspectiva reformada calvinista tradicional sobre a justificação em Gálatas e Romanos a descreve como perdão de pecados e acesso à vida eterna, mediante a imputação da justiça de Cristo na pessoa pecadora, que a recebe pela fé. Apesar das críticas de alguns autores da nova perspectiva, entendo que esta descrição da doutrina e ato divino está basicamente correta. Todavia, contra alguns dos seus defensores, considero que, embora correta, a doutrina clássica, tradicional, está incompleta; 2. A nova perspectiva está basicamente correta em sua leitura de Gálatas e Romanos no tocante à questão da lei, todavia, falha em não reconhecer a dimensão de perdão e acesso à vida que os reformadores constataram em sua leitura bíblica e construção da doutrina. Sua concepção da aliança é insuficiente e precisa ser revisada; 3. É possível estabelecer um diálogo fecundo entre a nova perspectiva e a visão reformada clássica, na medida em que ambas se complementam – sendo fortes onde a outra é fraca. A nova perspectiva contribui com: (a) a noção de povo de Deus, (b) sua visão mais adequada das obras da lei em Paulo, e (c) seu novo conceito da pistis Christou – fidelidade de Cristo; e a reformada com: (a) sua noção do perdão, (b) o conceito de acesso à vida eterna, e (c)a noção de imputação da justiça de Cristo, que pode estabelecer uma ponte dialogal com o novo conceito da fidelidade de Cristo; 4. A contextualização da interpretação de Gálatas e Romanos e do conceito teológico da justificação no mundo dos dois terços e na visão crítica do processo 10
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL de descolonização, deve acrescentar e dar destaque à: (a) a libertação dos povos subalternos ao mundo norte-atlântico capitalocêntrico; (b) a centralidade da vida comunitária e missional no presente, sob o empoderamento do Espírito, como eixo da espiritualidade e visão missiológica das igrejas cristãs. (4) Objetivos 1. Reformular o conceito de justificação por graça mediante a fé, em fidelidade à tradição reformada, contextualizado para a realidade latinoamericana contemporânea; 2. Avaliar a interpretação de Gálatas e Romanos por (alguns) reformadores; 3. Avaliar a interpretação de Gálatas e Romanos na Nova Perspectiva sobre Paulo; 4. Estabelecer um diálogo crítico e construtivo entre os conceitos de justificação por graça mediante a fé dos reformadores e da Nova Perspectiva sobre Paulo; e (5) Título A Justificação por Graça mediante a Fé em Perspectiva Latino-americana, a partir do diálogo entre Reforma e Nova Perspectiva sobre Paulo (6) Método Pesquisa Bibliográfica. Leitura Crítica dos Textos a partir da Semiótica Discursiva (7) Estrutura do Trabalho Introdução (apresenta o tema, problema, hipóteses e justificativa do TCC) 1. Gl 2,15-21 e Rm 3,21-26 na interpretação de Lutero e Calvino 2. Gl 2,15-21 e Rm 3,21-26 na interpretação da Nova Perspectiva sobre Paulo 3. Um diálogo possível entre Reformadores e Nova Perspectiva sobre Paulo 4. Reformulando o conceito de justificação por graça mediante a fé Considerações Finais Referências Bibliográficas (8) Referências Bibliográficas (Apenas as usadas diretamente na elaboração do Projeto) ANDERSON, Garwood P. Paul’s New Perspective. Charting a Soteriological Journey. Downers Grove: InterVarsity Press, 2016. BEEK, Joel R.; SMALLEY, Paul M. Reformed Systematic Theology, Volume 3: Spirit and Salvation. Wheaton: Crossway, 2021. BEILBY, James K.; EDDY, Paul R. (eds.). Justification: Five Views. Downers Grove: InterVarsity Press, 2011. 11
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL BURNHOPE, Stephen. Atonement and the New Perspective. The God of Israel, Covenant, and the Cross. Eugene: Pickwick Press, 2018. CHESTER, Stephen J. Reading Paul with the reformers: reconciling old and new perspectives. Grand Rapids: Eerdmans, 2017. DUNN, James D. G. A Nova Perspectiva sobre Paulo. Santo André: Academia Cristã; São Paulo: Paulus, 2011. ______. A New Perspective on the New Perspective on Paul. Early Christianity v.4, 2013, p. 157–182. DOI 10.1628/186870313X13667164610075. FORMICKI, Leandro. A Justificação Pela Fé Nas Perspectivas Antiga E Nova. São Paulo: Reflexão, 2020. JOHNSON, Gary L. W.; WATERS, Guy P. (eds.). By Faith Alone: Answering the Challenges to the Doctrine of Justification. Wheaton: Crossway, 2006. SANDERS, Edward P. Paul and Palestinian Judaism: A Comparison of Patterns of Religion. Minneapolis: Fortress Press, 1997. VAN DRIEL, Edwin C. Rethinking Paul: Protestant Theology and Pauline Exegesis. Cambridge: Cambridge University Press, 2021. WRIGHT, Nicholas T. Paul: In Fresh Perspective. Minneapolis: Augsburg Fortress Press, 2005. ______. Justification: God’s Plan and Paul Vision. Downers Grove: InterVarsity Press, 2009. Conclusão Bem, chegamos ao final desta UA. Note que o exemplo apresentado é de um Projeto de maior alcance do que um TCC-Monografia. O seu próprio Projeto pode (e deve) ser mais simples e menos abrangente. Um exemplo completo, porém, mostra o alcance de um Projeto de Pesquisa visando a elaboração de um texto acadêmico. Serve para estimular e desafiar você a dar os primeiros passos, reconhecer que está dando os primeiros passos e se preparar para dar passos mais longos e empreender jornadas mais amplas e desafiadoras. Só para lembrar: problemas e hipóteses fazem parte da vida cotidiana! 12
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL UNIDADE 2 Problema e Hipóteses: a essência do TCC Objetivos Didáticos Ao final do estudo desta Unidade de Aprendizagem, você deverá ser capaz de: 1. Definir problema e hipóteses de um TCC-Monografia; 2. Explicar a importância da problematização na elaboração do TCCMonografia; 3. Descrever o processo de problematização para o TCC-Monografia; 4. Reconhecer as finalidades da hipótese em um TCC-Monografia; 5. Usar os conteúdos aprendidos nesta UA em suas práticas de leitura e escrita acadêmicas. Preâmbulo Nós já conversamos sobre problemas e hipóteses nas UAs anteriores. Mas precisamos voltar a conversar sobre estas duas atividades fundamentais na elaboração de uma Monografia. Nosso foco, nesta Semana, recairá sobre o TCCMonografia teológico-sistemática (doravante apenas TCC). Nesta primeira Unidade retomamos a questão da problematização (construção de problemas) e, derivada dela, a questão da hipotetização (construção de hipóteses). Ambas as atividades são indispensáveis e fundamentais para a elaboração de um bom TCC. De fato, elas constituem a essência de um TCC, pois são os elementos que determinam o que será pesquisado, como será pesquisado e como será desenvolvida a estrutura e argumentação do TCC. Se olharmos para as ciências em geral, a construção de problemas e hipóteses é uma das marcas registradas da atividade científica desenvolvida no Ocidente. Sem problemas e hipóteses bem formulados não há ciência, não há pesquisa científica. Por outro lado, porém, a construção de problemas e hipóteses é uma atividade da vida cotidiana. Não é só atividade científica. Se você está 1
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL desempregado, por exemplo, uma das primeiras coisas que você faz é estabelecer o problema: “onde vou conseguir um emprego que me possibilite o sustento e a realização pessoal?” Desse problema virão as hipóteses: “(a) farei uma busca online em sites de empregos; (b) lerei a seção de anúncios em jornais; (c) conversarei com amigos e amigas pedindo informação e ajuda; (d) farei tudo isso orando, pois sem a direção divina nem adianta arrumar um emprego.” O procedimento acadêmico é idêntico ao cotidiano, com uma diferença: o grau de disciplina na coleta de dados e a necessidade de fundamentação teórica e uso adequado de metodologia derivados do campo acadêmico da pesquisa. A ciência é o senso comum disciplinado, rigoroso, argumentado, fundamentado. Já Sei mesmo? Problematizo Hipóteses Pessoalmente, já disse isto, não considero a Teologia uma ciência no sentido mais próprio da definição de ciência no mundo ocidental. Isto não quer dizer, porém, que a Teologia não demande uma atividade heurística (de busca e construção do saber) disciplinada, fundamentada, rigorosa, metodizada. Para construir saberes na Teologia dependemos, como nas ciências em geral e na vida cotidiana, de elaborar bons problemas e estabelecer boas hipóteses. Em outras palavras: para construir saber teológico você precisa problematizar 2
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL aquilo que você já sabe! Esta é uma diferença fundamental entre a atividade teológica e a vida cotidiana do senso comum nas igrejas. Na vida cotidiana só problematizamos quando algo sai fora do normal, do tradicional, do corriqueiro. É típico do ser humano fazer as coisas como estamos acostumados a fazê-las. Todavia, para construir saber, é preciso problematizar o que sabemos e fazemos. É necessário problematizar o que cremos! Não estou dizendo que tudo o que fazemos, sabemos ou cremos esteja errado. Longe disso! Problematizar não é atividade que só se faz quando há erros. Problematizamos mesmo quando não temos dúvidas a respeito do que já sabemos. Problematizamos mesmo quando consideramos correto o nosso conhecimento. Por quê? Porque ao problematizar nós possibilitamos o crescimento de nosso conhecimento e o aperfeiçoamento de nossa experiência. E se problematizamos, também estabelecemos hipóteses. Buscamos soluções, imaginamos soluções, criamos soluções. É como na vida cotidiana: decidimos o que fazer a partir de hipóteses que serão testadas. No exemplo acima, uma hipótese é a busca de empregos em sites. Você fará a busca e verificará a validade da hipótese: conseguiu ou não ofertas a serem buscadas. Na Teologia também é assim – mas no TCC há uma diferença: nossas hipóteses não costumam ser testadas empiricamente, mas documentalmente, interpretativamente. bibliograficamente, (Fonte: https://epocanegocios.globo.com/Carreira/noticia/2021/03/7-praticasmentais-para-exercitar-o-pensamento-critico.html) Bem, vamos diretamente ao ponto! 3
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL 1. Problematizando Iniciemos com uma citação: Problematizar é lançar indagações, propor articulações diversas, conectar, construir, desconstruir, tentar enxergar de uma nova maneira, e viabilizar uma série de operações que se fazem incidir sobre o material coletado e os dados apurados. Problematizar, nas suas formulações mais irredutíveis, é levantar uma questão sobre algo que se constatou empiricamente ou sobre uma realidade que se impôs ao pesquisador. Problematiza-se também, é importante lembrar, no próprio momento de constituição do objeto da pesquisa, na eleição da base de fontes que será mobilizada na investigação, e em diversos outros momentos da pesquisa. A formulação de hipóteses, no processo de investigação científica, é precisamente a segunda parte desse modo de operar inaugurado pela formulação de um problema inicial. Antes de tudo, a hipótese corresponde a uma resposta possível ao problema formulado – equivalendo a uma suposição ou solução provisória mediante à (sic) qual a imaginação se antecipa ao conhecimento, e que se destina a ser ulteriormente verificada (para ser confirmada ou rejeitada). (BARROS, José D’Assunção. As hipóteses nas ciências humanas: Aspectos metodológicos. Petrópolis: Vozes, 2017, p. 124. Edição Kindle) Façamos uma leitura analítica e crítica da citação. Primeiro, vamos decompô-la em suas partes estruturais (na exegese chamamos este procedimento de segmentação). (1) Problematizar é lançar indagações, propor articulações diversas, conectar, construir, desconstruir, tentar enxergar de uma nova maneira, e viabilizar uma série de operações que se fazem incidir sobre o material coletado e os dados apurados. (2) Problematizar, nas suas formulações mais irredutíveis, é levantar uma questão sobre algo que se constatou empiricamente ou sobre uma realidade que se impôs ao pesquisador. 4
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL (3) Problematiza-se também, é importante lembrar, no próprio momento de constituição do objeto da pesquisa, na eleição da base de fontes que será mobilizada na investigação, e em diversos outros momentos da pesquisa. Note os verbos em itálico: eles indicam a segmentação do parágrafo. Então, na citação acima, temos duas partes principais: a primeira cujo tema é a problematização e a segunda com o tema da formulação de hipóteses: (4) A formulação de hipóteses, no processo de investigação científica, é precisamente a segunda parte desse modo de operar inaugurado pela formulação de um problema inicial. (5) Antes de tudo, a hipótese corresponde a uma resposta possível ao problema formulado – equivalendo a uma suposição ou solução provisória mediante à qual a imaginação se antecipa ao conhecimento, e que se destina a ser ulteriormente verificada (para ser confirmada ou rejeitada). Problema Hipótese Solução A primeira parte possui três segmentos, enquanto a segunda possui dois. Em cada parte, encontramos definições do tema e modos de usar o tema no trabalho acadêmico. ATENÇÃO: agora é sua parte, leia, releia, interprete e reflita sobre o parágrafo citado, pensando em como utilizar estas noções em seu trabalho de elaboração do Projeto de Pesquisa do TCC. De minha parte, penso que devemos questionar o item (2) no campo da Teologia Sistemática. Embora em alguns casos seja possível que o problema 5
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL derive da experiência (algo que se constatou empiricamente), é mais comum que a realidade empírica forneça motivações para a pesquisa. A problematização, propriamente dita, dependerá da revisão bibliográfica sobre a questão levantada. Destaco, ainda, o item (3), para enfatizar o quanto é importante o processo de problematização no início da pesquisa. Passemos ao ato de construir hipóteses. 2. Hipotetizando Voltemos a dialogar com Barros. A finalidade principal da hipótese, segundo ele, deve ser assim compreendida: UMA HIPÓTESE, CONFORME VEREMOS NESTE ENSAIO, TEM POR FINALIDADE PRINCIPAL GUIAR OU MOTIVAR UMA INVESTIGAÇÃO, PROPOR RESPOSTAS POSSÍVEIS PARA UM PROBLEMA, COLOCAR O PESQUISADOR EM ESTADO DE PERTURBAÇÃO CRIADORA E EM MOVIMENTO, MOBILIZAR PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS E AJUSTÁ-LOS ÀS ASSERTIVAS TEÓRICAS, AO MESMO TEMPO EM QUE PODE CONTRIBUIR PARA A PRÓPRIA RECONSTRUÇÃO DESSAS MESMAS ASSERTIVAS. A HIPÓTESE TEM POR FINALIDADE LIBERAR POTENCIALIDADES DA PESQUISA, E NÃO ENGESSÁ-LA. BARROS, JOSÉ D’ASSUNÇÃO. AS HIPÓTESES NAS CIÊNCIAS HUMANAS: ASPECTOS METODOLÓGICOS. PETRÓPOLIS: VOZES, 2017, P. 59. Alistemos as finalidades da hipótese (apesar de Barros dizer “finalidade principal”: (a) guiar ou motivar uma investigação; (b) propor respostas possíveis para um problema; (c) colocar o pesquisador em estado de perturbação criadora e em movimento; (d) mobilizar procedimentos metodológicos e ajustá-los às assertivas teóricas […]; e (e) liberar potencialidades da pesquisa e não a engessar. Destas cinco finalidades, quatro tem a ver com o próprio processo de pesquisa, enquanto uma se refere à pessoa que pesquisa. Destaco esta finalidade “colocar o pesquisador em estado de perturbação criadora e em movimento” – a hipótese é construída se a pessoa que pesquisa entra em um 6
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL estado de perturbação criadora, ou seja, levanta dúvidas e questionamento sobre algo que já sabe e se dispõe a buscar soluções – e este é o movimento – buscar soluções. Estabelecida a finalidade da hipótese, Barros a define: Pode-se dizer que a hipótese é uma asserção provisória que, longe de ser uma proposição evidente por si mesma, pode ou não ser verdadeira – e que, dentro de uma elaboração científica, deve ser necessariamente submetida a cuidadosos procedimentos de verificação e demonstração. Constitui-se em um dos elos do processo de argumentação ou investigação (na pesquisa científica ela é gerada a partir de um problema proposto e desencadeia um processo de demonstração a partir da sua enunciação). BARROS, José D’Assunção. As hipóteses nas ciências humanas: Aspectos metodológicos. Petrópolis: Vozes, 2017, p. 141 Note que a definição é dupla: (a) “Pode-se dizer que a hipótese é uma asserção provisória que, longe de ser uma proposição evidente por si mesma, pode ou não ser verdadeira – e que, dentro de uma elaboração científica, deve ser necessariamente submetida a cuidadosos procedimentos de verificação e demonstração.” Nesta primeira parte da definição são três os elementos principais, os quais destaquei em itálico. (b) “Constitui-se em um dos elos do processo de argumentação ou investigação (na pesquisa científica ela é gerada a partir de um problema proposto e desencadeia um processo de demonstração a partir da sua enunciação).” Aqui a ênfase recai sobre o papel da hipótese no processo criativo e argumentativo (é um dos elos) e o trecho em parêntese, primeiro, explica a sua formulação: é gerada a partir de um problema proposto e, depois, sua função: desencadeia um processo de demonstração a partir de sua enunciação. Em outras palavras: você está montando seu Projeto de TCC. Fez uma revisão da literatura e constatou problemas interessantes. Escolheu o mais interessante e relevante de acordo com seu ponto de vista. Agora, você proporá soluções (provisórias) para o problema selecionado, ainda a partir da revisão 7
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL bibliográfica, mas, agora, com uma disposição mais criativa e visando à elaboração da monografia que será, na prática, o resultado da verificação e demonstração das hipóteses levantadas. Podemos voltar à primeira citação de Barros (na seção sobre a problematização): antes de tudo, a hipótese corresponde a uma resposta possível ao problema formulado – equivalendo a uma suposição ou solução provisória mediante a qual a imaginação se antecipa ao conhecimento, e que se destina a ser ulteriormente verificada (para ser confirmada ou rejeitada). Gosto da seguinte frase: mediante à qual a imaginação se antecipa ao conhecimento! Não uma qualquer imaginação, um chute, um mero palpite. Mas a imaginação alimentada pela reflexão, pois é a imaginação reflexiva que constitui o raciocínio abdutivo, ou seja, o raciocínio cientificamente criativo. Imaginação TCC Reflexão 3. Exemplificando Tudo isto é bem abstrato, não é? Então vamos conduzir as definições abstratas para a realidade concreta da elaboração de problemas e hipóteses de pesquisa. Tentarei mostrar o passo a passo. Na prática, esta proposta deriva de minha pesquisa mais ampla sobre a teologia paulina e sua importância para nós na atualidade. De modo mais específico, a proposta a seguir tem sua origem em uma breve revisão bibliográfica, a partir da qual problematizo e construo 8
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL hipóteses. A partir da problematização e hipotetização, cumpro os demais passos de um Projeto de TCC. (1) Escolha do Tema e Justificativa do TCC Minha pesquisa primária é exegética, depois vem a Sistemática. Um tópico em que Teologia Bíblica e Teologia Sistemática tem se encontrado e confrontado nas últimas décadas é o da justificação por graça mediante a fé, em função da chamada Nova Perspectiva sobre Paulo. Desde o início da nova perspectiva o debate é interdisciplinar – exegese e sistemática – e propostas, contrapropostas e respostas crescem em cada um desses dois ambientes disciplinares. Tendo em vista que meu trabalho sobre este tema tem sido predominantemente exegético, considero importante retomar o tema a partir de teólogos sistemáticos. (2) Revisão Bibliográfica – para não ocupar espaço demais, não apresento aqui os dados coletados inicialmente para a elaboração do Projeto. Adiante indico as referências usadas diretamente para elaborar o Projeto. (3) Problema e Hipóteses Problema Maior: como definir justificação por graça, mediante a fé, em nosso contexto latino-americano, levando em conta o debate entre as chamadas antiga e nova perspectivas sobre Paulo e a fidelidade confessional que, no mundo reformado, demanda que a teologia reformada seja sempre uma teologia em processo de reforma? Problemas específicos: (1) quais são os valores e limites da interpretação bíblica de Gálatas e Romanos pelos reformadores e sua doutrina da justificação? (2) quais são os valores e limites da interpretação dos mesmos textos pelos adeptos da chamada nova perspectiva sobre Paulo e sua crítica à doutrina protestante clássica da justificação? (3) Levando em conta o debate já existente entre as chamadas antiga e nova perspectivas, que novos elementos podem compor um conceito atualizado de justificação por graça mediante a fé? (4) Tendo em vista que o debate é primariamente norte-atlântico, como contextualizá-lo ao mundo que sofre a dominação do Capital e ainda luta para superar o imperialismo e a colonialidade? De cada problema deriva uma hipótese: 9
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL Hipótese Maior: A justificação por graça, mediante a fé, é dom salvífico de Deus Pai, mediante a fidelidade do Messias Jesus, concretizada na vida do ser humano e da criação através da ação do Espírito Santo. O dom da justificação é o perdão, o acesso à vida eterna com Deus, o empoderamento para uma nova vida justa e cristocêntrica (que resista à dominação imperial do capital e à imposição de uma forma-de-vida capitalocêntrica), a criação de um novo povo escatológico de Deus (no qual as barreiras estruturais do pecado são rompidas) que, empoderado pelo Espírito, edifica comunidades e pessoas à semelhança da vida terrena do Messias Jesus, as quais participam integral e missionalmente da vida pública do mundo contemporâneo. Hipóteses Específicas 1. A perspectiva reformada calvinista tradicional sobre a justificação em Gálatas e Romanos a descreve como perdão de pecados e acesso à vida eterna, mediante a imputação da justiça de Cristo na pessoa pecadora, que a recebe pela fé. Apesar das críticas de alguns autores da nova perspectiva, entendo que esta descrição da doutrina e ato divino está basicamente correta. Todavia, contra alguns dos seus defensores, considero que, embora correta, a doutrina clássica, tradicional, está incompleta; 2. A nova perspectiva está basicamente correta em sua leitura de Gálatas e Romanos no tocante à questão da lei, todavia, falha em não reconhecer a dimensão de perdão e acesso à vida que os reformadores constataram em sua leitura bíblica e construção da doutrina. Sua concepção da aliança é insuficiente e precisa ser revisada; 3. É possível estabelecer um diálogo fecundo entre a nova perspectiva e a visão reformada clássica, na medida em que ambas se complementam – sendo fortes onde a outra é fraca. A nova perspectiva contribui com: (a) a noção de povo de Deus, (b) sua visão mais adequada das obras da lei em Paulo, e (c) seu novo conceito da pistis Christou – fidelidade de Cristo; e a reformada com: (a) sua noção do perdão, (b) o conceito de acesso à vida eterna, e (c)a noção de imputação da justiça de Cristo, que pode estabelecer uma ponte dialogal com o novo conceito da fidelidade de Cristo; 4. A contextualização da interpretação de Gálatas e Romanos e do conceito teológico da justificação no mundo dos dois terços e na visão crítica do processo 10
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL de descolonização, deve acrescentar e dar destaque à: (a) a libertação dos povos subalternos ao mundo norte-atlântico capitalocêntrico; (b) a centralidade da vida comunitária e missional no presente, sob o empoderamento do Espírito, como eixo da espiritualidade e visão missiológica das igrejas cristãs. (4) Objetivos 1. Reformular o conceito de justificação por graça mediante a fé, em fidelidade à tradição reformada, contextualizado para a realidade latinoamericana contemporânea; 2. Avaliar a interpretação de Gálatas e Romanos por (alguns) reformadores; 3. Avaliar a interpretação de Gálatas e Romanos na Nova Perspectiva sobre Paulo; 4. Estabelecer um diálogo crítico e construtivo entre os conceitos de justificação por graça mediante a fé dos reformadores e da Nova Perspectiva sobre Paulo; e (5) Título A Justificação por Graça mediante a Fé em Perspectiva Latino-americana, a partir do diálogo entre Reforma e Nova Perspectiva sobre Paulo (6) Método Pesquisa Bibliográfica. Leitura Crítica dos Textos a partir da Semiótica Discursiva (7) Estrutura do Trabalho Introdução (apresenta o tema, problema, hipóteses e justificativa do TCC) 1. Gl 2,15-21 e Rm 3,21-26 na interpretação de Lutero e Calvino 2. Gl 2,15-21 e Rm 3,21-26 na interpretação da Nova Perspectiva sobre Paulo 3. Um diálogo possível entre Reformadores e Nova Perspectiva sobre Paulo 4. Reformulando o conceito de justificação por graça mediante a fé Considerações Finais Referências Bibliográficas (8) Referências Bibliográficas (Apenas as usadas diretamente na elaboração do Projeto) ANDERSON, Garwood P. Paul’s New Perspective. Charting a Soteriological Journey. Downers Grove: InterVarsity Press, 2016. BEEK, Joel R.; SMALLEY, Paul M. Reformed Systematic Theology, Volume 3: Spirit and Salvation. Wheaton: Crossway, 2021. BEILBY, James K.; EDDY, Paul R. (eds.). Justification: Five Views. Downers Grove: InterVarsity Press, 2011. 11
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL BURNHOPE, Stephen. Atonement and the New Perspective. The God of Israel, Covenant, and the Cross. Eugene: Pickwick Press, 2018. CHESTER, Stephen J. Reading Paul with the reformers: reconciling old and new perspectives. Grand Rapids: Eerdmans, 2017. DUNN, James D. G. A Nova Perspectiva sobre Paulo. Santo André: Academia Cristã; São Paulo: Paulus, 2011. ______. A New Perspective on the New Perspective on Paul. Early Christianity v.4, 2013, p. 157–182. DOI 10.1628/186870313X13667164610075. FORMICKI, Leandro. A Justificação Pela Fé Nas Perspectivas Antiga E Nova. São Paulo: Reflexão, 2020. JOHNSON, Gary L. W.; WATERS, Guy P. (eds.). By Faith Alone: Answering the Challenges to the Doctrine of Justification. Wheaton: Crossway, 2006. SANDERS, Edward P. Paul and Palestinian Judaism: A Comparison of Patterns of Religion. Minneapolis: Fortress Press, 1997. VAN DRIEL, Edwin C. Rethinking Paul: Protestant Theology and Pauline Exegesis. Cambridge: Cambridge University Press, 2021. WRIGHT, Nicholas T. Paul: In Fresh Perspective. Minneapolis: Augsburg Fortress Press, 2005. ______. Justification: God’s Plan and Paul Vision. Downers Grove: InterVarsity Press, 2009. Conclusão Bem, chegamos ao final desta UA. Note que o exemplo apresentado é de um Projeto de maior alcance do que um TCC-Monografia. O seu próprio Projeto pode (e deve) ser mais simples e menos abrangente. Um exemplo completo, porém, mostra o alcance de um Projeto de Pesquisa visando a elaboração de um texto acadêmico. Serve para estimular e desafiar você a dar os primeiros passos, reconhecer que está dando os primeiros passos e se preparar para dar passos mais longos e empreender jornadas mais amplas e desafiadoras. Só para lembrar: problemas e hipóteses fazem parte da vida cotidiana! 12
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL Unidade 3 Utilizando Bibliografia e Recursos da Pesquisa Objetivos Didáticos Ao final do estudo desta Unidade de Aprendizagem, você deverá ser capaz de: 1. Definir pesquisa bibliográfica como método para elaboração do TCC; 2. Diferenciar os tipos principais de fontes bibliográficas em função do TCC; 3. Explicar os critérios para a seleção de fontes confiáveis para o seu TCC; 4. Integrar recursos digitais com fontes tradicionais, como bases de dados online e bibliotecas digitais, para uma pesquisa teológica abrangente e atualizada; 5. Descrever os critérios éticos imprescindíveis na pesquisa teológica; 6. Usar os conteúdos aprendidos nesta UA em suas práticas de leitura e redação acadêmicas. Preâmbulo Bem-vindo à UA ‘Utilizando Bibliografia e Recursos da Pesquisa’. Nesta unidade, iniciaremos uma jornada pelo universo dos recursos bibliográficos para a produção de seu TCC-Monografia Teológica. Nosso objetivo é introduzi-lo às técnicas de pesquisa bibliográfica, alinhando-nos aos mais elevados padrões acadêmicos. Nós já vimos, em outra Semana, que a utilização correta da bibliografia teológica é fundamental, pois ela constitui a base de todo estudo sério em teologia. Oferecendo um rico contexto histórico e cultural, ela também orienta nossa compreensão das diversas interpretações da fé cristã. Nesta UA, você aprenderá a discernir e selecionar fontes relevantes para o seu TCC-Monografia Teológica, ou seja, conversaremos sobre recursos bibliográficos mais específicos para a Teologia Sistemática. Da mesma forma, na era digital, é crucial saber integrar recursos digitais com fontes tradicionais. Exploraremos o uso de bases de dados online, bibliotecas digitais e outras ferramentas tecnológicas, em conjunto com textos clássicos e contemporâneos. Desenvolver essa habilidade é essencial para uma pesquisa teológica abrangente e atualizada. 1
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL Outro aspecto importante diz respeito à ética na pesquisa teológica, a qual transcende o mero cumprimento de normas acadêmicas. Envolve uma reflexão profunda sobre o impacto de nossas pesquisas na compreensão da fé e sua aplicação prática. Enfatizaremos a integridade, o respeito por fontes e autores, e a necessidade de uma reflexão ética contínua durante o processo de pesquisa. Ao concluir esta unidade, você terá iniciado a desenvolver habilidades essenciais para a pesquisa bibliográfica em teologia. Isso inclui a capacidade de avaliar criticamente diferentes fontes, integrar conhecimentos de maneira inovadora e aplicar seus aprendizados de forma ética. Estamos animados para acompanhá-lo/a nesta jornada de descoberta e crescimento. Deus o/a abençoe! ATENÇÃO! Especificamos o campo da Teologia Sistemática para o TCCMonografia Teológica na FATIPI. Entendemos Teologia Sistemática, porém, à luz de autores contemporâneos, como Jürgen Moltmann, por exemplo, que sistematiza os conceitos teológicos sempre em diálogo com a teologia bíblica, com a realidade contemporânea (o que se chamaria hoje em dia de teologia pública), sem descuidar do que é próprio da Teologia Sistemática em sua formatação clássica. Mas estudaremos com mais detalhes este tópico nas disciplinas de Teologia Sistemática, a partir do segundo ano do curso. 1. Introdução à pesquisa em Teologia Sistemática A Teologia Sistemática se configura como o estudo das doutrinas, confissões de fé e dogmas da fé cristã. Na história da formação teológica ocidental moderna, ela se distingue da Teologia Bíblica (cujo foco primário é a reconstrução exegética e histórico-teológica dos textos bíblicos) e da Teologia Prática (cujo foco primário é a reflexão sobre as práticas eclesiais, eclesiásticas e missionárias). Todavia, como já mencionamos, a Teologia Sistemática contemporânea não se utiliza destas distinções de modo radical. O termo sistemática é determinante para compreendermos este campo da Teologia. Obras de Teologia Sistemática se 2
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL caracterizam por construir conceitos teológicos e organizá-los em uma perspectiva coesa e coerente, utilizando-se de diversas fontes: (a) a Bíblia (mediada pela Teologia Bíblica); (b) a Tradição, ou seja, o pensamento cristão consolidado em Credos, Confissões, Catecismos e obras de Teologia Sistemática (ou Dogmática) propriamente ditas, ao longo da história das Igrejas; (c) os saberes provindos de outras ciências – tradicionalmente a Sistemática se fazia em diálogo com a Filosofia, na atualidade, é mais multidisciplinar em sus diálogos; e (d) a experiência pessoal da pessoa que a escreve, inserida na vivência de sua igreja local e denominação. Bíblia Tradição Ciências Experiência Especializada na construção de conceitos, a pesquisa teológica sistemática busca compreender, explicar e contextualizar a fé, integrando-a às perspectivas históricas e culturais, tornando-se essencial para o desenvolvimento acadêmico e para a vida das igrejas e comunidades cristãs. Esta breve descrição mostra que na elaboração da Teologia Sistemática é preciso unir saberes provenientes de diferentes fontes, de modo que a pesquisa bibliográfica a ser feita deve, também, ser abrangente e multidisciplinar. Mas, atenção, como estamos falando de um TCC de Bacharelado em Teologia, você não 3
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL precisa construir um conhecimento ‘original’, que manifeste a multidisciplinaridade da pesquisa que envolve a elaboração da Teologia Sistemática. A sua pesquisa pode se restringir a obras mais específicas do próprio campo da Teologia Sistemática, utilizando com menor frequência fontes dos demais campos com os quais a Sistemática dialoga. 2. Pesquisa bibliográfica 2.1 Que é? A pesquisa bibliográfica, especialmente relevante no âmbito acadêmico, se notabiliza pela sua capacidade de atualizar e aperfeiçoar o conhecimento. Isso é alcançado por meio de uma análise criteriosa de obras previamente publicadas. Vejamos algumas descrições do método. De acordo com Andrade: A pesquisa bibliográfica é habilidade fundamental nos cursos de graduação, uma vez que constitui o primeiro passo para todas as atividades acadêmicas. Uma pesquisa de laboratório ou de campo implica, necessariamente, a pesquisa bibliográfica preliminar. Seminários, painéis, debates, resumos críticos, monográficas não dispensam a pesquisa bibliográfica. Ela é obrigatória nas pesquisas exploratórias, na delimitação do tema de um trabalho ou pesquisa, no desenvolvimento do assunto, nas citações, na apresentação das conclusões. Portanto, se é verdade que nem todos os alunos realizarão pesquisas de laboratório ou de campo, não é menos verdadeiro que todos, sem exceção, para elaborar os diversos trabalhos solicitados, deverão empreender pesquisas bibliográficas (ANDRADE, 2010, p.25). Segundo Fonseca (2002), a pesquisa bibliográfica é realizada: […] a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico iniciase com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem, porém, pesquisas científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a resposta (FONSECA, 2002, p. 32). Para Eva Lakatos e Marina Marconi: A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de 4
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico etc., até meios de comunicação orais: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filmes e televisão. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferências seguidas de debates que tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicadas, quer gravadas. (LAKATOS; MARCONI, 2005, p. 183) Você já deve ter percebido que, apesar do termo pesquisa bibliográfica, as fontes de consulta não se restringem a livros (biblos¸em grego), nem a materiais impressos, mas abrangem todos os suportes materiais de comunicação existentes na atualidade. Por isso, é preciso tomar cuidado com a abrangência do levantamento de fontes! Em primeiro lugar, você deve restringir a busca dentro dos parâmetros da Teologia Sistemática. Em segundo lugar, você precisa restringir o levantamento a materiais acadêmicos – o uso de fontes de outros campos (literatura, jornalismo, informação em geral etc.) só é legítimo na medida em que servir na argumentação de um aspecto específico, mas não deve formar a base do seu trabalho. Em terceiro lugar, você deve restringir o número de fontes de acordo com o problema da pesquisa, de acordo com o tamanho do TCC e de acordo com o prazo para sua elaboração. Localizar Aqui a eficiência é o que conta. Definida a abrangência da pesquisa, use a Biblioteca (física e irtual) da FATIPI e a internet Selecionar Atualmente há inúmeras fontes, por isso é preciso ser criteriooso na seleção das fontes. Dica: consulte seu orientador ou orientadora … Utilizar ‘Leia’ adequada e criticamente as fontes, sempre a partir do tema, problema e hipóteses do seu TCC 5
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL O sucesso da pesquisa bibliográfica reside na habilidade do estudante em dominar a leitura crítica e na capacidade de sistematizar o conhecimento obtido a partir de teorias já estabelecidas. Neste processo, é fundamental que o pesquisador se empenhe em uma leitura detalhada e uma reflexão aprofundada, além de elaborar textos sobre o conteúdo examinado. Tal dedicação não se limita apenas a reexaminar as conclusões e teorias já existentes, mas também a enriquecer o campo do saber e os seus alicerces teóricos. Consequentemente, três habilidades são indispensáveis para a realização da pesquisa bibliográfica: localizar, selecionar e utilizar criticamente as fontes. A pesquisa bibliográfica se destaca por suas vantagens notáveis, incluindo a redução de custos. Essa economia se deve, em grande parte, à conveniência proporcionada pela internet, que elimina a necessidade de deslocamentos físicos do estudante para acessar estudos científicos, oferecendo uma vasta gama de pesquisas disponíveis online. Em suma, a pesquisa bibliográfica emerge como um elemento indispensável e multifacetado acadêmico, no campo especialmente na teologia. É a pedra angular que permite aos estudantes uma imersão profunda em seu campo de estudo, fornecendo um alicerce robusto sobre o qual novas ideias e perspectivas podem ser construídas. Ao combinar o acesso facilitado a uma rica variedade de fontes com a necessidade de uma análise crítica e sistemática, a pesquisa bibliográfica não só capacita os estudantes a aprofundarem seu conhecimento existente, mas também os instiga a questionar e expandir as fronteiras da compreensão teológica. Dessa forma, ela se estabelece como uma ferramenta crucial, moldando não apenas os estudiosos do 6
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL presente, mas também pavimentando o caminho para novas descobertas do futuro no estudo da teologia. (Fonte da Imagem: Microsoft Word) 2.2 Fontes Permitam-me focar em materiais propriamente bibliográficos. Os recursos empregados na execução da pesquisa bibliográfica incluem uma variedade de fontes escritas já publicadas, tais como livros, artigos científicos, teses, dissertações, anuários, revistas, legislações, entre outros tipos de documentos escritos. Vejamos a importância de algumas delas. Livros Artigos Dissertações e Teses Artigos científicos, publicados em periódicos especializados, oferecem perspectivas atualizadas e focadas em temas teológicos específicos, desempenhando um papel crucial no entendimento das tendências atuais e novas interpretações na teologia. Plataformas como SciELO – Brasil (https://www.scielo.br/), Google Acadêmico (https://scholar.google.com/) e o Portal de Periódicos da CAPES (https://www-periodicos-capes-gov-br.ezl.periodicos.capes.gov.br/index.php?), juntamente com bibliotecas de instituições teológicas renomadas, são recursos valiosos para acessá-los. Livros acadêmicos, diferenciados das obras devocionais, fornecem análises rigorosas e fundamentadas em pesquisas profundas, cruciais para um estudo 7
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL teológico abrangente. Editoras como Pendão Real, CPAD, Cultura Cristã, Edições Loyola, Edições Vida Nova, Fonte Editorial, Recriar, Thomas Nelson Brasil, Garimpo Editorial, Saber Criativo, Sinodal, Paulus e Vozes (entre outras) são notáveis por suas publicações teológicas acadêmicas. Compêndios Dicionários Histórias Por fim, as teses e dissertações, representando o avanço no conhecimento e na pesquisa teológica, são essenciais para a inovação e aprofundamento no campo. Uma tese de doutorado ou dissertação de mestrado em teologia envolve geralmente pesquisa original, trazendo novas perspectivas e interpretações, fundamentais para o desenvolvimento da reflexão teológica, desafiando o conhecimento estabelecido e propondo novas abordagens. A Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (https://bdtd.ibict.br/vufind/) é a principal fonte de pesquisa deste tipo de fontes bibliográficas. As Universidades e Faculdades costumam, também, disponibilizar seus próprios Bancos de Dissertações e Teses, de modo que estudantes de Teologia podem procurar esses Bancos de Dados em escolas que tenham programas de Mestrado e/ou Doutorado (no campo da Teologia, são várias instituições, e você pode encontrá-las no site da Associação Nacional de Pós Graduação e Pesquisa em Teologia e Ciências da Religião – ANPTECRE (https://anptecre.org.br/) A pesquisa bibliográfica deve utilizar fontes confiáveis. Na graduação, você pode começar com compêndios de Teologia Sistemática. Esses compêndios, ao longo da história das igrejas, representam as sínteses acadêmicas da reflexão sobre as fontes doutrinárias/confessionais de cada denominação ou conjunto de denominações e instituições vinculadas a uma determinada tradição eclesiástica. 8
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL Assim, você deve se informar, primeiro, da procedência confessional da obra selecionada para determinar como utilizá-la. As obras de Teologia Sistemática são úteis, também, como orientação para o acesso a Credos e Confissões de Fé específicas – materiais primários indispensáveis na construção do saber teológicosistemático. Dicionários (ou Enciclopédias) de Teologia e obras sobre a História do pensamento cristão são fontes auxiliares importantes na construção da visão geral sobre o tema e na identificação de linhas e correntes teológicas específicas. Artigos, teses e dissertações representam o estado-de-arte da pesquisa em um dado momento e local. Enquanto os compêndios representam saberes já consolidados, estas fontes mostram o que se está pesquisando e que tendências passam a predominar no campo acadêmico. Na graduação, sempre devem vir depois dos compêndios e outras obras já consolidadas. UMA PECULIARIDADE: Alguns estudantes do Bacharelado da FATIPI são candidatos oficiais ao ministério na IPI do Brasil. Esses candidatos oficiais devem cumprir uma série de requisitos estabelecidos na legislação da IPIB sobre o acesso e a prática ministeriais. Entre esses requisitos, candidatos oficiais devem apresentar aos seus Presbitérios os seus dois TCCs, que serão lidos com vistas à verificação da adequada confessionalidade do estudante. Ademais, todo candidato oficial deverá realizar um exame de doutrina no Presbitério, previamente à sua Licenciatura ao ministério ordenado. Assim, candidatos e candidatas oficiais da IPIB devem tomar cuidado especial em seus TCCs, levando em conta as exigências da Igreja para a sua licenciatura e ordenação ministerial. 3. TCC, Confessionalidade e Correntes Teológicas A FATIPI é, confessionalmente, Reformada e, eclesiasticamente, uma instituição da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil. Como tal, ela sempre busca ser fiel à tradição reformada em sentido amplo e à confessionalidade da nossa denominação. Uma característica importante da tradição reformada é o respeito à pluralidade teológica e confessional. As Igrejas da tradição Reformada não são obrigadas a aderir a uma única Confissão de Fé e, ainda que definam uma Confissão como a norteadora de sua doutrina, sabem que acima das Confissões está a Palavra 9
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL de Deus. Sabem que as Confissões não são verdade inspirada por Deus, mas produto da reflexão, experiência e discussão de igrejas localizadas em contextos específicos. Precisam ser interpretadas e avaliadas criticamente à luz da Palavra e dos novos contextos em que vive a Igreja. E essa pluralidade é, em grande medida, igualmente presente nas grandes tradições do Cristianismo (ainda que algumas Igrejas sejam confessionais em um sentido mais restrito: uma única Confissão de Fé é reconhecida como a fonte da ortodoxia). No Bacharelado da FATIPI temos estudantes de várias denominações. Respeitaremos a confessionalidade de todo o corpo discente. Estudantes pentecostais, por exemplo, poderão escrever seu TCC usando prioritariamente fontes teológicas pentecostais. Pedimos, porém, que as fontes da tradição reformada não sejam esquecidas, mas entrem na pesquisa e façam parte do diálogo acadêmico. Voltemos a falar sobre pluralidade. Exemplifico a partir da tradição reformada, mas em outras confessionalidades há situações similares. Ademais, há obras de Teologia Sistemática que são tão importantes como fonte de pesquisa que transcendem os limites confessionais e deveriam ser consideradas por todo estudante de Teologia. Em linguagem do senso comum se costuma dizer que há textos ortodoxos (aqueles com os quais a pessoa concorda ou considera pertencer à ortodoxia confessional) e liberais (aqueles dos quais se discorda ou se considera heréticos em relação à ortodoxia confessional). Esta distinção do senso comum, porém, é inadequada e insustentável. Por quê? Um exemplo: liberal é o título de uma corrente teológica existente em várias denominações no final do século XIX e boa parte da primeira metade do século XX. Então, a palavra liberal de acordo com o senso comum não se aplica a uma corrente teológica como, por exemplo, a teologia dialética ou neo-ortodoxia reformada – de autores como Karl Barth, Emil Brunner e outros. De fato, a chamada neo-ortodoxia recebeu esse título exatamente porque se opôs à teologia liberal propriamente dita. Ademais, a variedade de correntes teológicas é ampla e não pode ser adequadamente classificada se usarmos apenas essas duas classes avaliativas. Na 10
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL tradição Reformada, ainda como exemplo, há diferentes tendências teológicas: clássica (seguindo Calvino e as primeiras fontes da teologia reformada), a puritana, a neo-calvinista, a neo-ortodoxa, a conservadora, a fundamentalista, a progressista, a reformacional, teologias feministas reformadas, correntes ecumênicas, correntes evangelicais e outras. Muita vez, o rótulo de ortodoxo ou liberal é apenas uma forma de classificar a tendência de uma pessoa, presbitério ou denominação como a única ortodoxia e todas as demais como ‘liberais’. Insistimos: na avaliação de seu TCCMonografia Teológica não usaremos esse tipo de classificação como critério. Um cuidado especial, então, que todo estudante de Teologia deve tomar na pesquisa bibliográfica para elaborar seu TCC é não confundir o trabalho acadêmico com a doutrina e confessionalidade da sua Igreja. Obras na área da Teologia Sistemática não são textos com autoridade para decidir questões doutrinárias na Igreja. Monografias de graduação, em especial, são textos que visam demonstrar o aprendizado de estudantes no conjunto do curso, mostrar as suas habilidades de leitura e redação de textos acadêmicos, testemunhar acerca da relação entre sua vida pessoal-ministerial e o estudo do Bacharelado. Assim, a avaliação de TCCs na FATIPI não leva primariamente em conta a opção do estudante por esta ou aquela corrente teológica. Avaliamos primariamente o uso das habilidades acadêmicas necessárias para produzir bons textos. 3. Ética na Pesquisa Teológica A ética na pesquisa teológica transcende a mera adesão a princípios; ela se configura como uma prática vital que influencia todos os aspectos da investigação. É fundamental garantir a atribuição adequada de créditos e desenvolver argumentações que sejam equitativas e bem fundamentadas, abrangendo as várias perspectivas teológicas. Um elemento crucial na ética teológica é a reflexão ética contínua. Este processo envolve um compromisso persistente com o entendimento e o respeito pelas diferentes tradições religiosas e culturais, tais como as correntes reformadas e pentecostais. Fomenta-se, assim, um diálogo interdenominacional e intercultural, que contribui para a redução da polarização e o aumento da compreensão mútua. O 11
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL diálogo, não custa nada lembrar, não significa abandono da própria confessionalidade ou corrente teológica – significa, sim, a abertura para o aprendizado e é uma das formas mediante as quais amamos o próximo como a nós mesmos. Além disso, a integridade acadêmica representa um pilar essencial na pesquisa teológica. Isso implica um compromisso com a honestidade em todas as etapas da pesquisa, desde a coleta até a publicação dos dados. A precisão e a autenticidade na manipulação dos dados coletados são cruciais para assegurar a confiabilidade das interpretações e análises. Assim, interpretações honestas e robustamente fundamentadas são indispensáveis para consolidar o respeito e a credibilidade na área da teologia. Em suma, a ética na pesquisa teológica é um compromisso contínuo com a integridade, o respeito e o diálogo construtivo, essenciais para a evolução e o enriquecimento do campo teológico. Considerações finais À medida que encerramos esta jornada de exploração na teologia, reiteramos a importância de uma pesquisa aprofundada, ética e respeitosa. A busca pelo conhecimento teológico, ancorada em uma sólida base bibliográfica e conduzida com integridade, não só enriquece nossa compreensão da fé, mas também nos impulsiona a contribuir significativamente para o diálogo teológico contemporâneo. Agradecemos por sua dedicação e compromisso com este campo de estudo e esperamos que as habilidades e perspectivas adquiridas aqui iluminem seu caminho. Que o seu caminho de aprendizado continue a ser frutífero e direcionado à glória de Deus e edificação do Seu povo! Referências ANDRADE, Maria Margarida. Introdução à metodologia do trabalho científico: elaboração de trabalhos na graduação. São Paulo, SP: Atlas, 2010. FONSECA, João José Saraiva da. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do Trabalho Científico: procedimentos básicos, pesquisa bibliográfica, projetos e relatórios. São Paulo: Atlas, 2005. 12
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL Unidade 4 – Tema, Título e Estruturação Objetivos Didáticos Ao final do estudo desta Unidade de Aprendizagem, você deverá ser capaz de: 1. Explicar o que caracteriza o tema de uma Monografia de Conclusão de Curso; 2. Diferenciar entre tópico (assunto) e tema de Monografia de Conclusão de Curso; 3. Descreva os 4 passos necessários para formular o tema de uma Monografia de Conclusão de Curso; 4. Especificar a função do título em uma Monografia de Conclusão de Curso; 5. Explicar por que o Sumário é a espinha dorsal de uma Monografia de Conclusão de Curso; 6. Reconhecer e Diferenciar os dois modos de organização do Sumário apresentados nesta UA; 7. Explicar as três etapas essenciais da organização e elaboração dos capítulos de uma Monografia de Conclusão de Curso; 8. Usar os conteúdos aprendidos nesta UA para organizar e planejar a sua atividade como estudante do Bacharelado em Teologia da FATIPI. Preâmbulo Sejam todas e todos muito bem-vindas e bem-vindos à UA 4 de nosso último Módulo da disciplina Pesquisa e Redação Acadêmica. Damos continuidade ao nosso estudo do TCC-Monografia Teológica, com o foco em três dos componentes fundamentais do trabalho: tema, título e estruturação. Nosso objetivo primordial é desenvolver uma compreensão profunda das práticas envolvidas na sistematização da pesquisa científica, transformando o complexo processo de pesquisa em um percurso claro e gerenciável. A seguir, desdobraremos estes três elementos, fornecendo orientações práticas e insights valiosos que o ajudarão a navegar pelo processo de redação do TCC com 1
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL confiança e habilidade. Prepare-se para aprimorar suas técnicas de pesquisa e redação, e para transformar suas ideias em textos acadêmicos de excelência. 1. Definindo o Tema de seu TCC No início de qualquer pesquisa acadêmica, a escolha do tema é um passo fundamental que requer uma reflexão aprofundada. Esta escolha não só estabelece a direção do estudo, mas também reflete o interesse e a paixão do pesquisador pelo assunto. O tema é a base da problematização – ele deve despertar curiosidade e engajamento, criando uma conexão pessoal com a questão a ser investigada. Neste estágio, estamos lidando com o escopo amplo do trabalho, explorando questões gerais. A questão central que orienta a definição do tema é: “Qual?” – “Qual é o foco principal deste estudo?” No campo da Teologia Sistemática, por exemplo, os temas são vastos e variados. Digamos que um estudante decida abordar a questão da Salvação em Cristo Jesus, adentrando no território da Soteriologia. Esse é o ponto de partida, ou o tópico. O tema, propriamente dito, já deve passar por uma delimitação, para ficar mais específico e viável como tema de uma monografia. Antônio Joaquim Severino nos oferece insights valiosos sobre a escolha do tema: Em outras palavras, o tema deve ser problematizado. Toda argumentação, todo raciocínio desenvolvido num trabalho logicamente construído é uma demonstração que visa solucionar determinado problema. A gênese dessa problemática dar-se-á pela reflexão surgida por ocasião das leituras, dos debates, das experiências, da aprendizagem, enfim da vivência intelectual no meio do estudo universitário e no ambiente científico cultural. (SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico 22ª Edição. São Paulo: Cortez, 2002; p. 75) 2
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL Para desenvolver um trabalho acadêmico de sucesso, é crucial ter uma compreensão clara do problema a ser abordado e da questão a ser esclarecida. Então, vejamos: se você optou por um tópico da Soteriologia, deve selecionar um dos temas desse amplo tópico. Alguns dos temas gerais da Soteriologia, por exemplo, são: a justificação pela fé; a reconciliação com Deus, a adoção filial; o arrependimento, a fé, a graça de Deus e assim por diante. DELIMITAR É REFINAR E ESPECIFICAR EXATAMENTE O QUE SERÁ EXPLORADO NO TRABALHO. ESSA PRECISÃO É CRUCIAL, POIS, EMBORA UM TEMA POSSA INICIALMENTE PARECER ABRANGENTE E MULTIFACETADO, É A DELIMITAÇÃO QUE O TORNA GERENCIÁVEL E FOCADO. Para que o tópico seja transformado em tema, como indicado na citação acima, você precisa problematizá-lo. Note o processo para problematizar e definir o tema. 1. A escolha do tema começa, como vimos, com o tópico geral; 2. O segundo passo é a primeira delimitação para tópicos mais específicos; 3. A seguir, você – baseado na revisão bibliográfica sobre o tema – fará a problematização do tema; 4. Enfim, você formulará o problema. Embora não seja impossível formular o problema de outro modo, o ideal é que ele seja sempre formulado como pergunta, interrogação. Exemplos: (1) Tópico Geral: Soteriologia Primeira Delimitação: Justificação pela fé Problematização: A imputação da justiça de Cristo é um fator indispensável da doutrina da justificação pela fé? Tema: (a) pode ser a própria pergunta-problema; ou (b) A imputação da justiça de Cristo na Justificação pela Fé. 3
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL (2) Tópico Geral: Eclesiologia Primeira Delimitação: A natureza da igreja Problematização: Em que consiste a natureza da Igreja, a partir do Credo dos Apóstolos, que a define como una, santa, católica e apostólica, relido à luz da tradição Reformada? Tema: (a) pode ser a própria pergunta-problema; ou (b) As Quatro Marcas da Natureza da Igreja na Tradição Reformada em diálogo com o Credo dos Apóstolos. Tópico Delimitação Problematização (3) Tópico Geral: Eclesiologia Primeira Delimitação: A Diaconia como prática missional Problematização: Em que consiste a ação diaconal enquanto prática missional da Igreja local? Tema: (a) pode ser a própria pergunta-problema; ou (b) A Diaconia como Prática Missional da Igreja Local. O segundo passo, que estudaremos a seguir, envolve a formulação do título, marcando a transição para uma fase de apresentação do TCC. 4
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL 2. Elaborando o Título do seu TCC Ao elaborar o Projeto do TCC você já deve indicar o título de seu trabalho. É importante notar, porém, que esse primeiro título pode ainda ser modificado durante a pesquisa. Na verdade, muitas vezes, ele se revela e se aprimora à medida que a pesquisa progride e se aprofunda. Essa abordagem permite que o título reflita com precisão o conteúdo do trabalho, contribuindo também para a relevância e a clareza da pesquisa. Para a elaboração do título, GROSSER sugere uma reflexão estratégica, considerando não apenas a precisão do conteúdo, mas também a facilidade com que o trabalho será encontrado em buscas bibliográficas. Isso implica em escolher palavras-chave relevantes e descritivas, que não só resumam o foco do estudo, mas também o conectem com consultas e pesquisas relacionadas no campo acadêmico. Assim, o título se torna uma ferramenta poderosa, não apenas como representação do trabalho, mas também como um ponto de conexão com a comunidade acadêmica e os interessados no assunto: O enunciado do título deve descrever o trabalho e incluir as palavras-chaves que permitem indexação e recuperação automáticas. O título deve informar o fenômeno ou objeto estudado, circunstâncias e/ou condições em que foi desenvolvido o estudo e, se possível, local e época de sua realização (GROSSER, Lori Alice. Introdução à pesquisa: projetos e relatórios. São Paulo: Loyola, 2004; p. 216) Orientações básicas sobre o título do trabalho: É fundamental manter o título conciso e direto. Títulos muito extensos podem confundir ou sobrecarregar o leitor, obscurecendo o foco principal do trabalho. Uma estratégia eficiente é estruturar o título em duas partes, separadas por dois pontos, para combinar clareza e detalhamento. Por exemplo, ao invés de um título longo e complexo, opte por algo como “Salvação 5
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL em Cristo Jesus: Uma Análise Segundo o Evangelho de Marcos”. Esse formato ajuda a manter o título informativo e ao mesmo tempo acessível. Lembre-se de que, na apresentação do TCC, o título não deve terminar com um ponto final. Ele não é uma frase completa, mas sim um rótulo que identifica o conteúdo do seu trabalho de forma sucinta e precisa. O título é a primeira impressão que o leitor terá do seu trabalho; portanto, ele deve ser cuidadosamente pensado para garantir que essa primeira impressão seja clara e convidativa. Aproveitando os exemplos do segmento anterior, façamos a experimentação de alguns títulos possíveis. (1) Problematização: A imputação da justiça de Cristo é um fator indispensável da doutrina da justificação pela fé? Tema: (a) pode ser a própria pergunta-problema; ou (b) A imputação da justiça de Cristo na Justificação pela Fé. Títulos: (a) A Imputação da Justiça de Cristo como passo integrante da doutrina da Justificação pela fé; (b) A Imputação da Justiça de Cristo: uma análise crítica da proposta de João Calvino; (c) A Imputação da Justiça de Cristo e a Nova Perspectiva Paulina. (2) Problematização: Em que consiste a natureza da Igreja, a partir do Credo dos Apóstolos, que a define como una, santa, católica e apostólica, relido à luz da tradição Reformada? Tema: (a) pode ser a própria pergunta-problema; ou (b) As Quatro Marcas da Natureza da Igreja na Tradição Reformada em diálogo com o Credo dos Apóstolos. Títulos: (a) A Natureza da Igreja: Una, Santa, Católica, Apostólica; (b) Em que Consiste a Natureza da Igreja: Um diálogo entre o Credo dos Apóstolos e a Tradição Reformada; (c) As Quatro Marcas da Igreja: A natureza da Igreja na perspectiva de Jürgen Moltmann 6
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL (3) Problematização: Em que consiste a ação diaconal enquanto prática missional da Igreja local? Tema: (a) pode ser a própria pergunta-problema; ou (b) A Diaconia como Prática Missional da Igreja Local. Títulos: (a) A ação diaconal é prática missional da Igreja Local?; (b) Diaconia e Igreja Missional: Uma avaliação crítica dos Conceitos; (c) Preparando a Igreja Missional para a Prática da Diaconia. Você deve ter reparado que alguns dos títulos sugeridos já foram além da descrição do problema e tema. Ora, uma vez que na elaboração do Projeto você faz a revisão bibliográfica, novos elementos podem ter surgido e você pode indicar uma direção mais específica ainda para o seu TCC. 3. Estruturando o seu TCC 3.1. Que é Estruturação? Neste passo, o foco é a concepção de um sumário detalhado do seu trabalho. O sumário é a espinha dorsal do seu projeto, e nele você começará delineando o sumário, seguido pela definição dos capítulos, partes e seções que comporão a estrutura do seu trabalho. Esta etapa é crucial, pois proporciona uma visão clara da trajetória que seu estudo seguirá, permitindo uma organização lógica e sistemática das ideias. (Fonte: https://depositphotos.com/br/photos/espinha-dorsal.html) Martins e Lintz nos auxiliam quanto a organização estrutural do trabalho: 7
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL Ao definir os capítulos provisórios, você esclarece para você mesmo o que tem em mente. Com o sumário inicial, você poderá discutir seu projeto com seus professores e colegas e também (sic!) certificar-se, ou não, de que está no caminho correto. (MARTINS e LINTZ; Gilberto de Andrade e Alexandre. Guia de elaboração de monografias e trabalhos de conclusão de curso. São Paulo: Atlas, 2000; p. 31). Assim como os aspectos anteriores, o Sumário apresentado no Projeto de TCC ainda pode sofrer alterações ao longo da realização da pesquisa. Todavia, se você fez uma boa revisão bibliográfica para elaborar o Projeto, provavelmente não precisará fazer alterações significativas em seu Sumário proposto. 3.2. Dicas para elaboração do Sumário do TCC-Monografia Teológica 3.2.1. Uma Estrutura Tríplice Disciplinar Há pelo menos duas formas práticas de você elaborar o Sumário de seu TCC. A primeira, é seguir uma estrutura tríplice, construída a partir das fontes e do propósito da reflexão teológica: a base bíblica, a reflexão sistemática, a viabilidade prática. Bíblica Sistemática Prática Alguns exemplos, baseados na reflexão desta UA, e seguindo a Norma ABNT NBR 6027 de 2012: 8
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL (a) Título: Preparando a Igreja Missional para a Prática da Diaconia Sumário: 1 INTRODUÇÃO 2 A DIACONIA COMO AÇÃO MISSIONAL NO EVANGELHO DE MARCOS 2.1 A Diaconia de Jesus em Marcos 2.2 A Vocação Missional da Igreja em Marcos 3 A DIACONIA COMO AÇÃO MISSIONAL NA TRADIÇÃO REFORMADA 3.1 A Missão da Igreja nas Institutas de João Calvino 3.2 A Missão da Igreja na Teologia de Jürgen Moltmann 3.3 É Válido falar em Igreja Missional a partir de Calvino e Moltmann? 4 A PRÁTICA DA DIACONIA NA IGREJA LOCAL 4.1 Diaconato e Diaconia: diferenciando e relacionando 4.2 Preparação a Igreja Local para a Diaconia Missional 4.3 A Diaconia na Ação Missional da Igreja Local 5 CONCLUSÃO REFERÊNCIAS (b) Título: A Natureza da Igreja: Una, Santa, Católica, Apostólica Sumário: 1 INTRODUÇÃO 2 AS MARCAS DA IGREJA EM O NOVO TESTAMENTO 2.1 As Marcas da Igreja em Atos 2,42-47 2.2 As Marcas da Igreja em Efésios 4,1-6 3 AS MARCAS DA IGREJA NA TEOLOGIA REFORMADA 3.1 A Essência Espiritual da Igreja na Dogmática Reformada de Herman Bavinck 3.2 As Marcas da Igreja na Teologia Sistemática de Louis Berkhof 3.3 As Marcas da Igreja em A Igreja no Poder do Espírito, de Jürgen Moltmann 9
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL 4 AS MARCAS DA IGREJA E A MISSÃO DO POVO DE DEUS 4.1 Construindo a Unidade da Igreja 4.2 Edificando a Igreja para a Santidade 4.3 Afirmando a Catolicidade da Igreja 4.4 Vivendo a Apostolicidade da Igreja 5 CONCLUSÃO REFERÊNCIAS 3.2.2. Uma Estrutura Temática A segunda forma mais comum de estruturação de um TCC-Monografia Teológica é a tópica ou temática, seguindo a lógica do tema escolhido e sua problematização. Neste caso, você deve estar atento ao fato de que, para cada capítulo definido, você deve apresentar argumentação e conceituação bíblica, sistemática e prática. Bíblica Bíblica Sistemática Sistemática Prática Prática Bíblica Sistemática Prática Vejamos os exemplos. (a) Título: Preparando a Igreja Missional para a Prática da Diaconia Sumário: 1 INTRODUÇÃO 10
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL 2 QUE É IGREJA MISSIONAL 2.1 Missionária ou Missional? 2.2 Igreja Missional cumpre a Grande Comissão (Mt 28,16-20) 2.3 Igreja Missional se insere na Missio Dei 3 DIACONIA COMO ATIVIDADE MISSIONAL 3.1 A Diaconia de Jesus e a Missão da Igreja 3.2 A Diaconia da Igreja Missional 4 PREPARANDO A IGREJA MISSIONAL PARA A DIACONIA 4.1 Discipulando a Igreja para a Diaconia Missional 4.2 Formando a Liderança Diaconal da Igreja Missional 4.3 Estruturando a Ação Diaconal da Igreja Missional 5 CONCLUSÃO REFERÊNCIAS (b) Título: A Natureza da Igreja: Una, Santa, Católica, Apostólica Sumário: 1 INTRODUÇÃO 2 A UNIDADE DA IGFREJA 2.1 Unidade na Escritura (Efésios 4,1-6) 2.2 Unidade na Visão de Moltmann 3 A SANTIDADE DA IGREJA 3.1 Santidade na Escritura (Efésios 5,1-22) 3.2 Santidade na Visão de Moltmann 4 A CATOLICIDADE APOSTÓLICA DA IGREJA 4.1 A Catolicidade é Fruto da Apostolicidade 4.2 A Igreja Enviada ao Mundo (Mt 28,16-20) 4.3 A Igreja Una é Católica e Apostólica (João 17) 5 CONCLUSÃO REFERÊNCIAS 11
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL 4. Do Sumário ao Texto do TCC Com o sumário já delineado, estamos preparados para iniciar a elaboração dos capítulos, utilizando as anotações e insights obtidos durante a pesquisa bibliográfica. Neste estágio, selecionamos e integramos os trechos previamente destacados, organizando-os de forma coerente com o tema em discussão. O processo envolve mais do que simplesmente copiar e colar; é um trabalho cuidadoso de seleção, adaptação e contextualização das citações dentro do fluxo lógico do nosso trabalho. Após organizar e incorporar as citações de forma criteriosa: Agora, é preciso costurar o material de cada capítulo. Inicie essa tarefa pelo capítulo que você entende como o mais promissor e, gradativamente, complete com os demais. Da riqueza de seus apontamentos dependerá a qualidade do conteúdo de cada capítulo. Se os apontamentos estiverem pobres, retorne a suas fontes e levante mais ideias. (MARTINS e LINTZ; Gilberto de Andrade e Alexandre. Guia de elaboração de monografias e trabalhos de conclusão de curso. São Paulo: Atlas, 2000; p.33) A construção lógica dos capítulos é fundamental para o desenvolvimento do trabalho, exigindo um equilíbrio entre raciocínio lógico e criatividade. Esta etapa é crucial para articular de forma clara a interpretação da realidade estudada, enfatizando a pesquisa realizada. A estruturação dos capítulos se desdobra em três etapas essenciais: explicação, discussão e demonstração. A) Explicação: Nesta fase, buscamos esclarecer e simplificar conceitos que podem parecer obscuros ou complexos, tornando o conteúdo acessível e compreensível. B) Discussão: Aqui, examinamos as várias afirmações e possibilidades, analisando-as criticamente para construir uma síntese coesa e fundamentada. 12
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL C) Demonstração: Esta é a fase em que apresentamos nossa proposta ou argumentação de maneira lógica e racional, visando a conduzir o leitor a uma compreensão clara e conclusiva do estudo. Conclusão Ao finalizar este percurso metodológico pela arte da redação acadêmica, compreendemos que cada etapa, meticulosamente delineada, contribui singularmente para a integridade e a profundidade de um trabalho científico. Desde a seleção do tema até a elaboração e produção do texto, cada passo reflete um compromisso com a excelência acadêmica, exigindo uma combinação de rigor analítico, criatividade intelectual e precisão linguística. Por meio deste guia, abordamos a importância de uma escolha de tema bem fundamentada, a arte de delimitar e formular um título impactante, a habilidade de identificar problemas e e articular hipóteses de forma clara, a necessidade de estabelecer objetivos precisos e significativos, a meticulosidade na seleção de uma base bibliográfica robusta e diversificada, a destreza em organizar logicamente a estrutura do trabalho, e a maestria na articulação de ideias através de uma redação coesa e eloquente. (Fonte: https://www.facebook.com/photo/?fbid=206001921784460&set=pb.10007123 9609217.-2207520000&locale=pt_BR) Este processo não apenas enriquece o conhecimento individual, mas também contribui para o avanço do conhecimento coletivo, permitindo que 13
FACULDADE DE TEOLOGIA DE SÃO PAULO DA IGREJA PRESBITERIANA INDEPENDENTE DO BRASIL novas ideias e perspectivas sejam compartilhadas e discutidas na comunidade acadêmica. Portanto, a redação acadêmica não é apenas uma tarefa acadêmica, mas uma jornada de aprendizado contínuo, descoberta e expressão, pavimentando o caminho para futuras investigações e contribuições significativas no mundo acadêmico. Como nos ensinam as palavras de Severino, a metodologia do trabalho científico é uma jornada contínua de aprimoramento e inovação, moldando não apenas o resultado do trabalho, mas também o próprio pesquisador, em sua busca incessante por conhecimento, compreensão e expressão. Assim, ao nos despedirmos deste guia, reiteramos a importância de abraçar cada etapa da jornada acadêmica com curiosidade, dedicação e integridade. Referências GROSSER, Lori Alice. Introdução à pesquisa: projetos e relatórios. São Paulo: Loyola, 2004, 2ª. edição. MARTINS e LINTZ; Gilberto de Andrade e Alexandre. Guia de elaboração de monografias e trabalhos de conclusão de curso. São Paulo: Atlas, 2000. MEDEIROS, João Bosco. Redação Científica: a prática de fichamentos, resumos, resenhas. São Paulo: Atlas, 2012, 11ª. edição. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Cortez, 2002, 22ª. edição. 14